Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões…

Os versos tocantes de Chico Buarque de Holanda nos remetem a um memorialista carregado de lirismo e delicadeza. Eles abrem a canção Maninha, que o nosso incomparável compositor dedicou a Miúcha, responsável por arrastar o irmão mais novo para o território da música – e deu no que deu.

Mas sempre há um estraga-prazer a pretender desmontar as mais belas manifestações da alma humana. Quem? Ninguém menos do que Vinícius de Moraes, frequentador da casa dos Buarque de Holanda, amigo do historiador Sérgio, pai do Chico:

– É tudo mentira!

Dito isso, seguiu-se a sonora gargalhada de ambos, acusador e acusado, em coro com Tom Jobim, até a revelação de Vinícius:

– A casa não tinha jaqueira, não tinha porão. É tudo invenção do Chico.

E que bela invenção!

O único “poeta que viveu como poeta”, na definição de Drummond, sabia que Chico cantava a infância, e não a sua infância, como a replicar Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

Em verdade, a nossa vida, de cada um de nós, é mais comum do que imaginamos. As dores e sentimentos de alguém do lado de cá do planeta em nada diferem daquilo que sentem os que estão na outra banda da laranja mal-ajambrada que é a Terra. Mais do que isso, nós vamos repetindo enredos, ainda que com particularidades específicas, como se vivêssemos a inauguração da Humanidade.

Qual o quê!

Foi seguindo Mario Vargas Llosa, para quem a literatura é “atividade que se alimenta do fundo comum da espécie e à qual se pode recorrer em busca de ordem quando parecemos imersos no caos, de alento em momentos de desânimo e de dúvidas e incertezas”, que eu retomei A peste, de Albert Camus.

O livro, um clássico tão atual, foi publicado em 1947. E vejam só o que achei por lá:

“Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo tantas pestes quanto guerras. E contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas”.

“Um homem morto só tem significado se o vemos morrer; cem milhões de cadáveres semeados através da história esfumaçam-se na imaginação”.

“Havia os sentimentos comuns, como a separação e o medo, mas continuavam a colocar em primeiro plano as preocupações pessoais. Ninguém aceitara verdadeiramente a doença”.

“Não se poderia propor medidas mais flexíveis que as adotadas?”

“O vício mais desesperado é o da ignorância, que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”.

“O frio é inimigo dessa espécie de doença”.

“As pastilhas mentoladas tinham desaparecido das farmácias, pois muitas pessoas as chupavam para se prevenirem contra um contágio eventual”.

“É tempo de acabar com isso”.

Paro por aqui. Não vou dar spoiler, esclareço. Para quem tem prazer com a leitura, e dela extrai algo que vá além do entretenimento – que também é bom -, A peste pode ser uma ótima pedida, apesar de tudo.

No futuro, algum autor ficcional haverá de tratar dos tempos de agora como outros fizeram lá atrás, na irrefreável  roda-gigante onde a arte imita a vida que imita a arte, sem que identifiquemos qual foi o primeiro ventre.

Quem sabe, os que virão mais adiante ouvirão com um sorriso estampado a voz do poeta que nos disse que “é impossível ser feliz sozinho”. E ele dirá (de novo):

– É tudo mentira!

E rirão juntos, os que lá estiverem, embora sabendo que a verdade volta sempre, mesmo que com outro nome.

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  • Antonio Moreira

    Quem acredita nisso?
    A irmã mais velha fazia o café somente para os seus pais, o motivo era óbvio.
    Ela e os demais irmãos comiam farinha de mandioca e peixinho miudinho em pratos azuis de plásticos
    A casa tinha uma cacimba, servia para matar a sede e outras utilidades.
    Foi assim, não sei até quando, mas todos chegaram a fase adulta… Todos do bem.

    Pois é, um outro ou outro que passou por coisas parecidas e hoje vive razoavelmente bem, fica até difícil de alguém que não vivenciou acreditar…

    Ah, comigo não! :
    Quantos ganharam muito dinheiro e jamais esperavam voltar ao saldo ZERO?
    Quantas casas desabaram que foram construídas em locais impróprios e ainda sim o humano (por necessidade) insiste em novas construções?
    Quantos abreviaram as suas vidas por excessos de consumos de drogas lícitas/ilícitas?
    Quanto de nós fomos/somos negligentes em relação a aids/HIV? – Já tem vacina?

    Curiosidade:
    Esses dias, à noite, estava em casa deitado é uma rede, via um clarão verde(aparecia e sumia). Saí andando, o segredo estava em uma lâmpada(poste de energia) em uma travessa próxima da minha rua.

    • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

      É tudo VERDADE, Antonio
      … um bom domingo com SAÚDE!
      E um BOM dia
      … ‘o café somente para os seus pais,
      > o motivo era óbvio. – Ela e os demais irmãos comiam farinha de mandioca
      – e peixinho miudinho em pratos azuis de plásticos [Vc ACIMA]

      É tudo VERDADE, Ricardo Mota
      … um bom e pacífico DOMINGÃO na Pajuçara
      Embora TUDO tão desigual aqui na Terra
      … uma BOA semana com jornalismo profissional com QUALIDADE.

      Nos 1960’s Orson Welles (1915-1985 aos 70)
      … até tentou em Copacabana aos 25 flor d’IDADE.

      E o vira-casaca pragmático Getúlio VARGAS faturou bem a beringela

      #1. Fevereiro de 1942, Welles s’apressa ao Rio-RJ do carnaval carioca.
      #2. Herivelto Martins (1912-1992, Praça 11) dá assistência a GOL de Welles.
      #3. Trazendo Grande Otelo (1915-1993), Linda Batista (1919-1988) e Emilinha Borba (1923-2005).
      #4. Julho de 1942. – Welles filmagens JANGADEIROS em Mucuripe da Fortal- CEARÁ.
      JÁ pou(R)co dinheiro e alguns pARcos rolos de filme.- Diretor e equipe voltam aos EeUu.

      > Por DÉCADAS, 80 anos já ainda se usam as imagens
      – festejos: Cassino da Urca e Teatro Municipal Rio-RJ;
      – Cordões SEM puxa-sacos em estúdios Cinédia depois da Quarta-Feira de Cinzas.
      – favelas em technicolor 2.0, câmera 35 mm às vezes à mão de Welles.
      http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra69072/e-tudo-verdade

      #sem Faustão nem Silvão à época … é nóiX nas FITA!

  • Antonio Moreira

    Pois é, um ou outro que passou por coisas parecidas e hoje vive razoavelmente bem, fica até difícil de alguém que não vivenciou acreditar…

  • Henrique Silva

    Falando em música, queria que alguém me ajudasse a descobrir quem canta e qual o nome dessa música: “Pedro corajoso descobrindo falcatrua, pintar a cara nas ruas foi quando a bomba explodiu… Eu não tenho nada contra PC, vou logo dizer pra não cair em fria, eu não sou PC, nem nunca fiz nada, mas se eu fosse PC faria”. Só lembro até aí, eu era garoto na época dessa música e ela acabou ficando na cabeça. Se alguém souber quem canta e qual o nome da música por favor me diz.

  • Democracia ao PONTO: garçon + 1 cana, tira gosto SARDINHA péÓóRrrrr sem ELA!

    Êita, caro Ricardo Mota … o DIA num ‘tá pra brincadeira, ‘tá DIFÍCIL!
    Um BOM domingo tão igual à semana inteira, úi!

    Desde 1947 c’A Peste ARGELINA … O FRIO é inimigo dessa espécie de doença.
    [albɛʁ kamy 1913-1960 aos 46 de vida], https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus

    Ao SUL da França Paris-Dakar rallu trabalhadores descobrem
    #1. Há SOLIDARIEDADE em ½ a 1 peste que assola ⅔ a cidade de Oran confinada em ¼.
    #2. CORES dÁfricas setentrional mediterrânea ut´Rópic@s quilomb@s, ~300 páginas R$ 30
    https://www.amazon.com.br/peste-Nova-Edi%C3%A7%C3%A3o-Albert-Camus/dp/8501111244

    Daí o sucesso goiano das SOFRêNCIAS ao vivo assolando o Brasil Central
    … lavand’égua’$ pocotós de sertanOjos milionári’u$ como Zé Rico.

    E ontem, + 1 ia mal lavado protestaria LOBÃO Xêro de Calcinha ANIVALDO
    # Calcinha Preta SÁBADO 30abr20 n’YouTube + Instagram. [10abr20]
    https://www.metrojornal.com.br/entretenimento/2020/04/10/programacao-completa-das-lives-de-sertanejos-para-sofrer-largado-durante-quarentena.html

  • Há Lagoas

    “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”.
    Carlos Drummond de Andrade
    Ps. Como eu gostaria de acrescentar que em minha pobre infância, lá na Cambona, em minha casa tinha um pé de jaqueira, em vez de mangueira… Mas, na minha imaginação, ela sempre existiu, e até hoje eu juro que tinha um pé de jaca no meu quintal.
    Uma boa semana a todos.

  • Antônio

    Resposta para Henrique Silva. Musica : Os PCs do Brasil. Autor: Tinan Rodrigues .

  • Henrique Silva

    Bete irmã de Nestor muito obrigado, fazia mais de quinze anos que queria saber quem cantava essa música