Brasília, uma capital maldita

Brasília é produto do voluntarismo de Juscelino Kubitschek, o “artista do impossível”, na definição de Cláudio Bojunga. Foi JK quem inaugurou a capital do país, em 1960, tornando-a, de fato e de direito, centro do poder.

E foi na construção de Brasília, conta o jornalista e escritor Flávio Tavares, no excelente O dia em que Getúlio matou Allende, que as empreiteiras começaram a ganhar corpo, até que se transformassem em grandes assaltantes dos cofres públicos.

O resto da história não registra muitos acontecimentos dignos de comemoração.

Já no ano seguinte, em 1961, o sucessor de JK, Jânio Quadros, renunciou motivado por supostas ‘forças ocultas’, que atuariam em Brasília, sete meses depois de assumir a presidência. O vice dele, João Goulart, foi derrubado três anos depois pelos militares, que nos empurraram goela abaixo cinco generais no comando da nação.

O primeiro presidente pós-ditadura, Tancredo Neves, morreu antes de assumir o cargo em Brasília, deixando o notório José Sarney onde ninguém imaginava que ele pudesse chegar.

A capital da República recebeu, em 1990, o primeiro presidente eleito na nova democracia: Fernando Collor, que não sobreviveu ao impeachment.

Depois de duas experiências exitosas – FHC e Lula -, aconteceu o segundo impeachment, abatendo a primeira mulher presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff. Até que chegamos aos tempos temerários, que já se anunciam na iminência de mais um final traumático.

Não é pouco, mas não é tudo.

Os governadores do Distrito Federal, onde brilha Brasília, reproduzem o pior do modelo da política nacional. Joaquim Roriz, que administrou por quatro mandatos o DF, está impedido pela lei da Ficha Limpa de disputar eleições, tão sujo é o seu currículo. Dos sucessores de Roriz, dois estão presos – José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz.

É demais para uma cidade reconhecida como ‘patrimônio cultural da humanidade’: lá se concentra a elite do poder no país – o que temos de melhor e de pior.

Eu não acredito em forças sobrenaturais, mas se há maldição em Brasília, ela vem dos homens.