O texto abaixo é de autoria da socióloga e professora da UFAL, Ruth Vasconcelos. Estudiosa do tema tão atual – a violência -, ela assumiu uma importante inciativa junto aos estudantes universitários. Não é uma tarefa nada fácil, mas é, essencialmente, necessária. Aqui estão algumas reflexões sobre as causas da violência. Mais importante, porém, o texto traz uma bela provocação a cada um de nós. 

A violência no Estado de Alagoas tem raízes históricas; mas, somado a isto, deparamo-nos com uma conjuntura desestruturada e desestruturante que tem favorecido a explosão de uma violência social e interpessoal que vem afetando gravemente a possibilidade da constituição de laços e vínculos sociais mais duradouros no seio da sociedade. Não por acaso, a desconfiança, o medo e a insegurança tornaram-se sentimentos hegemônicos entre os sujeitos de todas as classes sociais. Na verdade, esses sentimentos respondem a uma combinação de fatores que expressam o desrespeito e o não-reconhecimento do outro como sujeito de direitos. Nem mesmo há o reconhecimento do mais básico e elementar de todos os direitos: o direito à vida, o direito de existir. 

Todos sabem, inclusive os gestores do Estado, que a maioria da população alagoana vive abaixo da linha da pobreza; assim como sabem que a maioria não tem acesso à saúde digna, à educação de qualidade, a moradias minimamente estruturadas, nem muito menos são contempladas em programas culturais e de lazer fundamentais para a satisfação e realização no campo subjetivo. Não tenho notícias da existência de teatros, cinemas, praças públicas urbanizadas, campos de futebol adequados e parques de diversão para atrair a população da periferia em práticas culturais saudáveis. Ao contrário, cada vez mais cedo os jovens estão sendo atraídos pelo consumo da bebida, e de outras drogas mais pesadas, que os destroem, porque, quase invariavelmente, os viciam e os desestruturam subjetivamente. Apesar de não existir uma relação necessária entre drogas e violência, sabe-se do jogo bruto que envolve o tráfico de drogas, que geralmente vem acompanhado do tráfico de armas, dizem os especialistas. Esta é uma realidade que tem atingido os jovens de todas as classes sociais, o que desmistifica a idéia de que a pobreza é a responsável pela violência. Ao contrário, crescem as notícias de jovens pertencentes às classes dominantes que estão envolvidos na criminalidade. 

Os bairros de periferia são, evidentemente, as principais vítimas da violência estrutural, marcada pela insuficiência de políticas estatais e pela amplificação do desemprego. Aliás, a periferia conhece muito bem o Estado, particularmente quando são "visitados" pela sua força policial; infelizmente conhecem muito pouco o Estado em sua função de assistência social, basta ver que muitos sequer têm registro de nascimento ou outro documento que lhes permitiriam entrar no rol dos cidadãos alagoanos. Os dados evidenciam que é na periferia onde são registrados os maiores índices de homicídios, com o detalhe de que os jovens são as principais vítimas e algozes desta realidade. A periferia tem sido o cenário de maiores ocorrências de homicídios, mas ninguém está a salvo de ser vítima da violência nos espaços públicos e privados. Vivemos um esgarçamento nos laços sociais que torna a imprevisibilidade da vida ainda mais intensa. Sem querer produzir um discurso sensacionalista ou alarmista, não temos qualquer segurança de que sairemos de casa e retornaremos com vida. Este sentimento de insegurança foi captado por um Núcleo de Pesquisa de Minas Gerais quando constatou que 70% dos brasileiros acreditam que perderão suas vidas, como vítimas de violência, nos próximos dois anos.

Pois bem, esta realidade é cruel; e a UFAL, através da PROEST, está se propondo a discutir essa problemática junto à comunidade universitária através de um Programa Permanente denominado UFAL EM DEFESA DA VIDA. Nosso objetivo é criar um espaço onde possamos construir uma nova cultura política que esteja sintonizada com a vida e não com a morte. O envolvimento de jovens, estudantes universitários nesta discussão, através de atividades culturais, políticas e científicas, torna-se fundamental porque esses jovens serão os futuros gestores do nosso Estado; os futuros profissionais, jornalistas, médicos, engenheiros, sociólogos, psicólogos etc, que atuarão no tecido social, tomando decisões que tanto podem aprofundar esta realidade como transformá-la. O envolvimento de todos é importante também porque a Universidade aglutina hoje em torno de 20 mil pessoas, entre professores, estudantes e funcionários que têm, por dever de ofício, um compromisso com a sociedade. É esta sociedade que nos financia e é a ela que devemos dar respostas através dos nossos estudos, pesquisas e ações políticas conseqüentes.

Como ato inaugural do Programa UFAL EM DEFESA DA VIDA, estamos realizando no dia 02 de abril, às 11hs, um ATO PÚBLICO na Avenida Central da UFAL, onde construiremos um GRANDE VARAL com 2.064 camisas/blusas simbolizando as 2.064 vidas perdidas, vítimas de violência, no Estado de Alagoas, no ano de 2008.

A universidade tem uma responsabilidade social; e, nesta hora de tamanha gravidade não pode ficar silenciosa. A PROEST pretende estimular a produção de políticas estudantis e acadêmicas que favoreçam a construção de uma nova cultura política pautada em valores que defendam a vida e os direitos sociais. É preciso que todos(as) compreendem, de uma vez por todas que, se não há segurança para TODOS(AS), não há segurança para ninguém.

Para ajudar a realização do nosso Ato estamos solicitando a doação de uma camisa/blusa (usada) para a construção do referido VARAL.

Definimos como pontos de arrecadação das camisas/blusas os seguintes espaços: PROEST, RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO, BIBLIOTECA CENTRAL, ESPAÇO CULTURAL (SETOR DE ARTES), ICBS, CECA E HOSPITAL UNIVERSITÁRIO.

Desejamos que este Ato inaugural conte com a efetiva participação de todos(as) os(as) estudantes, professores(as) e funcionários da UFAL. Mas também contamos com a decisiva participação da sociedade civil e dos(as) jornalistas do nosso Estado para divulgar e estimular o envolvimento da juventude não só na participação deste ATO do dia 02 de abril, mas também nas atividades que o Programa UFAL EM DEFESA DA VIDA desenvolverá durante todo o ano de 2009.

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  • alguém

    Isso é uma falácea, pois são estas castas, as maiores fomentadoras da violencia, indireta e até direta,usuarios de drogas.Estão querendo enganar a quem? estão querendo segurança pública para ocultar seus delitos particulares.

  • Ten Cel Vinícius

    Profª Ruth, nada acrescento ao excelente texto. Estarei doando camisas para a causa e conclamarei aos colegas Oficiais e Praças da PM (que acreditam existir solução para a violência desde que em parceria com a nossa população) para se fazerem presentes no ato.

  • Ricardo

    Excelente idéia. E num lugar que precisa de paz.

  • Edinaldo Marques

    A iniciativa é excelente, merece o nosso aplauso e todo o apoio. É fundamental discutir no desenvolvimento do programa a questão dos valores humanos. É preciso sair da sociedade do “ter” para a do “ser”, praticar a ética de caráter e formar lideranças baseadas em princípios.

  • Newton Barreto Filho

    Ricardo, vai no benedito bentes a noite para ver os jovens se matando p/espaco de esporte, c/quadras cheias de lixos e c/odescaso das autoridades. estamos chegando em 2010 + uma eleicao e so promessa. boa noite

  • Newton Barreto Filho

    Ricardo; nos temos a orla p/caminhar, e opovao da periferia faz o que? fumar crak,roubar, matar e os politicos numa boa, c/seus salarios em dia e preocupados c/a populacao, e maravilhoso nosso estado. abraços.

  • vera frança

    Parabéns prof Rute.Até que enfim a UFAL desperta para a importância do engajamento nas lutas sociais.Perdi alunos, grandes amigos e amigas vítimas da violência urbana e da cultura política do mandonismo. Conte sempre com o meu apoio e a minha admiração.

  • Aloísio

    Amigo, me perdoe. “Em defesa da vida”, foi um dos slongans mais brilhantes que conheci. É uma idéia criativa com muita inspiração criada pela Chama, cujo o autor foi vc, quando fazia parte da nossa equipe (pra nosso orgulho). Queria falar mais do conceito, porém , o espaço ñ permite.

  • povo do village

    Esperamos muitos anos para que a UFAL, repensasse os seus trabalhos e pesquisas em prol das comunidades do seu entorno. Não se fechem só na avenida do Campus, tragam ações para dentro destas comunidades. Valeu!

  • povo do village

    O Problema da violência é realmente cultural aqui em alagoas. Parabéns professora Ruth pela construção e Ricardo pela divulgação deste trabalho.

  • Hagá

    Profesora Ruth, meus parabéns! Tive a satisfação de ler sua dissertação de mestrado, publicada na UFAL. Todo alagoano deveria ler, para compreender porque temos tanta violência patrimonial e interpessoal, porque nossa classe média agride fisicamente, enfim, nosso coronelismo.

  • Elaine Pimentel

    Iniciativas como essa são muito importantes porque desperta a comunidade acadêmica e a sociedade civil para o engajamento no processo de defesa da vida humana. Parabéns à querida Ruth pela corajosa iniciativa e ao jornalista Ricardo Mota por conceder este espaço para a divulgação do programa.

  • Ascanio junior

    Como policial civil e ex-aluno da Ufal fico feliz por esta iniciativa de professores e estudantes, que juntos podem muito contribuir para intervenções qualificadas na área da segurança em nossa Alagoas.

  • Ascanio junior

    Como sugestão de pesquisa coloco o dedo na ferida: ”A (in)eficiencia da polícia em esclarecer os crimes de homicídio em Alagoas.” Dos 2.064 mortos o ano passado somente 8./.dos autores serão indiciados pela POLÍCIA CIVIL.E olhe que estou sendo otimista com 8./.

  • Ascanio junior

    Caro Ricardo, Espero que a Ufal possa ajudar na criação de conselhos comunitários de segurança nos bairros e municípios, iniciativa que em todo país tem contribuido para reduçao da violencia.

  • Elizabete Patriota

    ENQUANTO OS GESTORES PÚBLICOS NÃO SE CONVENCEREM QUE O MELHOR ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA É ATRAVÉS DA IMPLEMENTAÇÃO SÉRIA E COMPETENTE DAS POLÍTICAS SOCIAIS, COMO SAÚDE, EDUCAÇÃO, MORADIA, LAZER E ASSISTENCIA, PODE INVENTAR O QUE QUISER, QUE NÃO FUNCIONA.

  • Elizabete Patriota

    A SOCIEDADE TEM QUE REAGIR E ESSE É UM CAMINHO INTERESSANTE. A UFAL TEM QUE IR ALÉM DOS SEUS MUROS AO ENCONTRO DAS NECESSIDADES DO POVO QUE LHE POSSIBILITA A EXISTÊNCIA. OXALÁ AS CONSCIÊNCIAS ADORMECIDAS DESPERTEM…

  • Alexandre

    Excelente a iniciativa. Sou PM há 17 anos e nunca vi nenhum estudo cientifico sobre a questão da violência. A Seg. Pública de AL é simplesmente um caos, as vezes falta até papel A4 para fazer um ofício. Imaginem armas, vtr, coletes etc…

  • pedro correia filho

    Ajustiça deveria obrigar não só maceio e sim todas prefeitura do Estado e fiscalizar as notas fiscais como tambem os recibos proque os prefeitos pinta e borda com o dinheiro publico é. só investigar que pega os sabidos e fora da lei

  • Elisabeth Lopes

    VAMOS APROVEITAR CADA INICIATIVA PARA FORTALECER A POSSIBILIDADE DE IMPLANTAR UMA NOVA CULTURA EM ALAGOAS. POR UMA CULTURA DE PAZ.CHEGA DE TANTA OMISSÃO DIANTE DAS MAIS DVERSAR FORMAS DE VIOLÊNCIA NO NOSSO ESTADO. PARABENS RUTH E RICARDO!