A internet é um arquivo vivo e de muito fácil acesso. Daí que posso rever, de quando em vez, algumas crônicas que fiz nos últimos doze anos, publicadas aqui neste espaço.

Qual não é a minha surpresa ao constatar, com alguma frequência, que mudei de opinião e até de gosto, muito mais do que poderia supor minha vã filosofia. Confesso que não lamento ser apenas mais uma metamorfose ambulante. Acho mesmo que só não o é quem já morreu.

Mudar faz parte das necessidades vitais do ser humano. É quando a alma respira e a mente se abastece: a gente não sabe qual o momento exato da mudança, mas ela acontece – assim como a madrugada escapa aos nossos olhos, empurrada pelo sol.

O tempo vai operando a sua obra, com o cinzel que apenas ele possui, esculpindo permanentemente um indivíduo que só estará pronto e acabado quando chegar a hora de deixar de ser.

Eu lembro que guardava comigo, na minha adolescência, um caderninho de capa dura, verde, pautado, onde eu escrevia impressões, pensamentos, alguns poucos acontecimentos, a que eu dava muita importância.

Perdi-o, e durante muito tempo alimentei a esperança de encontrá-lo em algum esconderijo da velha casa da Buarque de Macedo, mas isso depois me pareceu tão desnecessário quanto inútil.

Lembro-me da sua forma, mas o conteúdo, hoje, para mim, é um mistério. Imagino, porém, que ao lê-lo agora diria que era o diário de um tolo, embora fosse uma sentença injusta demais para um garoto que tinha, sim, como defeito ser um arrematado sonhador. Mas mesmo esses sonhos foram desabitando minha memória, como se nunca tivessem existido. Ela, a memória, eis uma boa verdade, mente: porque precisa e porque sabe que o passado pode ser uma grande armadilha.

Aliás, eu nunca fui muito bom em acumular lembranças palpáveis. Não guardo nenhum arquivo de reportagens e/ou de entrevistas feitas ao longo de quarenta anos de profissão, em jornais ou televisão. Penso que tenha sido responsável até por alguns bons trabalhos, nem tantos quanto gostaria, mas o suficiente para que não tenha passado em branco naquilo que me dá o pão de cada dia.

Recordo de algumas entrevistas com personagens da música e da literatura que me deram prazer enquanto as fazia, mas que hoje moram num baú que só se mostra quando eu abro a sua tampa, que vive lacrada. Não é a força do esquecimento, é a urgência do porvir, ainda que em lentas gotas, em meio a certa preguiça de revisar ou consertar o que já me pareceria malfeito.

Cá pra nós, sinto até algum arrepio quando releio uma opinião dada numa crônica aqui postada, quando a confronto com o que penso hoje sobre o tema. É mais uma discordância advinda do crescente ceticismo, próprio, talvez, da idade, do que propriamente um julgamento moral e/ou intelectual.

Pretendo continuar nessa lida domingueira, com vocês, por alguns anos ainda. Quando escrevo, é uma confissão, penso mais e melhor sobre os temas aqui abordados, mesmo quando estou apenas jogando conversa fora, num texto despretensioso como este, ou simplesmente matando o tempo.

Sem esquecer o que nos disse Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas) sobre esse assassinato cotidiano, que cometemos sem que atinemos para a verdadeira identidade da vítima: “Matamos o tempo; o tempo nos enterra”.

P.S: Estamos com um problema técnico que impede o envio de comentários pelo (a) leitor (a). Pedimos desculpas aos internautas e esperamos para breve a solução.

A humanidade tirou um peso insuportável dos ombros
Marqueteiro de Davi Filho é o destaque do primeiro turno em Maceió
  • Há Lagoas

    Passei aqui só para comentar, já que agora isso é possível.
    Colecionei aforismos, mesmo sem entender o que isso significava, mas sempre gostei de gravar sentenças proferidas por aqueles que eu presumia ser sábio.
    Hoje, quarentão, sei que a maioria das frases que guardei, já não me valeria muita coisa…
    O discernimento vêm com a experiência, e mudar é algo mais do que necessário para se viver.
    Excelente crônica!

  • Antonio Moreira

    Há 30 e tantos anos, voltei sozinho de São Paulo para Alagoas e trouxe as minhas coisas pessoais.
    Meus discos, minhas anotações pessoais, fotos e etc, enfim, foram todos destruídos sem a minha permissão.
    Olho para trás e acho que fui mudando para melhor, afinal já fiz 60 anos.

    //

    Atenção, C U I D A D O :
    Hoje(domingo), cedo – Praia, calçada de pedestre em frente ao Hotel “Maceió Mar Hotel” – Maceió/AL.
    Tropecei e caí. Um vendedor que ali estava me disse:
    4 pessoas caíram também e comum caí gente aqui, disse ele.
    Solução: com um pouco de cimento, areia e água resolve o problema.
    Será que não tem nenhum setor/fiscal/Funcionário da Prefeitura para tapar os buracos dessas calçadas?
    Em postagens anteriores, citei um colega de corrida que passava por mim e parecia que nunca tinha me visto.
    Pois é, foi esse mesmo colega que ajudou a me levantar da queda.
    Ele, com um jeito amável me lembrou de coisas boas que havíamos conversado em alguns anos passados.

  • Antonio Moreira

    4 pessoas caíram também e é comum caí gente aqui, disse ele.