Nascer e crescer no mesmo ambiente não significa ter a mesma visão das coisas do mundo. Até se trazemos – quase – a mesma carga genética, sabemos que ela vai se somar ao longo da jornada às experiências que vão dar forma e conteúdo a personalidades únicas, desiguais e permanentemente mutantes. 

A Ciência busca encontrar a essência humana, sabendo de antemão que ela é fluida e há de tomar contornos diferentes, a se moldar aos acasos que se apresentam a cada caminho: uma pedra, outra pedra, nunca duas pedras iguais.

Assim se constroem os homens e mulheres comuns – todos nós: de uma soma que não haverá de dar o mesmo resultado jamais, porque cada alma tem a sua própria “digital”, irreplicável e fugidia, a receber, processar e manifestar cada evento da vida.

Há algo além do mistério na nossa essência, sobre a qual se debruçam estudiosos das mais diversas áreas de conhecimento, tateando e avançando sem ter a mínima ideia do lugar a que se pode chegar.

É interessante perceber, salvo equívoco, que conseguimos mais facilmente decifrar os homens quando eles estão em grupos, ou em bandos, se decidirmos usar uma palavra mais significativa historicamente.

É exatamente quando eles agem em conjunto, movidos pela mesma emoção, que os espécimes da mesma espécie encontram uma interpretação mais factível sobre o que chamamos de humanidade: a fúria, o prazer e até a catarse homogeneízam, tanto quanto possível e ainda que por um breve tempo, o comportamento coletivo.

São os nossos instintos primitivos a nos conduzir – cegos a guiar multidões. E se eles nos trouxeram até aqui e foram fundamentais para a nossa sobrevivência, não sabemos ainda o quanto nos impedem de avançar – na qualidade anímica – e como podemos anulá-los antes que se manifestem quase sempre de forma danosa.

Saber-se um homem comum, entranhado de uma herança que carrega miríades de outras formas de vida, é dar o primeiro passo em um caminho que não levará à equação que decifrará a alma humana, mas que pode fazer uma grande diferença na compreensão da sua diversidade:

“Cada homem é uma boa educação para si mesmo, desde que tenha a capacidade de se observar de perto” (Plínio, o Velho).

É saber-se um entre tantos adoráveis estúpidos, para que nos façamos mais adoráveis e menos estúpidos.

LOG: quinta-feira, 6 de fevereiro, 9h33
R$ 16 mi do MP: da Assembleia espera-se ação, não subtração
  • antonio xavier

    “A verdade é a subjetividade”,”O inferno são os outros”.Tudo depende do paradigma.O que é ser “subversivo?” Bicho homem é bicho peste”(Graça) Good sunday!!!

  • JEu

    É bem verdade, Ricardo, que somos pessoas únicas em nosso mundo interior. Como diz o ditado: cada cabeça, um mundo! E que também somos, em nossa complexidade, frutos do meio onde vivemos e onde sofremos a influência uns dos outros, principalmente do grupo social (ou tribo, como queiram) a que pertencemos. Não menos verdadeiro é que temos a capacidade única de nos adaptarmos a outro ambiente novo em que possamos vir a viver e que mudamos sempre, dependendo da necessidade de reação às circunstâncias, com a finalidade de adquirirmos segurança própria. É tudo muito simples e, ao mesmo tempo, muito complexo. Temos herança genética e de atavismos culturais e, ao mesmo tempo, temos a capacidade de inovarmos os costumes e hábitos. Creio, na realidade, que, de alguma forma, estamos sempre nos construindo e reconstruindo para um futuro que, talvez, nem mesmo conseguimos entender ou alcançar, ainda…! Muito bom dia.

  • maria auxiliadora araujo

    Bem vindo mestre, do seu lazer para a lida ! A sua abordagem de hoje me remeteu á D. Maria, sábia mãe,quando enredada nas tramas da ditadura, que se perguntava por que os filhos se tornaram tão diferentes… Ela administrava os choques de filho militante, filho padre ,filho médico no rigor da profissão , filha que escorregava para a militancia e era coagida pois mulher era para ser professora …mas, ledo engano da mãe ,cedo, ainda na “escola primária” , cada um já mostrava a que tinha vindo a esse mundo…

  • SEBASTIAOIGUATEMYRCADENACORDEIRO

    MATÉRIA,RAPAZ ; ACHO QUE ALGUNS FATORES EXISTENCIAIS ASSOCIADOS ÀS EXPERIÊNCIAS DA VIDA E A MATURIDADE , CRIAM UM CLIMA FAVORÁVEL A FE-
    NÔMENOS ATÉ CERTO PONTO , INEXPLICÁVEIS . ACOR-
    DEI HOJE PELA MANHÃ , COM UMA FRASE PRONTINHA ,
    SAÍDA DO “FORNO” NAQUELE EXATO MOMENTO , 6 HS.
    DA MANHÃ , E AGORA ( 10 HS.) , LEIO O SEU COMEN-
    TARIO DOMINGUEIRO QUE ABORDA QUESTÕES EXIS-
    TENCIAIS COMO , INSTINTO , AUTOCONHECIMENTO , ETC.
    ” A CERTEZA DE QUE , A ESMAGADORA MAIORIA DOS
    GESTORES “NESTEPAIZ” , SÃO EMBUSTEIROS CONTU-
    MAZES ; E QUE , UM MÉDICO BEM INTENCIONADO , SE
    SITUA À FRENTE DE UM PELOTÃO DE FUZILAMENTO ,
    QUANDO O ASSUNTO EM PAUTA , É UM SIMPLES ATESTADO ” ! OOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHHHHH !!!!

  • Luiz Carlos Godoy

    ‘Cada homem é uma boa educação para si mesmo, desde que tenha a capacidade de se observar de perto’ (Plínio, o Velho).
    “É saber-se um entre tantos adoráveis estúpidos, para que nos façamos mais adoráveis e menos estúpidos.”

    Também acredito que a orientação do filho da Cisalpina é um bom instrumento para podar nossa estupidez. Contudo, creio que também deve ser considerada a famosa máxima de Ortega y Gasset: “O homem é o homem e as suas circunstâncias”

    A arte (literatura, cinema, pinturas…) tem, há tempos, abordado o binômio estupidez/ circunstâncias.
    Penso que a estupidez é uma das variantes da loucura. Nessa toada, parece-me pertinente o conto “Olhos mortos de sono” (Anton Tchekhov – Editora Ediouro), que tem como pergunta subjacente a relação das condições externas (no caso do referido conto, a suspensão contínua do sono da adolescente – 13 anos – Varka, de forma criminosa pelos seus patrões).
    Não me parece que, examinando as circunstâncias da vida difícil de Varka, seja possível condená-la, tampouco enquadrá-la como estúpida.
    “Báiu-báiuchki-báiu…”

  • josé valteno dos santos

    Grande aula de sociologia, de ética e de antropologia, por conseguinte, de vida; para os seres que se querem pensantes, civilizados, “melhorados”…

  • mirya tavares pinto cardoso ferro

    Que bom acordar novamente aos domingos com essa leitura!

  • Anthony

    É o ser humano com as suas idiossincrasias. Graças a capacidade intrínseca de cada um, é possível várias leituras de um mesmo objeto, e que bom que isso é possível. Mas mesmo assim, é pelas diferenças que percebemos as semelhanças. Bom domingo a todos!

  • Luiz Antonio Maciel de Araujo

    Voltou inspirado bicho, senti sua falta querido.

  • Giselda Correia

    Bom vc de volta!!

  • Antonio Carlos

    Os nossos domingos, voltaram a ter um texto que aborda temos humanos, todos estavam órfãos dos textos. Belo retorno.