Modas e modismos sempre aconteceram na história humana. Chegam e partem com a mesma velocidade, quase sempre sem deixar saudades, porque são logo substituídos por outros contágios de gosto e comportamento.

Somos uma espécie novidadeira, eis o que não muda.

Por esses tempos nasceram e se criaram os influenciadores da internet, uma gente que arregimenta seguidores fervorosos, a quem eles tratam de guiar para tudo: roupas, músicas, política, religião etc. Nada, porém, que os faça pensar – isso dá trabalho e é melhor terceirizar, pois não?

Qual a razão do sucesso desses personagens tão contemporâneos?

Sou inclinado a acreditar que eles descobriram o segredo do nosso verdadeiro DNA, a fórmula mágica da qual não podemos escapar: falam direto ao ‘coração’.

Há de se entender que tratamos aqui do território exclusivo das emoções, onde a razão não consegue penetrar nem mesmo por uma fresta que se abra distraidamente no peito do amador: “Somos a mesma sopa de emoções dos homens da caverna”, garante o biólogo Eduard O. Wilson, no seu A conquista social da terra.

E não foi por falta de aviso do tal do Sigmund Freud que estamos nos rendendo sem luta aos que exploram os nossos instintos mais primitivos.

A internet vive a iminência de se transformar “em uma arma de grande escala”, segundo o seu criador, Tim Berners-Lee, para prazer e gáudio de estúpidos de toda ordem. E quanto mais eles avançam rumo ao fundo da alma do homem em estado bruto, maior a sua chance de glória.

Encontram, é verdade, mentes vulneráveis, terrenos baldios dispostos a receber qualquer lixo que por lá for jogado. Questionar, duvidar? “Nossa arrogância é pensar que não precisamos mais pensar”, afirma o cientista político Mark Lilla (A mente imprudente), para quem ninguém tem clareza desse momento e/ou como lidar com ele.

Hannah Arendt, numa reflexão precisa, relacionou a nossa crescente indisposição para pensar com a “banalidade do mal”:

– Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das expressões do mal, o mal banal, como fruto do não exercício do pensar?

Mesmo sendo o território onde as ideias podem trafegar sem filtros, a internet só tem obtido sucesso com ‘o coração’, pelo que está posto. Ao contrário, tem sido um fracasso de público com mentes cada vez mais preguiçosas. Um grande debate de ideias, o mais abrangente que a humanidade já teria conhecido? Isso é algo tão improvável quanto estabelecer o diálogo entre os surdos que urram aos da sua tribo, em ataque aos do bando inimigo (virtual ou não).

Acredito que só há de valer o conhecimento que muda o nosso comportamento, mas aquele não tem tido a mínima chance de prosperar na rede. Ao contrário, ganham espaço e prestígio os que exploram os impulsos mais baixos da espécie tão arredia à razão, esta que compomos.

Ainda sinto arrepios, creiam, sempre que me contam o que se anda pregando nas redes sociais (me mantenho, por precaução, fora delas). O espetáculo de ódio e crescente agressividade tem assustado o mundo inteiro, e todos parecem se sentir impotentes em lidar com as hordas de bárbaros que vão se revelando e se multiplicando na web.

Aqui no Brasil, fica evidenciado, elas também têm impulsionado a mão assassina em direção à morte física dos divergentes, como se tivéssemos o nosso próprio Estado Islâmico diluído entre grupos os mais diversos.

A utopia de outros tempos vai dando lugar à distopia para aqueles que tentam analisar com algum distanciamento o que vem ocorrendo: a tecnologia da aproximação vai se tornando a tal “arma de grande escala”, resultado de uma alquimia em que a mentira se funde ao ódio – tudo tão demasiado humano – e se espalha como uma nova peste negra, contaminando os espíritos, já não os corpos.

“As pessoas não acreditam mais nos fatos”, grita Noam Chomsky, um dos últimos grandes – e vilipendiados – pensadores que restaram. Mas quem há de ouvi-lo, se não os mesmos que se sentem incomodados com o veneno que empesta o ar?

O processo civilizatório, tão necessário ao convívio coletivo, está navegando em velas abertas e sem timoneiro para um continente desconhecido, de onde não sabemos ainda se nos será possível sair.

Não podemos perder de vista, entretanto, que as redes sociais não são racistas, misóginas, xenófobas, homofóbicas ou fanáticas – nada disso: o problema é quem está à frente do teclado.

A fera já sentiu o gosto do sangue.

Mesmo fora da disputa, Rui mantém apoio a Biu de Lira
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  • Juvenal Gonçalves

    Eita!!!
    Profundo, caro Ricardo!
    Problema é que a “menor minoria” se incomoda com isso.
    Vejo pessoas que, se não exagero um pouco, nunca leram um livro, engajadas nessa nova “onda”, disseminando ainda, mesmo que involuntariamente o “prazer” de nela navegar. Vejo isso bem perto, no nosso convívio, e no mais longe do meu alcance…
    É pena que o exercício do pensar está cada sendo substituído pelo exercício do tentar se igualar ao seu “seguido”, como uma meta…
    Mas, como um “sal”, essa “mínima minoria” que ainda se dá ao luxo de pensar, pode “conservar” bons costumes, ou, pelo menos, não se deixar “apodrecer”, se não exagero na colocação!
    Parabéns, Ricardo, pela ótima reflexão. Bom dia a todos!

    • Sertanejo ENLUTADO esperando Justiça e PAZ com FÉ

      Valeu o cacófato: LER um livro! – SOM feio, desagradável, árgh!
      Uma GAFE tão comum com’ÁGUA em nascente: ‘lêRUMlivro’ é um dos cófatos mais INFAMES que todo @MUNDO usa impunemente … rsRs
      MODA eterna ao GOSTO acadêmico preguiçoso de NINAR até o torpor domesticáveis e eventuais CURIOSIDADES ao largo da aventura HUMANA transformadora do @MUNDO.
      Pois CACÓFATOS nos distraem dos destratos destoantes das TOADAS implícitas nas entrelinhas de cada PÁGINA virada.
      E no VIRA-VIRA se revela a face OCULTA desta nave Terra fumaçando toxinas semânticas e poluindo ÁGUAS românticas, alertou-se QUINTA 22mar18: Dia Mundial da ÁGUA desde 1992, querem as Nações UNIDAS!
      https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-nacional-da-agua.htm

  • JEu

    Bom dia, Ricardo. Apesar das chuvas que trazem algum alívio para o calor intenso destes últimos meses, parece que a “temperatura” das redes sociais não baixa nem um grau sequer, ao que parece… e tudo por causa da ausência de reflexão ética e moral daqueles que, ou fabricam as tais notícias odiosas ou leem os textos sem o mínimo esforço para entendê-los, analisá-los e digeri-los corretamente… mas, não será isso o resultado da nossa incapacidade social de fornecer as bases, os fundamentos sobre os quais precisam ser construídos os raciocínios lógicos e filosóficos capazes de encontrar o que é real, verdadeiro, necessário e indispensável?!!! onde está a família, base para uma sociedade justa, ordeira, ética e moralmente saudável?!!! para onde foram banidos os conceitos de justiça, lealdade, fidelidade, honestidade, decência, harmonia, certo, correto, e outros valores que, parece, foram expurgados de nossa sociedade?!!! Creio que não à toa que Paulo de Tarso um dia disse: tudo me é lícito conhecer, porém nem tudo me convêm… denotando uma compreensão superior entre o saber, o conhecer e o sentir e proceder… se o nosso problema está no sentir (coisas do coração), creio que este sentir também pode e deve ser educado… e, creio, a única maneira será a do exemplo… alguém já o disse, uma vez, que o ser humano é produto do meio em que vive… o que quer dizer que o exemplo arrasta, convence, muda, transforma e forja o pensar e o sentir daqueles que vivem sob sua influência… onde estão, pois, os bons exemplos que deveríamos esperar a começar da família indo até aos mais altos líderes (em todos os níveis… até nas autoridades religiosas) de nosso país?!!! se já não existem bons exemplos em quantidade e em qualidade suficientes para influenciar a grande maioria, o que poderemos esperar de nossa sociedade?!!! já o disse, aqui, algumas vezes, que a humanidade atual está correndo em direção de sua auto-destruição… creio que só o bem, o bom, o ético, o moral, o honesto, o justo, o correto podem nos “salvar” de um suicídio… que adianta, então, alcançar níveis tão altos em conhecimentos tecnológicos, se permanecemos moralmente a milhões de quilômetros de distância do “sentir” civilizatório?!!! Não foi à toa, para mim, que alguém inesquecível, disse, há mais de dois mil anos: “não faças aos outros o que não desejas para ti mesmo”, como a dizer que todo processo civilizatório não poderá alcançar seus verdadeiros fins se o “coração” não estiver suficientemente “evoluído” para o bem, para o amor a si mesmo e ao próximo… e para não deixar dúvidas que devemos nos esforçar para fazer do viver nesta terra a melhor e mais justa convivência possível, também afirmou em sua oração: “que seja feita Vossa vontade na terra como é feita no céu”… e tudo, creio, que podemos fazer, o que nos falta é a vontade de vencer, não os outros, mas o egoísmo e o orgulho que nos faz pensar que somos “melhores” e que “merecemos” mais que os outros… esquecidos que também nos foi dito: “aquele que quiser ser o maior dentre vós, seja o servidor de todos”… Bom domingo.

  • Desde Colonia 1500 somos Portugais & RAMALHo$ – loucura!

    Santo CRISTO, JEu: c’as panelas VAZIAS, vam’às ruas, CUMPADI!
    É a HORA agora, reza a LENDA eleiçoeira dos aÑu$ pares solteiros.
    Uma LINDA lenda, poética até QUAGE desafinada. – Derretido PICOLÉ.
    Desatinos mormente de BANDAS forrozanaod entre BUNDAS frenéticas, AXÉ!

  • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

    Caro RICARDO, … um bom domingo ao SOM do melhor da BahÊa!
    musga de cumpadi GUILHERME modeando c’a mão BOBA na Rede de TV em ascenção nos 1970’s da marolinha democrôta 1964-1985: Dancin’ Days 21ª novela das OITO e pouco quase 21 horas … rsRs
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Dancin'_Days
    E assim lançam-se novidades em piscinas cheias de RATOS (CaZZuZZa). Tipo a MODA biodegradada no coLLo do AMBIENTALISTA Sir Ney em 1985, depois arrebentado coLLo impixado em 1992. MODA pegajosa? … Kkkkk
    Apois
    – AMANHÃ meRmo q’uns NUM queiram será d’ôutUs q’esper’o dia RAIAR!
    > Amanhã ódios aplacados TEMORES será PLENO … Pleno! … Pleno!
    [AMANHÃ – G Arantes], http://www.vagalume.com.br/guilherme-arantes/amanha.html
    TRILHA de novela com 173 capítulos DE 10jul1978 ATÉ 27jan197 depois d’Astro e antes de PAI Herói.

  • santos

    “O homem é essencialmente mau”(ThomaS Hobbes)

  • Antonio Moreira

    Eu ouvi no rádio, que uma equipe de especialista nesse ramo(influenciador)viria ao Brasil somente para estudar o comportamento do nosso povo e depois aplicar a sua técnica
    nos aplicativos da internet para influenciar nos resultados das nossas próximas eleições.
    A serviço de quem?

    Quanto não se gasta com propaganda enganosa para dizer que tudo está uma maravilha!
    Quantos ganhando dinheiro dizendo aquilo que o povo quer ouvir!
    Quantos formadores de opinião falam que o “cara” é decente e muita gente que conhece o “cara” sabe que não é!

    As vezes, prefiro ficar calado quando eventualmente pessoas chegam com mentiras com a intenção de obter os seus objetivos. O meu coador de de café já está muito usado e não é difícil só sair/coar um “NÃO”!

    Pode faltar o dinheiro para botar crédito, mas todo mundo tem um celular.
    No meu trabalho, quase todo dia eu cobro um “obrigado compulsório”.
    Acabo de atender(com toda boa vontade) e a pessoa vai saindo sem dizer nada.
    Então, eu digo a pessoa: Como se diz que não paga nada?
    aí escuto um obrigado acanhado e sorridente.
    Até o futuro.

  • zelita

    Só aplaudir. Disse tudo que penso

  • Antonio Carlos Barbosa

    Desde os nossos ancestrais, que a propaganda é assim, os grupo com seus influenciadores, tentando vender seus mitos, seus messias, e utilizando os inocentes úteis e influenciáveis, para ganhar o poder. Hoje se acirrou e tomou a proporção geral, pelas facilidades da comunicação/informação instantânea, o mundo hoje é uma tribo de tamanho pequeno, qualquer informação chega a todos imediatamente.
    A questão é como formar opinião própria, sem o conhecimento sobre o humano, sem conhecer a Filosofia, a Sociologia, a Ciência, a Cultura, a Poesia, a Arte ……
    A cada ano o mundo torna-se um lugar mais perigoso e intolerante, pois falta o respeito ao outro.
    Infelizmente, será sempre assim, piorando, até o fim dos tempos.

  • Há Lagoas

    O triste é saber que este rebanho arregimentado por tais influenciadores está muito longe de ser vítima…

  • Joilson Gouveia Bel&Cel RR

    Eh! Pelo visto serei CENSURADO outra vez, né? Fui ácido, acre e azedo em minhas diatribes, contrapontos, reproches e objurgações ou fui “desproporcional”?
    Onde o debate dialético, democrático, urbano e cidadão? 😮
    Abr
    *JG

    Meu caro Joilson:

    Infelizmente, ainda tenho muitas outras atividades além desta – moderar comentários.
    Por mais de uma vez, já lhe pedi que faça textos menores, levando com conta que eu não disponho
    de tanto tampo para ler – como se faz necessário – comentários longuíssimos, como você envia.
    Espero que agora você atenda aos apelos do blog.

    No mais, o espaço continua à disposição para você concordar ou discordar, sabendo, porém, que
    eu não posso me dedicar exclusivamente aos seus textos.

    Grato pela compreensão,

    Ricardo Mota

    • Joilson Gouveia Bel&Cel RR

      Mui grato pela urbana atenção e breve resposta explicativa, ao tempo em que insto a edição do mesmo texto “censurado”, mas bem resumido, a saber:
      Ora, o assestado aqui diverge, diferencia, afronta e contrapõe-se ao dito mais abaixo pelo grande autor (“influenciador”, enquanto blogueiro do mais renomado, visitado e comentado blog caeté e tupiniquim) o qual, que se diz “ausente” ou “fora delas, por precaução” das redes sociais (me mantenho, por precaução, fora delas) – logo, delas somente sabe por ouvir dizer, e se deixando “influenciar” pelos “bárbaros” que nelas trafegam ou navegam ou se digladiam; ou não? – Na íntegra in http://gouveiacel.blogspot.com.br/2018/03/influente-influenciador-influenciando.html
      Abr
      *JG

  • Joilson Gouveia Bel&Cel RR

    Relembrando.
    Simples: na Educação poderão continuar na pugna pela inescrupulosa, insidiosa e criminosa doutrinação ideológica e pregação da ideologia de gênero desde o Ensino Infantil e Fundamental, bem por isso repudiarem à Escola Sem Partidos; já não se lhes são bastantes os ensinos secundarista e universitário como inocentes-úteis da linha-de-frente, urge, pois, seguir ao escólio leninista, a saber:
    “Eis o dogma: “Precisamos odiar. O ódio é a base do comunismo. As crianças devem ser ensinadas a odiar seus pais se eles não são comunistas” – Lênin. https://www.pensador.com/frase/MTQ4MjE5Nw/ – Na íntegra in http://gouveiacel.blogspot.com.br/2017/10/seriam-tais-haters-os-socialistas.html
    Abr
    *JG