Já houve quem decretasse, sem nenhuma condescendência, a morte da canção. Vai-se a melodia, restando-nos apenas o consolo do ritmo – a marcação cada vez mais acelerada, assim como as coisas do mundo.

Coisas do mundo, minha nêga, diria Paulinho da Viola num samba magistral. E ainda que a anunciada catástrofe vingasse, nem ela arrastaria para o fundo do vulcão o mais elegante de todos os compositores brasileiros.

Paulinho da Viola será capaz de animar, envolvendo as gentes de todas as formações musicais, a melhor roda de samba; assim como consegue encantar os ouvidos mais refinados e exigentes da Nação. Este negro que nasceu – em 1942 –  Paulo César Baptista Faria, entendeu que a música estava fadada a lhe correr entre os dedos aos quinze anos de idade. Vendo os acordes complexos do violonista César Faria, seu pai, que acompanhava, entre outros, Jacob do Bandolim, quis descobrir os caminhos do instrumento que se toca colado ao peito – coisa de amor definitivo.

Paulo César virou Paulinho da Viola graças ao tino de uma dupla maravilhosamente musical: Zé Keti (que o Brasil precisa redescobrir) e Sérgio Cabral (que descobriu um Brasil de tantos talentos). O Zé, de Máscara negra, aliás, foi um dos responsáveis por levar ao público o moço tímido, amante do chorinho e do samba. Com seu cavaquinho, que toca – é verdade – sem o virtuosismo dos grandes do instrumento, o já Paulinho da Viola compôs o belíssimo Choro Negro, obra-prima do gênero, suave e triste como nos parece o autor – quase sempre.

Pois é, ele já sabia que os versos do poeta-mestre Vinícius de Moraes (Pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza/ Se não, não se faz um samba, não) dizem muito da dura e preciosa verdade dos grandes compositores, sendo ele um dos tais.

Foi misturando tristeza e desapontamento – primos em primeiro grau – que Paulinho compôs um dos seus clássicos: Foi um rio que passou em minha vida. Havia feito, em 1968, com Herminio Bello de Carvalho (a quem o Brasil musical deve tanto) Sei lá, Mangueira. A belíssima letra, que o sambista-chorão encontrou sobre a mesa do apartamento do parceiro, logo virou uma inspirada canção, fadada a se tornar um clássico: Em Mangueira a poesia/ Num sobe-e-desce constante/Anda descalça ensinando/Um modo novo da gente viver…

De Hermínio, amigo de copo e de cruz, ouviu que a música faria parte de um show sobre a “verde-e-rosa”. Qual não foi a surpresa de Paulinho ao sabê-la inscrita no Festival da Record, naquele ano. Não se sentiu traído, mas um traidor. Como explicar que o presidente da ala de compositores da Portela fizera tal exaltação à rival? Ganhou, ali, seus primeiros cabelos brancos.

A notícia sobre Sei lá… deixou Paulinho abatido. Saiu a caminhar sem rumo pelas ruas do Centro do Rio, até se deparar com uma vitrine. Lá estava o livro de Helena Cardoso, Por onde andou meu coração. O compositor portelense sabia em que domínios andava o dele. Seguiu para casa já cantarolando os primeiros versos do seu cartão de apresentação.

Serenou a alma e deu a sua Portela um hino que o Brasil de várias gerações – até de mangueirenses – sabe de cor. Em qualquer lugar no país onde um violão vibrar suas cordas, há de ter alguém a cantar o amor de Paulinho como se seu fosse.

(Jorge Meira, sambista da pesada nas rodas cariocas, participou da gravação de Foi um rio que passou em minha vida com seu inconfundível “Ai, porém”. Ficou, por isso, batizado desde então como Jorge Porém.)

Muitos são os brasileiros amados e respeitados; poucos serão tanto quanto Paulinho. O herdeiro do Mestre Cartola, por ele escolhido e apontado, absorveu como nenhum outro o refinamento do marido de dona Zica. Quanto ao maior dos sentimentos, Paulinho, em parceria com o poetaço Paulo César Pinheiro, nos ensinou que em tudo ele se compara a sua arte:

Amar é um dom/ Há que saber o tom.

Especialistas apostam em 20% dos votos para candidato chegar ao 2º turno em Maceió
As querelas do Brasil
  • Mário

    Parabéns pelo belíssimo texto retratando um dos maiores sambistas, e sem sombra de dúvidas uma geração de canções e compositores imortais. Lamentavelmente nos dias atuais a música (se assim podemos chamar) é sofrível (raríssimas exceções).

  • Idosamente MONGE no Sertão: busca SUS sem úi nem Ái!

    É como se diz em ARAPIRACA, caro Ricardo … antes mesmo de Paulinho (1968 aos 26)!
    … ‘as coisas estão no mundo, só q’eu preciso APRENDER’ [Violando em o3′ 37″]
    _ https://youtu.be/E-n-G4-YI1s

    E na capital CASAMENTO é com SãJosé daqui a pouco equinociando (20mar20) o outono a SUL.
    Nas PERIFERIAS nóiX namora com St’Antonio (13 de junho) nas festas de SãJão (24 a ressaca do 23).
    Rumo a São Pedro 29 de junho na eternidade de quasares desafiando CÉUS.

    TEMA do 5º Mistério Glorioso, Maria das ALEGRIAS em Portugal – Dos Prazeres em Brasil.
    Coroada na ONU do Clóvis, paetizado Bornay hors concours: Rainha do Céu e da Terra. [28ago19]
    https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/video-procissao-reune-milhares-de-fieis-a-nossa-senhora-dos-prazeres-em-maceio

    Depois vieram enxurradas de VIOLAS cegas aos luares dos Sertões IMEMORIAIS, em duplas xifrudas ao lado de Brasília parida em GOIÁS.
    Vozes atordoadas com SURDAS ao en ordomamento de AÇO de Dilermando (1916-1977, 61 em vida)
    ensinando dedilhados e harpejos ao intrépido JK (1902-1976, alegrias até 74)
    no Catetinho de MADEIRA, pau e pedra caminhando até os 36 com Elis (1945-1982).

    > Venho do samba há tempo, nega parando por ai:
    – Zé fuleiro falou de doença, sorte Q nunca chega
    – SEM sem amor nem dinheiro, dispunharia EU d’algum pra dar
    … da viola samba sincopado zomband’azar ZUMBI, ora Damares!
    [Violando em o3′ 37″], https://youtu.be/E-n-G4-YI1s

  • Diógenes Tenório

    Paulinho da Viola é um dos grandes poetas da nossa música. E é também um sujeito de caráter e de carisma, um homem que veio ao mundo para nos encantar com a sua ins´piração e com o seu talento. Ouvi-lo é sempre um alento para a nossa alma.