Hoje, ao ler os jornais eletrônicos ou impressos, assistir televisão, ouvir algumas emissoras de rádio, você vai se deparar com o nome e a obra de Tom Jobim como há muito tempo não acontece (veja e ouça tudo o que puder).

É a data: 25 anos – exatos – da morte do Maestro Soberano, definitivo nome de batismo que lhe foi dado por outro grande da nossa maior música: Chico Buarque de Hollanda.

Aliás, o compositor da tão atual Apesar de você nunca escondeu a sua admiração pelo amigo, com quem compartilhava sua arte – compuseram grandes clássicos juntos – e o gosto pelo canto das brasileiríssimas sabiás. Lembro-me bem de um depoimento do Chico, tempos depois da morte do Tom:

– Eu queria tê-lo agora aqui comigo, não para falar de música. O Tom já não tinha muita paciência para isso. Eu queria saber que sabiá era aquela que eu ouvi um dia desses em Minas. Só o Tom saberia  responder a essa minha curiosidade.

(E assoviou em seguida.)

Ainda no sepultamento do Maestro Soberano, o coautor de Anos Dourados fez uma revelação encantadora:

– Tudo o que eu fazia era pra ele. Quando eu compunha uma música, me perguntava: “Será que o Tom vai gostar?”

Ele encarnou no seu parceiro de “copo e de cruz” o personagem imaginário de João Cabral de Melo Neto, que olhava por sobre os seus ombros, com a sem-piedade de um crítico feroz, os versos que ele construía arduamente, dolorosamente.

É verdade que o homem-passarinho, que dedicou boa parte da magnífica obra musical aos seus iguais – Sabiá, Matita Perê, Urubu, entre outros –, já acusava o nosso desdém com a Natureza ainda quando não era tempo de “aquecimento global”.

O cuidado e o afeto que o Maestro Soberano destinava  aos bichinhos alados/cantantes e à mãe que lhes aconchegava não passaram despercebidos ao poeta Carlos Drummond de Andrade – a quem Tom amava e expressava esse amor declamando, de cor, os seus versos.

Escreveu o itabirano com “80% de ferro na alma”, em 1975, sobre aquele a quem chamava de sabiá-mor:

“O pássaro desenvolve um canto geral, em nome das aves amadas por Tom, inclusive o matita-perê, que não nasceu lá muito melodioso, e o jereba ou urubu-de-cabeça-vermelha, do qual não se exigem primores vocais. E sua ária festiva é uma justa homenagem ao compositor,  que soube captar para nós,  entre canções de amor sofrido ou exultante, a palpitação, o lirismo surdo, o secreto recado das águas de março, das ladeiras e lajes que compõem o mais antigo cenário da vida. Cenário que vamos destruindo metodicamente, em vez de preservá-lo e restaurá-lo como alternativa ao triste viver urbano a que nos condenamos  por inclinação suicida.”

(O que seria de nós sem o socorro dos poetas?)

Eu lembro bem onde estava e o que fazia no dia 8 de dezembro de 1994, quando soube da notícia da sua morte (trabalhava numa agência de publicidade). Para mim, até então, Tom não tinha o tamanho que ganhou com o tempo. E não para de crescer – como dizem até hoje os argentinos sobre o seu Maestro Soberano, Astor Piazzolla, tantos anos após sua morte: “Ele está cada vez melhor”.

O Tom de grandeza que fui descobrindo, ao ouvi-lo cada vez mais, bebendo as suas doces melodias, adornadas em sofisticadas harmonias, sorvendo a sua poesia brejeira e tocante, me fez, enfim, entender por que o mundo reverencia tanto Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (o seu último show foi em Israel, num teatro ao ar livre): com ele, a música popular brasileira, tão rica, deixou de ser “exótica” para a velha civilização ocidental e ganhou a definitiva condição de clássica, de algo a se copiar, o supremo elogio a um criador.

Uma pena que se ouça tão pouco por aqui o que em outros países e continentes é quase um mantra, carregado de uma espiritualidade que serena as almas.

Então, qual o mal que ele me fez?

Pois é: tenho admiração profunda, igualmente a que dedico ao Tom, por Darwin, pai da Teoria da Evolução. Na verdade, a descoberta do naturalista inglês, que também amava a natureza e os pássaros, trata da capacidade de adaptação de cada ser vivo, num ambiente sempre mutante.

Eis que o ambiente musical tem mudado contínua e celeremente, e confesso: depois do Tom, eu não consigo mais me adaptar à nova natureza sonora.

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  • Idosamente MONGE no Sertão: busca SUS sem úi nem Ái!

    Era o ano de 1986, Zé Sarney num dos Anos Dourados de LITORAIS.
    Agora em 2019 há um bom DOMINGO em casa no quintal, caro Ricardo Mota!
    > E o Maestro Tom 1927-1994 aos 77 cariocava a sul pós-Túnel Botafogo:
    – enquanto o povão do NORTE vive na Zona OESTE, escutamos samba e forró em Bangu, funk tão BEM!
    À época nem se falava de SOL dourado nos Sertões esturricados as terras invadidas em 1500 por Cabrais!
    > Parece q dizes: t’amo, Maria! – Na fotografia felizes, te ligo afobada: confissões no gravador?
    – Vai ser engraçado: tens um novo amor? – Me vejo a teu lado, NEM lembro: parece dezembro!
    > Parece BOLERO: te quero dizer q NUM quero. – Teus beijos nunca mais!!! ( 2 Xs )
    – Não sei s’ainda t’esqueço de fato. – Pareço tão linda: te ligo ofegante: confusões no gravador
    # É desconcertante rever o grande amor … M’olhos molhados: insanos, dezembros!!!
    [Anos dourados – Tom J e Chico B], o3′ 29″ _ https://youtu.be/dE3LeirvWIo

  • Juvenal Gonçalves

    Eu “Tom bem” o admiro pelo seu grande talento: é pau e é pedra nessa construção que nunca se acaba. Mesmo que as águas de março fechem tantos verões, teremos sempre o encantamento da volta para casa, como a alma que canta ao ver o Cristo Redentor de braços sobre a nossa cotidiana Guanabara.
    Saudoso maestro!
    Uma boa semana, sem qualquer estilhaço na estrada, para todos.

  • Fernando

    Parabéns Ricardo! O texto é sem dúvida de alto nível, não só na escrita como no seu conteúdo. Realmente no país do “ caneta azul “ Tom Jobim é um marciano. Felizmente, como vc bem disse, o reconhecimento e a valorização veio de longe, de culturas mais qualificadas e gosto refinado, no sentido de apreciar uma poesia que exalta a natureza, e o faz com palavras que se combinam e se harmonizam no tom que só Tom sabia fazer.
    Acredito que bom gosto se aprende, tudo depende de como se ensina. Se o “professor” o fizer com paixão e beleza, por mais complexo que seja o assunto, ele terá um ouvinte apaixonado. O maior exemplo foi meu primeiro beijo na boca, não que eu dei, mas que vi. Tinha oito anos, duas bocas abertas coladas uma na outra, achei nojento, até, tempos depois, ouvir o poeta falar do beijo, aí a coisa mudou de figura, pois consegui visualizar a paixão dos amantes e senti no meu corpo o desejo de estar no lugar daquele amante. Hoje, 50 anos depois, só tenho a agradecer ao poeta pelos milhares de beijos que dei.

  • JEu

    Bom dia, RM… e começo por afirmar que: a verdadeira arte será sempre confirmada em qualquer quadrante, não só deste planeta, mas em qualquer parte do Universo… pois estará de acordo com os princípios da Natureza: beleza, harmonia, paz, sintonia com o bom o e belo… mas isso é coisa para quem “sente” de modo mais elevado, pois, em grande parte de nossa humanidade, as coisas puras e boas são relegadas, pisoteadas, esquecidas ou, simplesmente, jogadas no “monturo” da vida… por isso, concordo com vc quando diz que um bom poema nos salva de nossa ignorância e nos eleva para novos parâmetros de vida, por isso vou encerrar, hoje, com O Poema mais sublime que jamais li, vi ou ouvi:
    ” Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus; 4 bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; 5 bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; 6 bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; 7 bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; 8 bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; 9 bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; 10 bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus; 11 bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. 12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” … e vejamos que foi “declamado”, e “proclamado” há mais de dois mil anos atrás… Bom domingo.

  • Antonio Moreira

    Moro na mesma casa há quase 30 anos e aconteceu uma única vez até a data de hoje:
    Estava só em minha casa(família estava viajando).
    25/08/2016, 5ª-feira, 6h da manhã – estava no quintal da minha casa, um pássaro
    pousou no varal, entre as minhas mãos enquanto estendia uma peça de roupa.
    Fui trabalhar e comentei o acontecimento para o pessoal do meu 1º trabalho.
    Depois do meu 2º trabalho e da minha atividade física – 9 h da noite do mesmo dia – de costume, a Janela do meu quarto fica aberta durante o dia.
    Lá, estava um passarinho na grade de proteção da janela do meu quarto. Pensei que era um bolinho de barro.
    Aproximei, e percebi o quanto o meu dedo polegar era pesado enquanto acariciava a cabeça do bichinho. Era um silêncio total.
    Fui tomar meu banho e quando voltei ele não estava mais.
    //
    Também foi a única vez:
    Não faz muito tempo, era de madrugada, a minha esposa gritou do banheiro do nosso quarto.
    Era um bicho grande(não sei se era um rato ou outro animal da mesma espécie). O bicho olhava de maneira serena, agarrado no cabo de uma vassoura. Peguei o cesto de botar roupa e felizmente ele caiu dentro. Fui até porta da minha casa e o soltei – ele foi embora trotando pela rua… A minha casa é livre dentro meu terreno e mantenho sempre tudo limpinho…
    A primeira coisa que me perguntaram – você matou o bicho?
    Então, qual o mal que ele me fez?
    //
    Não sei o que acrescentar sobre o Tom Jobim, pois você já enfatizou aqui sobre ele, amigos e os admiradores de ele. Mais um da banda boa do Brasil e do Mundo que se foi.

  • Vandejer Adrian Melo das Chagas Filho

    de Gilberto Gil:
    “Aqui estamos reunidos a beira-mar. Nesta noite de ano novo, nesta festa de Iemanjá. Pra cantar nossa homenagem de coração ao patrono desta ordem, venerável na canção. Brasileiro de Almeida, de ouro e marfim. Curumim da mata virgem: Antônio Carlos Jobim”.

    de Diana Krall:
    “Tom Jobim é tão importante para a música mundial quanto Cole Porter”.

    de Chico Buarque:
    “A casa do Oscar [Niemeyer] era o sonho da família. […] Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.”.

    Louvado seja Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.

  • Adson Freire

    Tom era um compositor genial, um mestre que transitava com naturalidade entre o popular e o erudito. Tinha uma adoração por aquele que ele considerava o nosso maior compositor popular, o inesquecível Pixinguinha, outro gênio. Era uma pessoa reservada que não se envolvia em futricas políticas e ao contrário de um de seus parceiros, o bom compositor e sofrível escritor Chico Buarque, não adulava condenados nem defendia ditaduras vermelhas. Até nisso Tom era soberano e inigualável. Claro que não passou incólume pelo crivo dos patrulheiros ideológicos de plantão, como também sucedeu com Guimarães Rosa (outro gênio da raça!) e tantos outros. Havia acabado de comprar o seu último disco quando soube da sua morte pela TV. “Radamés e Pelé” é um chorinho espetacular que está inserido nessa obra, junto com outras pérolas. Aqui no Brasil, Tom está anos-luz à frente de qualquer outro. Foi um exemplo em todos os aspectos.

  • DAYANE

    Deste mal sofro eu também, meu amigo.