Se há uma expressão que exige responsabilidade, determinação e coragem, ela se denomina “eu te amo”. Não quero percorrer, aqui, o que o espetacular poeta maranhense Ferreira Gullar chamou de “trilhos da institucionalidade” em sua deliciosa crônica A estranha vida banal. No texto, em certo momento, Gullar “tira” o amor da “atmosfera romântica” e joga-o à “pretoria ou ao altar (ou a ambos), à simples assinatura do contrato”. Passa a ser – o amor– um movimento de pura liturgia de sustento das compaixões e do estômago das crias. Sinto a necessidade de seguir uma trilha diferente. Claro, muito distante da magia do velho poeta, a quem me rendo sem a menor pretensão dos humildes.

Então, meu caro leitor, aciono a ousadia.

“Eu te amo” assume faces buliçosas quando temos que manifestar com autenticidade (que nos falta sempre) a entonação ideal para o ouvido alheio. Explico. A voz que fala é diferente da voz que se ouve. A pronúncia do “eu te amo” exige uma carga de sentimento impressionante. Não se diz “eu te amo” por dizer. Nem muito menos a qualquer um (ou a qualquer uma). A frase não tem a frieza, a mesmice ou a adulteração do “eu gosto de você”. Trata-se de uma sentença intrincada. Primeiro vem a cumplicidade; depois, a deliberação e, em seguida, o entusiasmo. Veja, não é tão simples assim. Sobe ainda mais a tensão quando arremessada olho no olho, sem desvio traiçoeiro. Exige-se um cenário próprio, único. Não se aceitam interferências, nem muito menos adesões de qualquer plateia. Não é um momento de mais de dois. Um terceiro vira multidão. Mira-se, inclusive, o rosto inteiro para não deixar dúvidas de que haverá qualidade na pronúncia. A voz será demarcada, avaliada e incrivelmente acompanhada em todas as suas sílabas. Se demorar, é porque há dúvidas; se for rápido demais, desprezo; se gaguejar, atropelamento das emoções; se for aveludada em excesso, cheira pirataria dos sentimentos; se for um ruído, canalhice; se houver hiato entre “eu te” e “amo”, prova de esquecimento; se cerrar os dentes, cinismo; se fungar o nariz, disparate; se negar, o fim de tudo.

“Eu te amo” sacode as vestes da altivez e não aceita ensaio. Inútil se preparar para escolher o melhor gesto. Não há “eu te amo” planejado ou simplesmente agendado. Tudo acontece sem um segundo sequer de preparação. Aliás, não existe “eu te amo” de véspera. Não seria “eu te amo”. 

“Eu te amo” pede uma leve lágrima que não cai. Não existe sem a ternura, sem a dança dos olhos na retina de quem escuta. “Eu te amo” faz os lábios estremecerem de timidez, embarga a fala, busca insanamente a saliva e desnorteia a respiração. “Eu te amo” sacode as pálpebras, esquiva-se por um momento apenas para admirar a reação de quem espera pelas doses de arrepios. Não se importa com o mundo. Volta-se somente para si mesmo como se fosse o próprio álibi. Contenta-se em merecer o reconhecimento singular e absorve-se num orgulho que o agasalha. “Eu te amo” sobra em apego, dissolve-se no sorriso cúmplice, hipnotiza, eleva-se à condição dos deuses, recolhe-se aos sussurros como se fosse segredo. Acredita-se mesmo que seja mentira. Não a mentira do embuste, da falsidade, mas a incapacidade de o ser humano, pela sua sonolência diante das riquezas do coração, acreditar na profundeza dos sentimentos. É tão espetacular que chega a ser inacreditável. Daí a mentira. E Gullar não deixa por menos, ainda em A estranha vida banal : “Aprendi que não é tão fácil dizer ‘eu te amo’ sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.”

Post Escriptum.

O Natal é simples, como o pinheiro-mandacaru de Setton — com enfeites de algodão. Talvez um tempo como qualquer outro para muitos. E sei disso. No entanto, sua força reside em sua singularidade. É um dia disponível para o “eu te amo”. Não há outro tão significativo. É Dele!

Os homens e mulheres simples, os mais prósperos, os céticos, as crianças, o vizinho, a professora, a atriz, o velho, a dama, o paciente, a religiosa, a mamãe, o ambulante, o presidiário, o trabalhador, a secretária, o jornalista, o solitário, o deficiente, o cientista, a comadre, o adversário, a leitora, o poeta, o menino, a médica, o padeiro, a namoradinha, o sambista, a filha, o boêmio, o transeunte, a modelo, o mendigo, a mãe de santo, o soldado. O amigo, finalmente, aquele de Vinicius que “Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração”. Todos querem dizer ou ouvir “eu te amo” e, em qualquer circunstância, sabem do direito sagrado que têm ao afeto. Trago uma dica para os acanhados: olhe de frente, controle os batimentos cardíacos, amorteça a respiração, afaste-se um pouco, alguns centímetros, apenas, avance as mãos suavemente. Se possível, aperte as bochechas dele (ou dela, como queira) e tasque um beijo, antes; depois, solte “eu te amo”, macio, sem pressa. Se for um amigo, dê um beliscão, também; se for a esposa, bem, ela terá o julgamento acertado, pode esperar!

Eu te amo!

Osvaldo Epifanio

 

De Papai Noel para: Vilela, Rui, Biu, Renan e Collor
Rui Palmeira, a SMTT e a SMCCU
  • Celso Tavares

    Ricardo,

    O ‘blog’ faz parte do meu cotidiano, do prazer das crônicas dominicais à tristeza diária da constatação da miséria humana. Assim, acreditando que devemos fazer algo pelos nossos descendentes, transcrevo o ‘e-mail’ de Boas Festas (!!!) que encaminhei aos meus amigos:
    Caríssimo (a),
    Gostaria de lhe encontrar e dar um bom e afetuoso abraço, mas a ‘vida moderna’ dificulta o exercício e o prazer de uma existência humana, fraterna, solidária, onde compartilhássemos nossas alegrias e agruras. Assim sendo, pragmaticamente, recorro a Leon Eliachar* para lhe fornecer orientações acerca de atitudes a serem adotadas em 2013:
    “1) Não sair de casa;

    2) não ficar em casa;

    3) se sair, não sair sozinho, nem acompanhado;

    4) se sair sozinho ou acompanhado, não sair a pé nem de carro;

    5) se sair a pé, não andar devagar, nem depressa, nem parar;

    6) se sair de carro, não parar nas esquinas, nem no meio da rua, nem nas calçadas, nem nos sinais. Melhor deixar o carro na garagem e pegar uma condução;

    7) se pegar uma condução, não pegar ônibus, nem táxi, nem trem, nem carona;

    8) se decidir ficar em casa, não ficar sozinho nem acompanhado;

    9) se ficar sozinho ou acompanhado, não deixar a porta aberta, nem fechada;

    10) como não adianta mudar de cidade ou de país, o único jeito é ficar no ar. Mas não num avião”.
    Que insistamos em sermos sempre melhores filhos, irmãos, pais, avós, tios, sobrinhos, primos, afilhados, vizinhos, colegas, cidadãos e esqueçamos, ao menos um pouquinho, das coisas vãs. Ah, e que não venhamos, por quaisquer ações ou omissões, a nos sentir culpados pelo sofrimento, tristeza ou decepção do (tão falado e esquecido) próximo. Eita: lembrando o Natal e a fé que devemos fomentar para termos um paraíso na Terra, que sejamos o melhor profissional possível em cada circunstâncias, respeitando os princípios de todas as grandes religiões.
    Um grande abraço,
    Celso

    * Como Sobreviver a um Assalto

  • EU TE AMO ALAGOAS.

    Minha querida ALAGOAS, principalmente porque vale lutar por você, minha menina pobre do Nordeste, e neste Natal o melhor presente é o modus operandi de gerar mais de 10/20/30/40 e quiçá 50.000 empregos diretos e indiretos. Tem Natal mais Feliz? A luta foi ferrenha, contra os meus colegas do “p”ensar “p”equeno, contra o meu conselho de classe na fiscalização profissional do economista, contra o entrave político de políticos viciados na inércia da morocidade política e do faz de conta, o empurra com a barriga. Lutei contra tudo e todos, cobrando, mostrando que o IBAMA estava errado, a DILMA ROUSSEFF, a RENAN, a COLLOR, ao CORECON e parece que dentro do contexto, valeu a pena e a presidenta DILMA ROUSSEFF deva ter inserido uma solução técnica pelo IBAMA e de fato aconteceu. Tivemos o parecer viável do IBAMA com relação a instalação de um ESTALEIRO em ALAGOAS no município de Coruripe. Entre 10 a 50.000 postos de trabalho, fica o exemplo de como podemos lutar por Alagoas e ser recompensados, todos nós fomos recompensados e que a sigla “S” não esqueça de fazer o seu papel preponderante na qualificação profissionais, ao Amigo José Carlos Lyra de Andrade cobre o penalty, a couraça tá na marca.
    FELIZ NATAL, é o Natal do Século XXI para Alagoas.
    P/Arabutan.

  • Alexandre Batista

    Ainda se eu falasse a língua dos homens se falasse a língua dos anjos sem amor eu nada seria meu caro conterrâneo Osvaldo, do seu amigo Alexandre Caju.

  • Jailson Elias

    Caro Ricaro,

    Só mesmo o Pife pra nos presentear com tão belo texto em pleno Natal. Acho que ele “traduziu” o Gullar juntando uma parte na outra parte do que é “Eu te amo”. Grande abraço e Feliz Natal pra vc e para o Pife.

  • Pensativo

    Muito obrigado por estas referências. Belíssimos textos!
    Sinto-me contemplado como alguém que acaba de receber um presente de Natal.
    Obrigado por estas e por todas as mensagens que nos enchem de esperança e otimismo.

    Um feliz natal para vc e sua família!

  • EU não TE AMO BRASIL.

    Meu querido BRASIL, é impressionante dizer para milhões de brasileiros, que não amo o meu BRASIL, não é fácil dizer tamanha verdade, mas é necessário que você leia, reflita e veja o quanto o BRASIL através do DESgoverno da minha idolatrada querida simpática e linda presidenta DILMA VANA ROUSSEFF, nos tem enganado, principalmente no último falatório pela TV. Não sabe ela que está registrado no Orçamento da União de 2012 até o dia 17/12 (Leia-se LOA-2012), que foi PAGO pela DILMA só R$ 1,643.329 TRILHÃO (100%). Se você for para EDUCAÇÃO e para o PAC, nossa presidenta mentiu tanto, que os próprios números OFICIAIS do seu DESgoverno retratam a realidade da FALTA DE VERDADE. Vejamos sobre EDUCAÇÃO, disse que estava tudo no bem e no “MIÓ”, quando os dados do Orçamento do atual exrecício retrata o inverso, tem registrado que em 2012 até o dia 17/12 os pagamentos de R$ 860,378 bilhões (52,37%) via MINISTÉRIO DA FAZENDA do italiano GUIDO MANTEGA, para a famosa e famigerada DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL e com o MINISTÉRIO DA CULTURA gastou apenas a esmola de R$ 868,773 MILHÕES (0,05%) e com o MINSITÉRIO DA EDUCAÇÃO gastou apenas R$ 56,190 BILHÕES (3,42%). Presidenta DILMA VANA ROUSSEFF, faça uma reflexão sobre o que vou perguntar:
    1-É JUSTO você DILMA pagar em 2012 até o dia 17/12 R$ 868,7 BILHÕES (52,37%) do Orçamento da União ao seu italiano GUIDO MANTEGA para torrar com a DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL?
    2-É JUSTO você DILMA gastar no mesmo período apenas R$ 868,773 MILHÕES (0,05%) do Orçamento da União com o MINISTÉRIO DA CULTURA?
    3-É JUSTO você DILMA GASTAR no mesmo período apenas R$ 56,190 BILHÕES (3,42%) do Orçamento da União pelo MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO?
    Presidenta DILMA VANA ROUSSEFF, estamos com 3/4/5 gerações perdidas, SEM EDUCAÇÃO, SEM CULTURA, todos viciados em DROGAS porque os DESgovernos LULA e DILMA desviam os impostos PAGOS por nós brasileiros para PAGAMENTO da DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL, que não existe, que já foi PAGA, uma vez que em 2003 a Dívida Pública deixada por FHC era de R$ 645 BILHÕES, vocês LULA/DILMA pagaram mais de R$ 6,65 TRILHÕES entre 2003 a 17/12/2012, e ainda estamos devendo mais de R$ 3 TRILHÕES. Isto quer dizer que LULA e DILMA tomaram mais de R$ 4 TRILHÕES de empréstimos, cujo destino desses míseros R$ 4 TRILHÕES, está no ninguém sabe, no ninguém viu e talvez no doriUU sUUmiUU.
    Acorda presidenta DILMA VANA ROUSSEFF, saia do PT antes que ele acabe com você. Com relação ao PAC, virou PIRIPAC, porque na foz do rio São Francisco a vazão diária é de 100.000.000.000 (CEM BILHÕES) de litros de água/DIA no oceano Atlântico SEM USO MÚLTIPLO, pura incompetência.
    Assim mesmo FELIZ NATAL e que em 2013 venha com o PENSAR GRANDE.
    P/Arabutan.

  • Carlos Silva

    TUDO QUE OSVALDO EPIFÂNIO ESCREVE, E VC RICARDO, EM SUAS CRÔNICAS LITERÁRIAS, É BELO…

    AGORA, ESSA HISTORINHA DE “EU TE AMO ALAGOAS”, JÁ ME DEIXA CALEJADO!

    CHEIRA A COISA DE POLÍTICOS DEMAGOGOS COMO ANTÔNIO ALBUQUERQUE, RONALDO LESSA, TÉO VILELA… ET CATERVA!

    ALAGOAS SÓ RECEBE ESSAS DECLARAÇÕES DE AMOR COMO PREMISSAS DE ESTUPRO!

    COMO DIRIA CAZUZA, SE ELE EXISTE,
    “SÓ SE FOR A DOIS”!

    ABRAÇOS BRILHANTE RICARDO E BRILHANTE OSVALDO EPIFÂNIO!

  • Antônio Carlos de Almeida Barbosa

    Prezado Mota, uma conversação perfeita entre os poetas (imaginária). Belo dueto. Valeu.

  • Arabutan Rocha

    Para um bom entendedor duas reflexões de Zévaqueiro: “Se colocar o SEU juízo na cabeça de uma galinha, não acerta o caminho do poleiro”, e “Ligeireza em jegue, inteligência em Eguus Asinus, coisas difíceis de achar”.

  • CARLOS SILVA

    CLARO ARABUTAN!
    GALINHA DE JUÍZO NÃO ACERTARIA O CAMINHO DESSE POLEIRO CHAMADO ALAGOAS!
    E OS JEGUES PERDERIAM AINDA MAIS A “LIGEIREZA E INTELIGÊNCIA”, POIS VIVEM SOMENTE PARA O TRABALHO DE CARGA (TAL QUAL OS ALAGOANOS), ENQUANTO SERES ILUMINADOS COSTURAM INTERESSES EM INSTALAR ESTALEIROS EM “ÁGUAS PRUFUNDAS”!
    SAUDAÇÕES DA BURRÍTZIA!

  • Wellington Cavalcanti de Oliveira

    Meu caro Osvaldo “Urbano”: A cada dia me convenço que você é meu escritor preferido! rs. Abraços, e boas festas!

  • Arabutan Rocha

    Meu claro caro Carlos Silva, face ao tamamho do seu QI de Quem Indicou, recolho a minha insignificácia, diante de tamanha inteligência como você, só posso ficar atrás de você na espectativa de por trás o ensinar de Quem Indicou. Quanto ao menosprezo a nossa Alagoas de que todos vivem para o trabalho de carga é a prova de que participa de tamanha envergadura eguus assinus, talvez com gangalha ou sela no lobo e certamente com depRRoma de Doctor Horrores Causas de Coimbra dos Caetés. A difernaç entre Vossa Excelência é o lula é mínima, apenas um eguus asinus. Encerro a demanda devida sua inteligência ter IDH acima de 0,001. Feliz Anos Novo.

  • CARLOS SILVA

    FELIZ “GANGALHA” NOVA PRA VC TAMBÉM ARABUTAN!! KKKKKKKKKKkkkkkkkk….