Uma das coisas mais complicadas com as quais um não físico se depara é o Princípio da Incerteza, de Heinsenberg, basilar da Física Quântica.

Até mesmo por causa da dificuldade geral de compreendê-la com alguma clareza, tudo que é pós-moderno ganhou o “quântica” como adjetivo, uma sinalização de saber profundo e para poucos: psicologia quântica, filosofia idem, e segue a embromação clássica.

A ciência, defendem alguns dos que pretensamente a dominam, não há de ser um bem comum e é levada ao território do hermetismo – substantivo derivado de um deus ladrão –, algo próximo ao sobrenatural, ainda que aqueles que verdadeiramente dedicam a ela suas vidas reneguem a prática da adivinhação e similares como princípio inegociável.

Mas estamos falando de humanos, não de mitos, e os primeiros somos incorrigíveis; os outros arredondamos ao gosto.

Fico com o raso entendimento que tenho sobre a matéria, que há de servir para o que vem abaixo: o Princípio da Incerteza, em resumo, estabelece que é impossível saber ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula – um elétron – em movimento. Haveremos de escolher: ou ficamos com a primeira ou abraçamos a última.

O fato é que não damos a menor chance à dúvida nos julgamentos apressados que fazemos no cotidiano, mais velozes do que um elétron no “vazio” da matéria, o que nos revela humanos, principalmente quando não dispomos da razão – logo ela? – para avaliar escolhas e escolhidos.

Somos todos, sim, vulneráveis à primeira impressão, que nos rouba alguns belos e insabidos encontros, ao tempo que nos preserva, assim imaginamos, de riscos premonitórios – o inimigo que se fez à distância; o amigo que não foi.

Será sempre a nossa intransferível certeza a nos guiar, embora tão frágil quanto uma barreira fina de isopor ante a bola de metal em brasa. Simpatias e antipatias nos aproximam ou nos separam com a mesma força, movidos que somos pelo desejo e pelo medo, ambos irracionais e atávicos, nos contatos inevitáveis. E nem ao menos nos damos conta das razões dos bons ou maus augúrios. (“As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam” – Sergio Natureza.)

É impossível saber o que perdemos ou o que ganhamos por causa das nossas escolhas, sempre aleatórias e baseadas nos instintos, que a mesma ciência há de condenar pela permanência indissociável à espécie.

De quando em vez, eis que descobrimos o erro e nos encantamos com isso, o que não é suficiente para que possamos resistir aos novos impulsos de atração e repulsa.

Se (Werner) Heinsenberg tivesse optado pelo estudo sobre os homens, e não as partículas invisíveis a olhos nus – e até mal vestidos -, talvez tivesse voltado à Física newtoniana, para chegar à conclusão de que os corpos sociais, coletivos, só poderiam ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo quando atuasse uma força gravitacional imensurável e desconhecida.

Quem sabe, preferiria continuar a buscar nos elétrons o que não conseguiu encontrar na nossa incerta e incompreensível história.

A desistência de Heloísa Helena e a derrota de Judson Cabral
Um breve 'passa-fora' aos que defendem a volta da ditadura
  • JEu

    Dizem que Deus jamais repete suas criações. Tudo, na natureza, revela, em seus mínimos detalhes uma genialidade e uma variedade que jamais nos entediamos de observar e estudar… Assim, não poderia o ser humano ser algo diferente: cada pessoa é um mundo à parte, único e, portanto, imprevisível… portanto, toda ciência, acredito, que estude o ser humano em seus aspectos emocionais e psicológicos, há de ser tão ampla, complexa e variável quanto cada pessoa… Querer-se classificar comportamentos e ações de forma rígida e previsível é, ao meu ver, caminhar para a auto-destruição científica… Assim, pois, a história da própria humanidade… lógico que dentro do meu entendimento… No entanto, creio que o ser humano é dotado de algo “maior” pois tem necessidade de sentimentos nobres que o conduzam à felicidade (outra grande incerteza) e, creio, por isso alguém nos disse que jamais seremos felizes sem um sentimento também “maior” o amor ao próximo…
    Excelente texto Ricardo. Muito obrigado. Bom domingo.

  • Antonio

    ” Depois de alguns milhares de séculos de lutas, o mal está cada vez mais bem plantado, o crime não só compensa como está INSTITUCIONALIZADO, o masoquismo não só não é combatido como é até estimulado. Temos que reconhecer que Deus envelheceu e o Demônio evoluiu.”Ps – O Demônio é Vermelho…

  • Celso Tavares

    Ricardo,
    Um “princípio” que nos possibilitará avaliar a gestão do próximo governador, pois envolve dezenas de variáveis, é o controle do AEDES AEGYPTI.
    Se a situação for mantida ficará marcada a nossa incapacidade e, pior, o Setor Saúde entrará em colapso, acorde al Leis de Murphy

  • Celso Tavares

    Ricardo,
    O comentário publicado acima seguiu para o TNH1 por obra e poderes da Internet, sem que eu acionasse nenhum botão.
    Resumindo, é certo e sabido que o controle de AEDES deve ser política de Estado por sua magnitude e transcendência. Implica, pois envolvimento pleno e profundo envolvimento do Estado, em todas as instâncias do Executivo, Legislativo e Judiciário, sem nos esquecermos de todas as estruturas que desempenham papéis importantes nesse processo, tais como o MP.
    Ao Estado cabe instar a Sociedade a participar efetivamente desse processo, primeiramente dando-lhe exemplos de decência, honestidade e cuidado com a Coisa Pública e verdadeiro cuidado e carinho com a população, deixando de lado aqueles intoleráveis abraços e beijos das campanhas. Simultaneamente, vamos aplicar o que os Códigos legais impõem aos que põem em risco a saúde alheia: multas, cadeia, tudo o que for legal e moral.
    Atribuir aos técnicos a responsabilidade pelo controle do dengue é deboche, achincalhe, molecagem. No Dia D do Dengue deveriam estar presentes o Governador, Prefeito, Presidentes das Câmaras, Assembléia Legislativa, de todos os Tribunais e Ministério Publica. Ainda somos um grande engenho e sem a presença deles o fato carece de valor. É uma maldade o que fazem com os técnicos da Secretarias: desenvolver uma ação inócua num sábado, repetindo o que vem se arrastando há quase três décadas sem resultados. Algo estúpido, temos que convir.
    Por sua complexidade, o controle do dengue pode ser posto com um dos indicadores de avaliação da gestão do próximo governador. Torço, pois, pelo seu sucesso, afinal ele vai se defrontar com a epidemia de Febre Chikungunya, o que vai determinar uma crise sem antecedentes em Alagoas – o que faremos com 20 000 alagoanos que podem adoecer numa única semana? Quem irá atendê-los? As equipes de saúde também adoecem e em determinados momentos teremos 30% dos profissionais incapacitados de trabalhar. Em 15 dias a maioria se recuperará, mas até 50% deles podem necessitar de cuidados, uma vez que podem permanecer com dores nas juntas, às vezes incapacitantes por meses. E os que exigirão cuidados fisioterapicos por anos?
    Quem sustentará essas pessoas e suas famílias, pois muitos não têm vínculos empregaticios. O Setor de Serviços como ficará?
    O nosso cotidiano de sofrimento e mortes evitáveis não pode continuar indefinidamente, mas quando penso nisso lembro das leis de Murphy, quando se afirma que nada está tão ruim que não possa piorar.
    Que tenhamos uma boa semana,
    Celso
    Em tempo: alguns pacientes com Chikungunya desenvolvem uma artrite tão complexa e grave como a Artrite Reumatóide, necessitando de medicamentos caríssimos e cuidados fisioterapicos por anos. Eles também desenvolvem depressão e pergunto: onde estão os psiquiatras para tratá-los? E os recém-nascidos afetados pela doença? Podem apresentar sequelas permanentes! E por aí vamos.

  • Luiz Carlos Godoy

    Essas “peripécias” da Física Quântica têm sido usadas para “explicar” diversas outras teorias sobre a clássica pergunta: “De onde viemos, o que somos e para onde vamos”.
    Assim como a Bíblia, invoca-se algumas verdades para “fundamentar” outras mentiras.

    Mas, de qualquer forma, a Física Quântica continua cada vez mais sendo um tema instigante. Para quem gosta de filmes de ficção científica, é um prato cheio.
    “Qualquer um que não se choque com a Mecânica Quântica é porque não a entendeu.”
    (Niels Bohr)

  • pai anonimo

    Ricardo.

    Gostaria humildemente de propor a publicaçao de uma situaçao critica a que estao passando os alunos do curso de formaçao policial.
    Alem do calote em verbas para compra de uniforme e de diarias para serviços extras como o da eleiçao e enem, os alunos estao prestes a se formar e ainda nao deram sequer um disparo. A ementa do curso preve que cada aluno efetue 150 disparos. Quando questionam, ainda ouvem o absurdo de que talvez por sorte consigam efetuar uns 20 disparos nestes ultimos 30 dias ate a formatura.

    Visto a gravidade a que a sociedade alagoana esta sendo submetida com tamanha ingerencia, solicito que tome ciencia e atraves do alcance de seu blog consigamos reverter esse quadro.