É difícil ler Revisão Criminal do Processo Delmiro Gouveia sem que a indignação tome conta do leitor. Mais difícil ainda é parar de lê-lo após concluir as linhas de ótima qualidade literária e inegável impulso anímico de Antônio Sapucaia, no prefácio da obra.

O desembargador aposentado foi responsável pela entrevista com Róseo Moraes, em 1968 – publicada na Gazeta de Alagoas, Jornal do Commercio, do Recife, e em O Cruzeiro -, que deflagrou o lento processo, só concluído em 1983, pelo Tribunal de Justiça.

Como advogados de Róseo Moraes e de seu compadre José Ignácio Pia, o Jacaré, morto pela polícia alagoana, em 1924 – cinco anos após o julgamento de ambos (o crime aconteceu em 10 de outubro de 1917) -, Antônio Aleixo Paes de Albuquerque e Moacir Medeiros de Sant’Ana trilharam um longo e tortuoso caminho, encarando uma sequência de injustiças e crueldades do sistema judicial alagoano, finalmente corrigida, mas já sem a presença das vítimas de uma trama infernal: eles foram absolvidos post mortem.

Só a soma desses incontáveis e inexplicáveis erros, a começar pela brutal tortura a que foram submetidos os dois réus logo após a morte de Delmiro Gouveia, poderia resultar em algo tão pavoroso, definido assim por Sapucaia: “Os dois maiores erros do judiciário do Brasil foi o dos irmãos Naves, em Minas Gerais, e, em Alagoas, o de Delmiro Gouveia”.

O desembargador aposentado chegou a ser advogado de Róseo, a partir de 1968, mas teve de abandonar o caso em 1971, quando assumiu o cargo de juiz. Nunca deixou, porém, de acompanhar as investigações e as dificuldades enfrentadas pelos seus brilhantes e persistentes colegas.

No encerramento do texto que prefacia a obra de Antônio Aleixo e Moacir Sant’Ana – que levaram o  pedido de revisão, vitorioso, ao TJ -, Sapucaia nos chama à consciência, qual Émile Zola, em J’accuse! (sobre o caso Dreyfus):

“Este livro poderá servir de advertência às autoridades policiais e judiciárias, pois, apesar de cerrada vigilância, em torno dos direitos humanos, por esse Brasil afora a tormenta física e moral ainda frequenta delegacias de polícia e cartórios, por razões as mais diversas e difíceis de serem catalogadas.”

Revisão Criminal do Processo de Delmiro Gouveia é um livro atual, sobre a história de Alagoas, mas, sobretudo, uma obra para ficar na história (estará disponível à venda na Imprensa Oficial Graciliano Ramos).

 

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Olavo Calheiros confirma título de grande ausente na Assembleia
  • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

    Êita, Caro Ricardo MOTA … e St’Ana ‘tá + perto da Fábrica de Linhas de Algodão, úi!
    > COMIDA, DIVERSÃO E ARTE desde 1911 com estradas para a capital:
    – 2 vilas operária: na cidade e n’USINA Angiquinho eletrizando escolas e águas gratuitas.
    > CASAS grandes com esgotos, vilas com coleta e saneamento básico, sustentável. [27set15]
    a PEDRA Delmira transformando LÃ bruta em fiação divina em maquinário importado.
    https://www.tnh1.com.br/noticia/nid/pioneirismo-industrializacao-sustentavel-para-desenvolver-o-sertao

  • Há Lagoas

    Excelente dica de leitura, preciso ler.

  • Antônio Carlos Barbosa

    No imperdível programa Doze e Dez Noticias de hoje (28/08), seu comentário, com a alma, sobre os fatos verídicos narrados no livro, aguçou-me o interesse em ler o mesmo. O pior acontecimento que pode passar um ser humano, é a imputação de uma injustiça, principalmente, quando a injustiça é aplicada de forma consciente de sua aplicação, quando os atores da polícia, do MP e da Justiça, sabem da inocência dos imputados/condenados e mesmo assim, ferem de morte a justiça, a tornado uma injustiça.
    Não entendo como esses atores que promovem injustiça, e continuam promovendo de forma consciente, conseguem conviver consigo e com os outros.
    Como disse Freud “nada do que vem do humano, me causa espanto”.

  • JEu

    Quando a justiça humana falha e se torna irremediável, a não ser para a memória póstuma dos injustiçados, então precisamos ter certeza da infalibilidade da Justiça Divina, que adentra a consciência da cada pessoa… que estes casos sejam, realmente, fatores o despertamento das consciências envolvidas nos escabrosos casos que, como dito no texto, ainda ocorrem em nosso falho (e muitas vezes “interesseiro”) sistema judicial… e parabéns ao Desembargador aposentado Antônio Sapucaia.