A cena é inesquecível: em pleno Trapichão, aquele homem minúsculo batia o recorde mundial de cem metros rasos sem sabê-lo. Era o Caximbau, que acabara de atingir com seu intrumento de trabalho, a bandeirinha, o temido presidente do CSA: Dagoberto Calheiros. Ficou na história do futebol alagoano, o Caximba (Rubens Cerqueira, para os íntimos)-, mais do que isso, ficou no coração de tantos de nós.

A estrutura esquálida, estatura de quem odiava as alturas – quase chapliniano – , não deixava pistas sobre o tamanho da generosidade que carregava. Era um homem para o mundo, que distribuía o pouco que tinha com quem tivesse menos do que ele – era só pedir que levava. Além do que, trazia com ele um humor quase infantil, mas infalível quando aparecia. Nas tensas assembléias do Sindicato dos Jornalistas, uma careta ou um chiste daquele homenzinho de bigode fino acabava qualquer bronca.

Seria o meu primeiro Congresso Nacional dos Jornalistas. O ano: 1980; a cidade: Brasília. Já no aeroporto, Caximbau combinou comigo: queria que ficássemos no mesmo apartamento. Na verdade, pretendia livrar-se da dupla Jurandir Queiroz e Teófilo Lins, "porque eles vão fazer a maior bagunça no hotel. Vão tomar a bedida deles e depois vão querer a dos outros colegas, indo de quarto em quarto". Anunciado e feito. Cumprido o combinado, na portaria do hotel pedimos para ficar juntos. É verdade que pouco nos víamos, por conta da programação do Congresso, com várias comissões diferentes, e por causa da programação noturna. Eu, bem mais novo que o Caximbau, fui descobrir ares e lugares não vividos.

No dia em que retornamos para Maceió, com o fim do encontro, eu cheguei por volta das cinco da manhã ao hotel. Cansado da noitada no Clube de Imprensa, em Brasília, já encontrei no apartamento um Caximbau banhado, vestido para a viagem – que só aconteceria algumas horas depois – e olhando pela janela em direção ao infinito. Olhar perdido, sabia-se lá o porquê.

Eu queria algumas horas de descanso antes do vôo de volta, mas Caximbau, sem se voltar para mim, começou a falar compulsiva e pausadamente. "Que noite extraordinária!", abriu a o monólogo."Eu fui para um bar aqui perto e pedi logo uma bebida. Uma morena, assim em frente, me olhou e perguntou se  podia se aproximar. Eu disse que sim. Bebemos um pouco, mas eu não gostei da corversa dela." Continuei acompanhando, meio adormecido, meio alerta, o relato:
-Fui pra outro bar, mais pra frente. Quando sentei na mesa, logo vi uma galegona bonita, com dois seios enormes. Ela sorriu e veio falar comigo. Foi paixão à primeira vista. Com pouco tempo, ela perguntou se eu queria ir pro apartamento dela, e eu: "na hora!" Fui no carro dela, a galega dirigindo pra mim.

A essa altura, eu já estava de olhos tesos, interessado na história de Cinderela vivida pelo Caximba. Ele tocou em frente: "À meia-luz, no apartamento, ela me serviu uma dose e disse que ia se ajeitar. Menino, que se ajeitar era aquele? Veio de camisola transparente, preta, aí eu já tava doidinho. O resto da noite foi uma felicidade só. O diabo…" Parou no meio da frase. Esperou um pouco, desviou, enfim, o olhar lá do horizonte onde, parece, buscava a amada daquela noite, e já completou mirando em mim:
– …O diabo é que ela não me deixou dinheiro nem mesmo pra um cafezinho.

 

 

 

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  • Luciano Aguiar

    O nosso ricolchete CAXIMBAU corria feito uma bala. A galera de nossa casa tinha serias suspeitas de sua paixão pelo CSA e sempre tinhamos duvidas de sua arbitragem nos clasicos(CRBXCSA). O lendario CAXIMBAU fazia uma dupla cômica com CASTANHA, lembra? que saudade meu DEUS da queles tempos.

  • Cadu Epifanio

    Rico e suas histórias. Nós ávidos pelo seu conhecimento esperamos apenas uma obra definitiva sua. Faz uma coletânea, rapaz. Assim como sobre os meandros da politicagem caétes através dos anos…Tenta!

  • sérgio

    Sem dúvida o Caximbau faz parte da melhor história do futebol e do jornalismo alagoano. Simples e verdadeiro como deve ser todo homem de bem.

  • marcelo firmino

    Maravilha, Pena! O velho e bom Caximbau foi um sobrevivente no futebol (se não corre) e no jornalismo (uma penca de filhos e um salário…). Homem de boa índole, solidario e valente. Vez em quando queria brigar com Márcio Canuto, na Gazeta, por causa das pautas. Valeu a lembrança.

  • Jorge Coutinho

    Parabéns Ricardo, pela sua sensibilidade em resgatar a memória deste ilustre personagem do futebol alagoano. Tenho a honra de dizer que Caximbau foi meu professor na escola de árbitros, na década de 80.

  • pedro casado de farias filho

    Caximbau abnegado e honesto Relembrar é viver e aposto que voce em breve irá escrever um livro sobre a história do nosso futebol. Vivenciamos bons tempos quando juiz e jogador exerciam seu trabalho com entusiasmo e abnegação.

  • Frederico Farias

    E por falar em Caximbau, relembrei, agora, de um outro ilustre árbitro alagoano, o saudoso e imparcial Manoel Amaro. Lembra dele?

  • AAraujosilva

    Bem lembrado!Gen. Fred Traça. Dos dois, Caximbau e Mané Amaro, qual deles era o juíz que torcia e destorcia mais pelo CSA ? O folclórico Caximbau, fazia suas peripécias azulinas com arte, humor. Já, Mané Amaro, o imparcial, dava muita raiva quando de suas recaídas azulinas. Bons tempos…

  • joao carlos de almeida uchoa

    Sem falar que caximbau foi um dos maiores árbitros de futebeol que Alagoas conheceu, sem nenhum favor.

  • adja

    ricardo conta alguma história sobre um homem maravilhoso e bem humorado MESTRE DEODATO o cara é uma figura adorava quando você o entrevistava.

  • Del CAXIMBAU

    Amigo Ricardo Mota, fiquei surpreso ontem ao acessar o seu blog, quando se encontrava de plantão na Del.Reg. de S. do Ipanema, por saber de mais uma do velho “CAXIMBAU”.Eu,Falar dele não vale, deixo para quem o conheceu nos tempos de futebol e Gazeta de Alagoa.Um Abraço