Eis um casamento perfeito da modernidade: as redes sociais e o politicamente correto. Os primeiros filhotes, todos carregando mutações genéticas assombrosas, surgem aos múltiplos. Podem parecer pequenos monstrinhos, mas precisamos nos acostumar a vê-los sem medo e a desprezá-los.

Após a divulgação de uma conquista científica espetacular – o pouso da sonda robótica Philae num meteoro a 500 milhões de quilômetros da Terra – apareceram os protestos dos chatonéticos.

Motivo?

Um dos cientistas envolvidos na operação apareceu vestido em uma camisa com estampas de mulheres em poses sensuais. Na verdade, a réplica de uma obra de arte, uma pintura, que uma amiga lhe presenteara. Veio a sentença: “Machista!”. “Sexista!”.

Condenado, o homem da Ciência pediu desculpas e disse que não havia percebido que fizera tanto mal a olhos mais sensíveis.

A virtude infantilizada invadiu as redes sociais em personalidades criadas ao bel-prazer do (a) dono (a), não permitindo negociação, tampouco admiti-la no outro. O nosso instinto tribalista não consegue prescindir de inimigos, a quem possamos odiar com todas as forças, sem o que não poderemos dormir em paz.

Só os extremos se reconhecem neste ambiente belicoso, deixando o entremeio no mais absoluto vazio.

Ainda que eu tenha montado minha casamata à prova de redistas raivosos – é destes que trato aqui -, ouço dos amigos que a frequentam que os adjetivos ofensivos tornaram-se majoritários nos diálogos de surdos via Internet (o que não passou com as eleições).

Nem por isso sou preservado dos petardos, por conta deste pequeno espaço no TNH1. Não foram poucas as vezes em que fui xingado impiedosamente por tomar meus chopes, aos sábados, em lugar público (!).

Não posso e não devo fazê-lo, gritam do lado de lá alguns espionautas. Eles têm todo o direito de discordar do que está posto aqui, sem exigir, no entanto, que eu seja um monge trapista (e até estes tomam a sua cervejinha).

A vigilância sobre a vida alheia, própria de quem tem uma existência vazia, já chegou ao paroxismo, resultando numa acelerada produção de voyeurs desaforados e infelizes.

Parece que não estávamos, majoritariamente, preparados para a novidade tecnológica que deveria aproximar as pessoas, mas que tem contribuído até para afastar “amigos de infância”.

Praticamos um morticínio coletivo dos superegos em frente à tela do computador, e nem ao menos uma cova rasa lhes demos. É assim que a fúria escapa pelos dedos, sem chance de defesa para os interlocutores.

Compartilhar no idioma da intolerância significa aniquilar.

É claro que temos como reverter esse quadro desalentador, desde que cheguemos à conclusão de que não dá para piorar ainda mais.

Por ora, fico a me indagar: “E se eu me chamasse Raimundo?”

Desconfio que Drummond ao escrever Poema de sete faces talvez tenha imaginado um “vasto mundo” que haveria de ser povoado por um bando furibundo – uma (quase) rima que não tem solução.

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  • J.Monteiro

    Raimundo ou Ricardo, isso provavelmente não faria grande diferença, pois a lira da rima, e o pulsar do saber, estão entranhados em seu ser. Quanto aos “doidiloides” que povoam as redes sociais, são moscas zumbidoras, não sobreviverão, tem vida curta, serão levados pelos ventos do esquecimento, e deles não ficarão nem raiz nem ramos. Quanto a você, meu caro Ricardo Mota, ou Raimundo se assim o fosse, não hã de se intimidar perdendo tempo olhando para baixo, olhe para a frente e para o alto, em busca do saber, (e mesmo que opte por tornar-se um monge), continue tomando sua “cervejinha”, e, não há de lhe faltar sabedoria e inspiração. Vida longa, ao bravo e combativo Jornalista.

  • JEu

    Bem, a democracia inclui o direito de discordar… mesmo que a discordância pareça sem senso… é o que penso…rsrs… Vejamos a Dilma Roussef… discordou o tempo todo das idéias sobre a economia defendidas por Aécio Neves… e agora, as está aplicando todas… não é algo que não tem senso? É, está faltando mesmo é bom senso na vida, no dia a dia e na internet… este é o Brasil democrático (com pessoas sem qualquer senso que elegem os sem bom senso com a coisa pública, porque não têm educação suficiente para julgar com olhos de ver – ou seja – com bom senso)…

  • Gutemberg Lócio

    Não serias uma solução !

  • Noélia Costa

    Realmente,muitas vezes na redes sociais,os sentimentos diversos passam dos limites reais,mais ainda vejo como muito positiva e de grande socialização ,levando em consideração o mundo atual,onde pessoas se isolam e não compartilham suas experiências,acho uma forma bacana de conhecer pessoas,reencontrar amizades antigas e compartilhar suas alegrias e tristezas da vida,se for de forma correta,bacana,é melhor!Encontrei no face todas ou quase todas minhas amigas do colégio ,e hoje nos encontramos mensalmente!Parabéns pelo texto!

  • Frederico Farias

    Réu confesso, vinicista confesso: “aos sábados em casa tomo um porre…”, após os sabe-se lá trinta e tantos chopps em local público em boa companhia.
    Eu posso!

  • Antonio

    Mereceria o carinhoso “apelido” de MUNDICO! No nome Raimundo Nonato! Sem nenhuma afetação de … qualquer espécie.

  • Antonio

    Os “TOMBOS” nem sempre são pelas pedras do caminho! Há muita estupidez e ignorância no “HUMANO”.E a alienação , inclusive ALCOÓLICA,com conivência da SOCIEDADE. LIBERDADE, LIBERDADE , SEMPRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • Luiz Carlos Godoy

    “Um dos cientistas envolvidos na operação apareceu vestido em uma camisa com estampas de mulheres em poses sensuais. Na verdade, a réplica de uma obra de arte, uma pintura, que uma amiga lhe presenteara. Veio a sentença: “Machista!”. “Sexista!”.”

    Oush!

  • Luiz Carlos Godoy

    “Nem por isso sou preservado dos petardos, por conta deste pequeno espaço no TNH1. Não foram poucas as vezes em que fui xingado impiedosamente por tomar meus chopes, aos sábados, em lugar público (!).”

    Oush! Oush!

  • AAraujosilva

    Óxente! Cientistas, choppistas, vinicistas, cronistas é tudo sob vara(internética!): impropérios!!! Ninguém esta obrigado a seguir o malfadado ‘politicamente correto’, em voga. Pior do que isso, só mesmo discordar do lulloptralhismo e de seus famigerados mensalão, petrolão e outros “ão”. A patrulha ideológica a soldo da república dos ptralhas salta com quatro pedras na mão …
    (AAraujosilva, desde os confins da Jatiúca em MCZ/AL)

  • João Carlos Uchoa

    Simplesmente espetacular esse artigo por você escrito, meu caro Ricardo Mota. Mostra a pequenez de certos terráqueos, mas na maioria a sensibilidade e inteligência do ser humano, no geral. Quanto à crítica de você beber seu chope aos sábados os ignore. Sabem de nada inocentes e ridículos!!!

  • Solon Levi Rodrigues

    Tô preocupado em ser HOMEM, BRANCO E HETERO, vixe será que sou politicamente incorreto.