O aviador e escritor Antoine de Saint-Exupery – ele mesmo, autor do ótimo O pequeno príncipe – dizia, com sabedoria, que “a perfeição não é alcançada quando já não há mais nada para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar”.

Esta é uma boa meta para a Ciência e para os cientistas – tornar simples o que parece tão complicado -, desde que não se caia no reducionismo, que é o que se espera dos que são da área. Talvez o equilíbrio esteja exatamente na compreensão de Einstein, para quem “tudo deve ser feito da forma mais simples, mas não mais simples do que isso”.

Bastante conhecido entre os seus, o indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, Nobel de Física (1983), expressou assim a sua expectativa sobre o Universo, que a curiosidade do cientista tentou sempre desvendar: “Por trás disso tudo certamente há uma ideia tão simples, tão bela que, quando a entendermos – daqui a uma década, um século, um milênio -, diremos uns aos outros: como poderia ser de outro modo? Como pudemos ser tão cegos?”

Ao que parece, ainda não retiramos o suficiente.

Volto ao tema por ser tão atual nesses tempos de negacionismo de um lado, e dúvidas de outro. E destas últimas vivem e crescem Ciência e cientistas.

O biólogo, polemista e escritor Richard Dawkins conta uma historinha deliciosa, que ilustra bem essa visão  inegociável para a turma que vive da pesquisa e da busca pelo conhecimento. Ian Thomas foi seu professor nos tempos de escola e lhe deixou “um ensinamento dramático sobre o valor de admitir a ignorância”.

A uma pergunta do mestre, feita individualmente, cada um dos alunos deu uma resposta que era puro palpite. E, claro, todos queriam descobrir qual era a correta, passando a cobrar dele: “Professor! Professor!”. Foi quando Thomas demonstrou sua melhor qualificação de mestre:

– Eu não sei! Eu… não… sei!

Carl Sagan, guia genial do autor de Desvendando o arco-íris, O maior espetáculo da Terra, a Grande história da Evolução – entre tantos títulos – já havia se posicionado sobre a questão em Pálido ponto azul, uma das suas maravilhosas e acessíveis obras de divulgação científica, escritas com raro talento de literato: “Garanto que não há problema algum em não querer dar opinião antes de ter evidência”.

Talvez seja difícil para os de hoje simplesmente entender e aceitar que não sabem, buscando com alguma paixão o conhecimento que lhes foge pelos dedos, literalmente (e não o contrário).

No já clássico Sapiens – Uma breve história da Humanidade, o polímata Yuval Harari faz uma relação direta entre a Revolução Científica, que nos permitiu chegar até aqui, nascendo mais até do que matando, e a nossa ignorância.

Disse o “historiador do futuro”:

– A Revolução Científica não foi uma revolução do conhecimento. Foi, acima de tudo, uma revolução da ignorância. A grande descoberta que deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não têm as respostas para suas perguntas mais importantes.

É procurar, investigar e tentar o descobrir como e por que as coisas funcionam, o que faz com que a vida seja possível na Terra, como o Universo é nosso parente direto, feito da mesma matéria que nos põe em pé e respirando. Em síntese: o que dizem as Leis da Natureza. Nessa busca incessante, a retórica (voltemos ao “simples”) pode até ser uma inimiga do cientista/pesquisador. Mentir, então, deve estar fora de qualquer cogitação para quem é do meio e nele pretende sobreviver.

“É muito mais provável para um cientista mentir a um cônjuge ou ao fisco do que a uma revista especializada”, debocha o mesmo Dawkins, que tem tantos admiradores (eu sou um deles) quanto inimigos. Ele explica:

– Na comunidade científica, manipular dados é o pecado capital, imperdoável de um modo difícil de traduzir nos termos de outra profissão. Equivaleria mais ou menos a acusar alguém de canibalismo ou pedofilia.

É morte em vida.

Está aí uma diferença fundamental e insuperável com as “leis dos homens”, onde é possível mudar o rumo da verdade com brilhantes argumentos retóricos. O julgamento de O. J. Simpson, entre 1994 e 1995, foi o maior reality show da história americana, enredo real em que a palavra venceu os fatos.

Acusado de duplo assassinato, um dos atletas mais reverenciados e bem-pagos dos EUA tinha contra si provas materiais irrefutáveis. Mas não para o advogado Alan Dershowitz, professor de Direito em Harvard, uma lenda entre os profissionais do ramo no mundo inteiro. Usando argumentos de estatística e sua incomparável oratória, ele conseguiu contrariar a expectativa geral. Justificando o seu feito, e parece que até com algum constrangimento, ele explicou:

– O juramento feito no fórum – “dizer e verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade” – só se aplica às testemunhas. Advogado de defesa, de acusação e juízes não assumem esse compromisso.

Talvez tenha faltado a Giordano Bruno (1540-1600), filósofo, teólogo e cientista, um causídico como Dershowitz, capaz de livrá-lo da fogueira a que foi condenado pelo Tribunal da Inquisição. Entre tantos crimes, o italiano cometeu a heresia de dizer que a Terra girava em torno do Sol.

Fica registrado, pois, o quanto pode ser perigoso adotar a Ciência como luz em tempos obscuros, contrariar o senso comum e ousar ir além do que os olhos veem. Einstein, que também colecionou desafetos, tinha consciência do risco que sempre correu, e assim o disse:

– Se eu soubesse, teria preferido ser um serralheiro.

Se seria melhor para ele?

Eu não sei!

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  • Há Lagoas

    O negacionismo é um erro movido por nossa ignorância, seja ele contra a ciência ou contra o próprio Deus.
    O físico alemão, considerado um dos pais da física quântica disse: “Para os crentes, Deus está no princípio das coisas. Para os cientistas, no final de toda a reflexão!”
    Max Planck
    Um bom domingo a todos.

  • SEBASTIÃO IGUATEMYR CADENA CORDEIRO

    MAIS UM PRECIOSO COMENTÁRIO , MATÉRIA . . . BOA QUARENTENA . . . CUIDE – SE !

  • Antonio Moreira

    Se eu nasci da minha mãe, o gatinho nasceu da gata mãe, o dinossaurinho foi gerado da mãe dinossauro. E quem é a mãe coronavírus? – Eu não sei!
    Se o dinossauro foi extinto da terra, então ele deixou de ser reencarnado? – Eu não sei!

    DEUS e o Céu são assim e assado, é verdade? – Eu não sei!

    Sabia que tem gente que não acredita que o homem pisou na lua! – Sim.

    Quando criança, ouvia falar em bicho papão e papo fígado. Eu tinha medo? – Sim.
    Ouvia falar de pedofilia? – Não.

    Já foi divulgado mais de 7.000 mortes em decorrências do vírus da moda e ainda tem gente que acha que é uma mentirinha da mídia. – É mentira? – Não.

    No mundo e aqui do Brasil – muitos debochavam, instigavam para não levar a sério essa praga mundial – Uns já morreram e outros foram alcançados pelo vírus, e hoje pedem que fiquem em casa… – É verdade? – Sim.
    //

    Professor Carlos Rosa de numerologia cabalística.
    Foi a um médico e depois dos resultados dos exames, o Doutor disse que o Professor tinha que passar por um procedimento cirúrgico… O custo R$ 40.000,00.
    Ele foi a um outro médico e ele disse(o médico) que bastava gastar RS 2.000,00 para sanar o problema.
    Ele seguiu ao segundo médico(o jardineiro) e fez uma viagem para fora do país…
    Lá adianta, a doença se agravou, foi internado e gastou R$ 300.000,00.
    Antes de morrer, ele disse que se achava um Autossuficiente e na verdade foi na vida um idiota.
    Aconselhou: Quem puder, não deixe de pagar um plano de saúde.