O BEIJO DO HOMEM ARRANHA
Arranha reputação, por exemplo, mas nada que deixe cicatriz. E eu posso falar de "cátedra" sobre o tema. Há alguns poucos carnavais, no Pinto da Madrugada, encontrei um amigo muito querido, a quem não via há um bom tempo, e que eu sabia ter passado por uma fase braba, acompanhada por mim a distância. Na minha alegria de revê-lo, prontamente lhe dei um beijo no rosto, a que ele retribuiu com a mesma espontaneidade.
Tempos depois, encontrei o mesmo Lúcio Bolinho, que me contou, rindo muito, uma história acontecida naquele dia festivo. Ele estava em companhia de um vizinho, sertanejo dos bons, que também tinha acompanhado o bloco. Logo após eu ter me despedido, o tal vizinho comentou com ele que não sabia que o "Ricardo Mota era bicha".
-Mas ele não é bicha.
-E por que ele lhe beijou?
-Mas eu também beijei ele. E não sou bicha.
-Sei não….
Claro, nada dos extraordinários ósculos masculinos estampados nas fotografias de jornais e revistas da minha infância. Divertia-me muito, com meus companheiros de Buarque de Macedo e arredores, vendo Brejnev e aliados, no boca-a-boca, olhos fechados, com que se cumprimentavam. Pode ter sido o jeito que os eslavos encontraram, nas suas estepes geladas, para "aquecer" as amizades. Mas aqui pelas bandas dos trópicos continua parecendo um exagero – respeitando-se gostos e culturas. Mas beijar um amigo, como quem troca um aperto de mão, um abraço, é saboroso.
Lembro-me da primeira vez que beijei meu pai depois de adulto. Já casado, pai de filhos, foi num dos nossos deliciosos almoços de domingo (quando uma "galinha velha" fazia uma imensa diferença) que aconteceu. Não recordo exatamente o tema da conversa à mesa, mas foi para lhe dizer "muito obrigado" que tomei a iniciativa. Gostei muito de tê-lo feito, e logo percebi que havia reciprocidade da parte do seu Luiz Mota. Daí em diante não tive mais qualquer constrangimento de cumprimentá-lo assim, quando a situação se apresentava.
Hoje, este conservadorismo tolo já não me pega. "Beijo um amigo como beijava o meu pai" – um gesto tão singelo e agradável, mesmo correndo o "risco" de ser tomado por outro, como fez o vizinho do tão querido Bolinho. A nossa formação machista, nordestina ou não, ainda nos tira a oportunidade de manifestar o nosso melhor afeto.
Tenho um filho adolescente, igual a todos os garotos da sua turma. Eles, claro, como é próprio da idade, evitam esses contatos mais derramados com os pais (até mesmo com as mães), temendo a censura dos colegas e amigos. Assim é a vida. Da mesma forma que dela espero um presente: um dia, um beijo do meu filho. Que ele chegue tão ameno e naturalmente amoroso como aquele que dei em meu pai num dia de domingo.
O brasileiro, e em especial o nordestino, é machista mesmo. Isso é coisa da nossa cultura, mas nada de mais beijar o filho, o amigo. Mede-se o homem pelo conjunto do comportamento, das suas atitudes,pelo respeito para com o próximo e não por um beijo que se dá na face do outro.
Muito bem!!!O beijo cabe em qualquer relação de afeto…seja amizade,fraternidade,paternidade,sexualidade.A partir de hoje vou tentar beijar meus amigos também…
Caro Ricardo, como diz hoje, seu comentário é MARA. Olha, adorei pela forma tão clara e simples que aborda um tema, que é um tabú entre nós homens.pra mim, o beijo têm vários sentidos. Mais, nesse caso tem o sentido do respeito e do carinho que se tem pelo outro. Parabéns.
O beijo é o ato mais sincero e sublime de cada ser humano. Por ser tão singelo, não tem sexo. Infelizmente em Alagoas ainda insiste em perpertuar o carma de atrelar afetos masculinos a condições sexuais. Ignorância provinciana.
A lascívia não é exteriorizada por beijos, mas por atos sexuais. Logo, beijar um amigo não traduz homossexualidade. Talvez, vestimentas femininas usadas por homens em épocas carnavalescas dê evasão ao desejo inconsciente de querer ser mulher.
Caro Ricardo, infelizmente nao pude desfrutar em beijar meu PAI ( falecido) porém beijo meus tios Coroneis reformados, outro policial civil, como é gostoso receber deles esse carinho também. Quem tiverseus Pais,tios, filhos em vida que os beije e sintam esse carinho.
Ricardo, mais um vez vc me surpreende e aumenta ainda mais minha admiração por vc. O machismo presente em nossa cultura não permite que mesmo entre pai e filho possa haver gesto afetuoso de carinho e amizade. Tive uma relação parecida com meu falecido pai, que era militar do exército.
Caro Ricardo, por incrível que pareça no exato momento que lia sua crõnica eu ouvia paralelamente o disco REFAZENDA do Gil que trata deste assunto na música PAI E MÃE. Imressionou-me a coincidência. Um abraço.
Ricardo, conheci Sr. LULAe tinha uma grande admiração pelo relacionamento que ele tinha con sua mae(coisa que infelismente hj praticamente nao existe). Demoou um pouco pra vc beija-lo, mas com certeza foi a hora exata! um abraço!
Para falar deste assunto,reporto-me as Escrituras Sagradas,NOVO TESTAMENTO,Cap.16,V.16 de Romanos,o ósculo é santo e não arranha ninguém,e sim é um ato de amor fraternal e caridade(Jesus Cristo)ao próximo.
Texto muitíssimo feliz. Obrigado!
Ricardo, quando será que mudaremos nossos paradigmas? Algo tão espontâneo como um beijo sujeito a tanta insinuações! Quanto ao Lucio fomos colegas de grupo escolar. Grande caráter!
Gostei do tema!!!!! Diante de tanta noticia ruim, taturana, gabiru e coisa e tal. Você tras um tema de amor e respeito para temos uma alagoas melhor. Parabéns. É uma contribuição muito grande falarmos sobre respeito e amizada que esta tão em falta em nosso Estado.
Eu passei muito tempo aprendendo a beijar Outros homens como beijo o meu pai. (Gilberto Gil, Pai e mãe)
ARRASOU!!!lINDO DEMAIS!!!
Caro Ricardo, tenho 41 anos, e desde pequeno sempre que encontro meus tios e tias, beijo-os sem a menor cerimônia, que quiser falar que fale, pois eu os amo. Pena que a a maioria já morreu, e por isso fico triste pois estou ficando sem tios para demonstrar meu afeto. P.S. Não preciso falar que
Não preciso falar que sempre beijei meu pai. Pena uqe ele já se foi.
Caro Ricardo, Talvez os jovens de hoje (não somente, mas sobretudo eles) pensem que aquilo externado já seja o suficiente. Que pena: não aprenderam, ainda, que não há nada tão bom que não possa ser melhorado. Graças a Deus, mesmo sendo jovem, aprendi isso já há anos. Belo texto!
E o que seria de nós sem os beijos ..das chegadas…das despedidas.Se o ato de beijar mexe com vários músculos da face, com ceerteza mexe mais com o coração.Um beijo prá você
…singelo e belo….
Sempre que temos uma data comemorativa comprimento meu pai com um beijo em sua face, mas as vezes percebo que o tempo esta passando e que vou sentir muita falta desse gesto, tão simples mas que me deixa profundamente emocionado. Esse tema foi otimo. Sou seu fã, continue firme e forte.
caro Ricardo, como vc tambem so tive esta coragem depois de casado e pai de filhos,e esta lembrança tenho ate hoje pois depois de algum tempo so ela e que ficou pois meu velho se foi e como e grande a saudade de nao poder beija-lo mais abraço
Caro Ricardo,como é bom ler esses artigos simples que vc escreve aos sábados.Lemos simplesmente e depois vemos os comentários de vários conhecidos e vibramos em encontrá-los como angelo Cavalieri.Onde andas amigo?Lembrei-me também do meu pai Raul.
Texto legal…Ensinei meu filho a beijar o pai e ele tinha 14 anos qdo nos separamos, hj aos 26 anos ele continua a beijar o pai todas as vezes q se encontram, acho tão bonito!
Lá no Penedo, quando os cabelos ainda eram grauna, quem começou a beijar a família fui eu. Tímido, não sei com consegui! Abri a porteira e a tropa foi embora … Beijo só para os que muito amo
Beijo meus filhos no rosto com muito carinho e fraternidade assim como aos meus netos.Abraço-os, como tambem aos amigos e amigas queridos e queridas.SãO EXPRESSÕES CORPORAIS QUE DEVEMOS INCORPORAR AO DIA A DIA!!!Sensacional seus dizeres!!