Quando é preciso ir contra a corrente
A História nos ensina: os grandes ditadores só chegaram ao poder, nele se mantendo, por causa do cidadão comum, quase sempre dominado pelas emoções. E, por mais antipática que possa parecer a afirmação acima, todos nós padecemos desse mal alguma vez na vida – nos deixarmos levar pelo senso comum.
De fato, não é fácil ir contra a corrente, principalmente nos instantes em que as paixões afloram e os sentimentos nos impulsionam para uma ação mais dura e até violenta.
Esta semana, pude viver um desses momentos. Os promotores Flávio Gomes e Karla Padilha foram ao presídio ouvir um dos acusados de participação no assalto à agência da Caixa Econômica Federal, que resultou em duas mortes. Uma tragédia.
O preso, segundo denunciou um familiar dele, havia sido torturado dentro do Tigre, por policiais civis. Os representantes do Ministério Público Estadual se dirigiram ao Baldomero Cavalcante para ouvi-lo e ver possíveis marcas de castigos físicos. Não era só a missão profissional que os impulsionava na investigação, mas, também, os princípios humanitários. Como deve ser. Mesmo que isso – e eles sabiam que seria assim – resultasse no protesto de muita gente.
Foi o que aconteceu. A matéria sobre o tema foi publicada neste blog, e, em seguida, vieram os comentários: praticamente todos contrários à ação dos promotores. Achei, então, e continuo achando agora: eles estavam prenhes de razão em ir até o local averiguar a denúncia.
Mesmo compreendendo o sentimento dos agentes do Tigre, que perderam um excelente colega e profissional, nem a eles nem a ninguém é dado o direito de punir com tortura um preso, sem condições de defesa. Fazê-lo é um ato de covardia (o que não significa que a denúncia seja verdadeira – há uma apuração em curso). Em resumo: nós não podemos pensar com a cabeça do bandido.
A pergunta clássica dos internautas: “E se fosse um parente dos promotores?” É o corriqueiro chamamento à vingança – que pode até ser compreensível, principalmente no calor do momento, como ato de um indivíduo. Uma sociedade, no entanto, deve clamar por Justiça.
Cabe aqui, ao final, uma citação de Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas”: “O que demasia na gente é a força feia do sofrimento, própria, não é a qualidade do sofrente”.