O título acima eu “roubei” do jornalista e escritor maranhense José Louzeiro, autor do livro Infância dos Mortos, que serviu como argumento para o filme Pixote, um dos maiores sucessos do bom cinema nacional (cada vez mais raro).

Em Aracelli, meu amor, Louzeiro narra de forma romanceada um dos crimes mais cruéis cometidos durante a ditadura militar. Aconteceu em 18 de maio de 1973 – há quarenta anos, portanto.

Aracelli era uma menina de 8 anos de idade quando foi sequestrada na porta da escola em que estudava, em Vitória, Espírito Santo. Quando seu corpo foi encontrado, dias depois, estava quase irreconhecível. Além dos evidentes sinais de violência sexual, os criminosos usaram ácido para desfazer os belos traços do seu rosto.

As investigações apontaram para um grupo de jovens oriundos de famílias de grande poder político e econômico no estado, que já era conhecido na cidade pelas suas farras violentas, com o consumo sem limites das principais drogas usadas da época – incluindo o LSD.

Depois de idas e vindas, o caso rumou para o esperado: impunidade – nem julgamento houve.

Há um detalhe a mais para os alagoanos: o delegado da Polícia Federal Lincoln Gomes, um dos que “investigaram”, sem êxito, o hediondo crime veio a ser secretário de Segurança Pública de Alagoas, aí pelo início dos anos de 1980.

Como e por quê?

Quem há de saber?

Em 2000, o Congresso Nacional aprovou uma lei instituindo o Dia Nacional de Combate e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – 18 de maio.  

Mais uma vítima

Em 11 de setembro de 1973, quatro meses depois da morte de Aracelli, outro crime brutal aconteceu em Brasília: o assassinato da menina Ana Lídia, de sete anos de idade (o Google traz informações sobre os dois casos).

Em tudo semelhante ao brutal homicídio de Vitória, a morte no Planalto Central teria sido cometida por outra gangue de filhos da elite política brasileira. A garota brasiliense de sete anos, como Aracelli, foi estuprada e dilacerada numa orgia de drogas pesadas. O caso ganhou repercussão nacional, apesar da censura própria da época.

Assim como Aracelli, Ana Lídia foi vítima de “criminosos anônimos”, que nunca chegaram ao banco dos réus.

São dois cadáveres insepultos a exigirem algum sentido de Justiça no Brasil.

Os assassinos das duas crianças não são pequenos traficantes ou viciados da periferia das grandes cidades: estes já enfrentam o tribunal do tráfico, quando é o caso.

A data de hoje não há de permitir que nos esqueçamos de Aracelli e de Ana Lídia.

Escolhas
Uma lição de prudência e persistência do promotor Marcos Mousinho
  • AAraujosilva

    Mestre e grande escriba RM,
    quem combate a violência dos
    poderosos e plebues à pão-
    de-ló, se basta criando leis
    e mais leis. Enquanto isso a
    violência cresce desenfreada
    e impunimente. Nós, Ricardo,
    estamos sendo, a cada dia,
    mais aprisionados por essa
    guerra civil suja …

  • sebastiaoiguatemyrcadenacordeiro

    OI , MATÉRIA , TUDO BEM ? ACOMPANHEI COM
    BASTANTE INTERESSE ESSE CASO POIS,NESSA
    ÉPOCA EU ERA ESTUDANTE DE MEDICINA,O QUE
    ME DAVA CERTA ANCORAGEM NO MUNDO CONVEN-
    CIONAL, E UMA PORRA- LOKA DE CAUSAR
    INVEJA AOS MAIORES “DESBUNDADOS” DAQUELA
    ÉPOCA EXPLOSIVA,NUM SENTIDO DIFERENTE DO
    ATUAL,QUE É MUITO MAIS DELINQUENTE,MAL-
    DOSO E INSANO,DO QUE O QUE NÓS VIVÍAMOS NAQUELES BONS TEMPOS DE OUTRO
    RA,APESAR DOS RESTOS MORTAIS DA DITA-
    DURA QUE, POR UM BOM TEMPO NOS ATERRO-
    RIZOU, AINDA EXALAR ODOR DE CARNIÇA .
    CREIO,ÀS VÊZES,QUE EU MORRI NAQUELE
    ANO,TÃO PULULANTE, E PLENO DE VIDA E
    EMOÇÃO …ÔMI !

  • jobson

    Ricardo, estes casos faz lembrar, a morte do rapaz que toda sociedade declina os nomes das figurões mandantes. Parece que esqueceram as investigações.

  • Paulo Rostner de Olivença

    Caro Ricardo Mota, esses são apenas dois dos casos de repercussão nacional,na época, pois tratava-se de homicídios envolvendo filhos de pessoas influentes do planalto central, assim como acontece hoje e sempre em todo o país.
    No sábado, 20 de abril de 2013, a morte do índio Galdino Jesus dos Santos completou 16 anos. O crime bárbaro que chocou Brasília e todo o país ocorreu em uma parada de ônibus da W3 Sul, um dia após a comemoração do dia do Índio. O cidadão foi queimado vivo por jovens de classe média. Apesar da repercussão do crime, ainda hoje, atos de crueldade semelhantes ao que matou Galdino continuam acontecendo na capital. Condenados a 14 anos de prisão, os vândalos acusados pela morte do indígena cumpriram apenas 8 anos, durante os quais tiveram acesso a várias regalias, inclusive a de fazer turismo, durante o cumprimento da pena.
    Hoje, esses psicopatas, vivem suas vidas, como se nada daquilo tivesse acontecido, no país da impunidade.
    Não podemos chamar “PC farias,meu amor”, mas acho que ele ainda merece que sua morte seja devidamente esclarecida.

  • Luiz Antonio

    O jornalista tem o dever de não desinformar seus leitores, os dois casos foram esclarecidos, Aracelli foi vítima dos micheline pai e filho, inclusive o primeiro foi condenado por carcere privado da menor, e o caso Ana Lídia ficou comprovada a participação do irmão que usou a mesma para pagar dívida com traficantes, ambos os crimes tiveram utilização política por parte da imprensa da época que apoiava o terrorismo de esquerda, não pairou dúvidas em nenhum dos crimes citados, só nas mentes delirantes ou fantasiosas, mesmo assim viva a liberdade de opinião!!!

    Resposta:

    A não ser que você seja um deles, leia e opine.
    No mais, assassinato é assassinato.
    (Agora entendo melhor seus comentários).
    Ricardo
    (Aguarde carta)

  • Alex Ferro

    Ainda hoje a elite brasileira continua a matar jovens de ambos os sexos, a corrida desenfreada da droga mata mais que na época da ditadura, porém com uma diferença, as elites ficam cada vez mais rica e usam os miseráveis na distribuição das drogas noa morros (Rio) e grotas (Maceió), os barões da droga ninguém ousa mexer, ninguém identifica, denominam alguns miseráveis como dono da boca tal, rei do morro tal, etc… Tudo massa de manobra, e o barões estão cada vez mais ricos tomando uísque e debochando de todos os pobres mostais.

  • wal

    Para o ano de 2013, não vai ser diferente.A morte da Bárbara Regina,as autoridades tem: os amigos,a família,as testemunhas,a foto da pessao que saio com ela no dia do crime,e não conseguem prender ninguém.Seria os altores da elite ??