A dor e a delícia de ser único
Alguns debates provocam ódios eternos em seus contendores, ao mesmo tempo que só despertam o meu velho tédio – e nada mais que isso. É o caso da improvável produção de um clone humano, a partir da célula de alguém que chegou ao mundo pelo insubstituível e maravilhoso método natural. Pois bem: se tal experiência vier a se concretizar, como obra de alguma mente que me parecerá estúpida, ainda assim o ser que dela resultar será único, com todas as diferenças desejáveis em relação à matriz. Qualquer “réplica” será apenas uma imitação.
É o que acontece sempre com a humanidade – pelas melhores leis da natureza. Ninguém é – ou será – igual a ninguém. Em seu esclarecedor ensaio sobre genética e raças, o cientista brasileiro Sérgio Pena, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas (e membro da Academia Brasileira de Ciências), é taxativo: a exclusiva diversidade humana que ele aceita é aquela que existe entre os mais de seis bilhões de habitantes do planeta. E só.
Eis um bom “mistério” sobre o qual podemos nos debruçar – e até dele tirar alguma diversão. Se no caso do clone, lá de cima, obtivéssemos dois espécimes de DNA absolutamente idênticos – o que não existe, hoje, no mundo –, o ambiente e as experiências pessoais se encarregariam de transformar a cópia em alguém irreplicável, assim como o modelo original. Serão tantas e imperceptíveis – na maioria – variáveis operando silenciosamente, que os gênios reprodutores haverão de desconhecer ou até negar a própria cria.
Não somos produto, apenas, da carga genética que trazemos, embora ela seja fundamental – e até danosa, em algumas situações. Cada um de nós é também o resultado singular daquilo que vivenciamos, e que difere até mesmo entre os gêmeos univitelinos (conheço dois irmãos assim: um deles é torcedor do Fluminense e o outro, do Flamengo – ambos alimentando o mesmo desejo de morte ao time rival e de eterna infelicidade ao seguidor do inimigo. Irã e Iraque se entendem melhor).
É interessante observar que, ao longo da vida, nós mudamos e nos moldamos continuamente como consequência do que acumulamos de conhecimento e/ou das nossas relações afetivas. O tempo passa, o tempo voa, e a gente nunca está “terminado” – pelo menos enquanto não chega a “indesejada” dos homens. Apesar de tudo, continuaremos a ser únicos.
E aquela velha e boa esperança de encontrar a alma gêmea? Pois é: foi bom, não foi? (Podem ser várias ou não ser nenhuma, a depender do nível de sintonia fina exigido pelo freguês.) Salvar-nos-ão as literariamente celebradas afinidades eletivas, que viabilizam, desde sempre, a nossa convivência coletiva – mesmo que em diminutos bandos. A outra parte é a pura arte da tolerância mútua.
E há, até, uma certa vantagem nessa história de ser único: podemos entender, se conveniente nos for, que fizemos e fazemos o melhor que seria possível a alguém que em tudo fosse igual a nós. Quem? Falando sério: ninguém. Não há comparação possível, nem no mundo das ciências, nem no da filosofia.
Mais oportuno ainda é observar que cada ser humano, ímpar, é resultado de milhões e milhões que passaram ou estão passando pela vida: nós somos “filhos” de tantos, e (fantástico!) nos mantemos na condição de únicos, individualmente incomparáveis como viventes do planeta Terra. Está assim posta a sentença inexorável que recai sobre cada um de nós: ser um “solitário” – no conteúdo – que dedica a outros espécimes (igualmente “solitários”) os melhores e os piores sentimentos, alguns nada exclusivos do Homo sapiens.
Enfim, se alguém um dia já lhe disse que você foi ou é uma pessoa única em sua vida, acredite. Mesmo que a frase seja apenas a manifestação da maravilhosa generosidade humana, nada terá sido mais verdadeiro.
noélia costa -´fórum permanente de combate ás drogas
LINDO,fiquei emocionada,pois esse texto é muito importante ,situações que queremos generalizar,não deveriamos nunca,veja o caso dos dependentes químicos,o tratamento precisa ser individualizado,cada um com seu historico de vida,esse é um fator muito importante,aí teremos um melhor resultado .Cada pessoa tem o seu valor individual,esse é o nosso diferencial de vida.PARABENS!
J.Monteiro
Meu caro Jornalista, ao ler e reler esse texto, procurei encontrar nem que fosse nas entrelinhas, uma menção sobre o grande arquiteto do universo, criador e mantenedor de todas às coisas, e como não poderia deixar de ser, seu criador, (você consegue crer nisso?), e, para perplexidade dos que não conseguem crer Nele, Ele continua SUPREMO, ÚNICO E TODO PODEROSO DEUS. É exatamente esse Deus, pai de amor, que afirma para todos os habitantes da terra: “ainda que uma mãe venha a se esquecer de um filho que ainda mama, Eu no entanto, não esqueci de ti”. Então, se em seu tão belo texto, você se “esqueceu?”, de mencionar o nome do Deus que te criou como um ser único, não se preocupe, Ele jamais, esquecerá de você.
Antônio Carlos
Prezado Jornalista, a cada domingo sou surpreendido pelos seus textos, que me fazem refletir e tornar-me mais humano e realmente “único”. Apesar de bastante realista, o texto ainda contém uma função terapêutica, sem enganação. Valeu. Grande abraço.
alguem
vc escreveu algo muito profundo Ricardo Mota ,quantas vezes sofremos com uma perda e por mais que a vida continue ao longo do tempo percebemos que nada é igual,nem as sensações que as coisas nos proporciona ,nem as pessoas e é por isso que as lembranças ficam daquele que amamos,daqueles que temos saudade.
luis antonio anjos
Como dizia o grande pensador Tonho Cabeça “Não vim ao mundo para cobrir pegadas…vim para deixar as minhas”
Regis de Souza
Grande Ricardo, sou professor de Arte Educação do municipio de Maceió, e (prego) diariamente essa filosofia, da aproximação e porque não dizer do reencontro dos seres humanos com seus básicos e verdadeiros valores,ainda essa semana levei a questão do Rio de Janeiro a sala de aula,sala essa que como professor, tento insistetimente que eles façam leituras de Poemas, livros, músicas, fotografias,desenhos, vídeos,filmes, esculturas, telas, propagandas e outros),leiam e percebam o quanto a arte em suas mais diversas expressões pode contribui para essa aproximação e retomada de valores.
marta lima
quiça pudesse ser a vida apenas um punhado de biologia misturado com piscologia não é mesmo??? mas persiste até hoje alguns misterios insondaveis que nem mesmo os mais famosos dos genios conseguem traduzir, teorias das mais diversas são cogitadas, porém o misterio permanece e creio que a beleza e a fascinação da raça humana é exatamente essa uma eterna procura pela razão da vida e a explicação das atitudes do ser humano.
sebastiãoiguatemyrcadenacordeiro
Ricardo,rapaz,você pegou pesado dessa
vez.Nesse tema prolixo e não menos vasto
cada sentença sua tem o simbolismo e o
valor de um cheque – mate, real e imagi-
nário.Sua abordagem inicia-se sob os aus
pício da Ciência,invereda pela Filosofia
tangencia a Religião e não se esgota.
Deixa uma avalanche de CHEQUES-MATES,à
primeira vista,IMEXÍVEIS, e mortalmente enigmáticos. ÔMI !
Ruth Vasconcelos
Ricardo,
O desenvolvimento da racionalidade científica despertou na humanidade o interesse em controlar e dominar tudo que existe na face da terra. Pode ser uma virtude de alguns cientistas; mas, para mim esta ambição no campo da genética não faz menor sentido. (Perdoe minha ignorância no assunto! Posso estar sendo leviana nessa minha observação). Talvez meu desinteresse por esta temática deva-se ao que vem me preocupando no campo da investigação científica: os desacaminhos da racionalidade burocrática; os efeitos da crise ética e moral na produção dos conflitos explosivos entre os seres humanos; a impunidade e a corrupção como fatores de risco para a sociabilidade contemporânea; a humilhação, a indiferença, o preconceito, a intolerância e o não-reconhecimento como expressão da insuficiência do Estado Democrático de Direitos. Enfim, sem querer me filiar a uma visão catastrófica, temo estarmos inviabilizando a própria vida em sociedade. Sendo assim, quero crer que cada um de nós, marcados pela mais absoluta singularidade, precisa se implicar com os destinos que a nossa sociedade está tomando. Pode ser uma proposição pretensiosa, mas sinto-me responsável por deixar uma geração melhor do que a minha. Digo isso reforçando uma preocupação que certo dia você também revelou. Sejamos singulares, mas mantenhamo-nos solidários, gentis e generosos em nossas ações mundanas. Abraço, Ruth.
Roberto
VALEU RICARDO!
Téo SOS.
Governador Téo Vilela, sou dependente químico da droga H²O, não é assim que chama a bendita água, pois bem, passou eleições e começou, novamente a falta de água na Ponta Verde, como não moro em edifício, fica tirando o “e” para comprar um caminhão de água. Apesar de combater, a CASAL do seu governo não tá nem aí com a sonegação da parte do saneamento, os tais 80% que vem na conta da água, que é melhor comprar um caminhão de água do que pagar água a CASAL!!!!!!!!!!!. Agora, fica a gente que mora em residência, a sofrer nos descaminhos da vidas sua propaganda de está melhorando com a susbstituição dos tais anéis de distribuição de água. É a mesma coisa de colocar um secretário de Planejamento sem ser formado em ECONOMIA, só pode da nisso, coisa que certamente não existe no seu governo!!!. Téo, por gentileza diga a CASAL dos baianos, com todo respeito, que estamos em ALAGOAS e não na Baia sem “H”.
Melhore a suprimento, abastecimento de água, votamos e fizemos propaganda política para VOCÊ. Aquele abraço, não da Bahia, mas de ALAGOAS.
HEYDER PEREIRA CAMPOS
MESTRE, DEPOIS DE LER E RELER, MATUTEI : POSSO CHEGAR EM FRENTE AO ESPELHO E DIZER : “Ô CARA, VOCÊ É ÚNICO”. SE É QUE MINHA SABIDA IGNORÂNCIA CHEGOU A PERCEBER ALGO SAÍDO DE SUA EXCELENTE CACHOLA DOMINGUEIRA. PELO SIM, PELO NÃO, PARABENS !
Maria
Quero de público parabenizar o moderador deste blog.Ricardo,como dizia aquele quadro do primo rico e primo pobre,vc é ótimo!