O Velhinho, o Bossa-Nova e o Cara

Campanha eleitoral não se ganha com a razão. O que define o jogo é a emoção – mais óbvio, impossível. Aquilo que move o eleitor até a urna é o que lhe toca o coração, a alma. Poucos – menos ainda – são os que decidem o voto após a avaliação detalhada de cada candidato, histórico etc. Se o pretendente ao poder não tiver o tal  “carisma” é melhor desistir no meio do caminho, antes da frustração final. 

O grande segredo, entretanto, daqueles que tornaram indeléveis suas passagens pela presidência da República foi saber usar a emoção do eleitor-cidadão como a matéria prima dos seus governos – não apenas das respectivas campanhas. De todos os presidentes do Brasil, três são incomparáveis na popularidade: Getúlio Vargas, JK e Lula. Ou: o Velhinho, o Bossa-Nova e o Cara. 

Eles tornaram-se imortais – Lula em pleno exercício da presidência – porque foram além da razão no comando da Nação. Getúlio montou as bases da indústria nacional; criou a CLT, o salário mínimo e a Justiça do Trabalho – entre tantas outras obras. Mas fazia melhor: irradiava permanentemente a sua simpatia para  brasileiros e brasileiras. É bem verdade: não rompeu com a aristocracia rural e atrasada do Brasil que comandou e deixou muito sangue nos porões da sua ditadura.

JK, pai de Brasília, trouxe um momento novo para o povo brasileiro, de otimismo, de modernidade com a indústria automobilística; foi o presidente da nossa primeira Copa do Mundo; era o mestre do charme e do bom-gosto (inclusive com as namoradas que colecionou). Maior mérito: nunca perdeu o contato com aqueles que o tinham como grande líder de um novo país. É bem verdade, pagamos caro, até hoje, pelo modelo de transporte – rodoviário – que ele adotou para o país. Sem esquecer que a construção de Brasília foi o pós-doutorado em corrupção das nascentes e crescentes empreiteiras de então – e de hoje, também.

Lula foi mais longe. É, entre todos os presidentes brasileiros, o que conquistou maior prestígio internacional. Internamente, bateu os recordes de popularidade. A distribuição de renda que vem realizando – sem nada tirar dos muito ricos – o torna quase uma entidade sobrenatural. Bradou a palavra de ordem: “Comprem, consumam!” – em 20, 30 vezes, não importa:  ele foi aonde estava o desejo de uma imensa maioria de excluídos. Mas o seu poder de comunicação com as massas – e não apenas com os mais pobres -, este é insuperável. É bem verdade, os serviços públicos de saúde, educação e segurança continuam tão ruins quanto sempre. Acesa está a chama da emoção. 

Deixam – os três – uma lição para quem quer, no futuro, figurar entre as principais personalidades da História do Brasil (o que serve para qualquer país): o grande dirigente não precisa realizar obras monumentais, fazer transformações radicais, mas deve tocar, sempre, o coração daqueles a quem governa – como nas campanhas eleitorais. Esta pode ser a diferença entre chegar aos céus ou queimar no fogo do inferno da memória popular.

Se isso é fazer o melhor? Aí já é outra história.