Um peso imenso carregou para o próprio túmulo o cientista Robert Oppenheimer. As imagens do horror em Hiroshima e Nagasaki não deixavam dúvidas: ali estava um dos piores crimes cometidos contra a humanidade (e pela humanidade) – e em nome da paz. Os corpos reduzidos a cinzas, outros que se tornaram apenas tatuagens gravadas no chão queimado, eram a prova definitiva da culpa de Oppenheimer. Diretor científico do Projeto Manhattan de armas nucleares, foi um dos principais responsáveis pela invenção da bomba atômica – e duas delas haviam sido despejadas sobre o Japão (em Hiroshima, pelo avião-bombardeiro Enola Gay, homenagem à mãe do piloto). “Nós temos as mãos sujas de sangue”, disse ele ao presidente Harry Truman(que deu a definitiva ordem para o ataque mortal ao Japão), no último encontro entre ambos. Oppenheimer usara a frase para se referir a ele e aos colegas que haviam trabalhado no projeto que gerou o monstro. Sabe-se hoje que há documentos e depoimentos que comprovam que o cientista resistiu ao uso da nova arma antes daquele trágico 6 de agosto de 1945. Mas Truman já estava decidido a dar uma prova de força aos inimigos soviéticos, abrindo com chave de sangue a Guerra Fria. O remorso de Oppehheimer não era só dele. Carregou-o, também, Albert Einstein, o gênio judeu e alemão, que defendeu o desenvolvimento de armas nucleares para enfrentar Hitler – foi em carta encaminhada em 1939 ao então presidente Franklin Delano Roosevelt; e ainda o físico húngaro Leo Szilard, que pela primeira vez pensou cientificamente o processo de fissão nuclear(do urânio), idéia-mãe da bomba (também das usinas que produzem energia). Ambos, no pós-guerra, se dedicaram a atividades pacifistas, alertando para os riscos do genocídio que a arma poderia provocar a qualquer momento. Os dois, Einstein e Szilard, foram apresentados um ao outro pelo também físico e húngaro Edward Teller, personagem central destas linhas. Cientista brilhante, foi recrutado para trabalhar no Projeto Manhattan, mas de tudo fez para não cooperar. Ato de consciência? Nada disso. Teller queria mais: a bomba atômica para ele era apenas o começo – buscava “A Super”, a bomba de hidrogênio, à base de fusão nuclear, muito mais destrutiva. Conseguiu, Teller. Com persistência, desmoralizando publicamente Oppenheimer- então presidente do Conselho Consultivo Geral da Comissão de Energia Atômica pós-guerra. Numa reunião com cientistas questionou a lealdade aos Estados Unidos do seu ex-chefe no Projeto Manhattan. Queria ir em frente, e se Oppenheimer era uma pedra no meio do caminho, deixou de sê-lo. Não se tratava da luta do bem contra o mal; talvez da “consciência do mal” contra o que ainda poderia ser pior. Mas foi a própria ciência que se encarregou de barrar os planos de Teller. Havia, já, a bomba termonuclear – de hidrogênio-, mas qual seria o seu alvo? Os trabalhos científicos que se sucederam na década de 1980, mostravam que a consequência maior da arma seria o “inverno nuclear” – a redução da temperatura global em 15 a 20°C (depois apontaram para números mais baixos, mas isso passou a ser irrelevante). O que estava em jogo era o futuro da espécie, da humanidade, a quem Teller queria oferecer a sua revolucionária invenção. O objetivo: a paz – tendo a bomba, os EUA evitariam a guerra, mas a URSS também desenvolveu a sua. O resultado real: fome, devastação, mortandade em massa – inclusive no país que lançasse “A Super”. Se os seus planos tivessem ido adiante, é possível que não estivéssemos aqui neste colóquio domingueiro. Sentiu faltar-lhe o chão, mas não a disposição de insistir em encontrar um “inimigo poderoso” para a sua criatura. Que tal fora da Terra? A última idéia do físico brilhante foi a de detonar no espaço – já em parceria com cientistas soviéticos (pós-URSS)- uma nova geração de bombas termonucleares, com o objetivo de destruir ou desviar asteróides que estariam em rota de colisão com o nosso planeta. Afinal, se havia a arma, não deveria haver o alvo? Tentou o quanto pôde encontrá-lo. E assim foi um militante contra os tratados para limitação de armas nucleares e seus testes. Encontrou aliados importantes como o “ator” Ronald Reagan, que viveu seus anos de “Velho Oeste” na Casa Branca. Mas também teve de ouvir, algumas vezes, a voz da sensatez -por exemplo, da rainha da Grécia, Frederica, a quem propõs eliminar montanhas incômodas ou remover terras profundas com os seus artefatos preferidos. Sua Majestade encerrou a conversa: -Obrigada, doutor Teller, mas a Grécia já tem muitas ruínas exóticas.

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  • sergio

    Esse é o preâmbulo da máquina de guerra saqueadora dos Estados Uninos da America. Hoje sem alarde, como açougueira desossante. No popular, fazendo picadinho dos miseráveis, para roubar petróleo, dos despreparados militarmente, mas que têm uma consciência de povo de fazer inveja.

  • Sylvio De Bonis Almeida Simões

    Maravilhoso! A moeda tem sim, e sempre, dois lados. Ao jornalista, e ao historiador, compete apresentá-los. Parabéns.

  • marcos

    A bomba atômica é o maior exemplo de que um recurso pode ser usado para o bem ou para o mau!Eu acredito sim que se seu desenvolvimento for centralizado na melhoria da qualidade de vida através de descobertas parelalas ao seu estudo ,desdeque não caia em mãos erradas!

  • Roberto Costa

    E existe pessoas que ainda insistem na necessidade daquele ato. Sempre será assim. O homem tudo fará para se garantir como o “umbigo do mundo” seja como individuo, grupo ou nação. A versão da história sempre pervalecerá a do vencedor.

  • Elizabete Patriota

    O Japão destruído pela bomba H,nós destruídos, aos poucos, pela bomba C de corrupção. Guardadas as proporções, um dia, as futuras gerações, terão por nós o mesmo sentimento que temos em relação aos japoneses mortos e adoecidos pelos efeitos devastadores da maldita bomba.

  • Elizabete Patriota

    Os efeitos devastadores da nossa bomba C são: analfabetismo, fome, doenças, abandono, morte de todo tipo: matada e morrida. A propósito: pq o espaço destinado aos comentários é tão pequeno? Mais uma vez, parabéns pelo texto!

  • lucio canuto(Pezão)

    Grande Ricardo , voce está cada dia melhor .Trazendo assuntos aparentemente esquecidos, porem , de grande relevancia .Abraço.

  • Gilvan Mata

    A descoberta da bomba Atomica foi um avanço da ciência, o uso dela, de forma criminosa, foi desumana, cruel e irreperável. Hoje, as usinas nucleares estão em alta, mas para substituir o petroléo, o carvão, o gás natural… Melhor para o planeta..para todos nós..

  • José M Filho

    300 Milhões de Reais não salvaria as milhares de vidas inocentes de tão devastador e cruel exterminio. Porém no pobre Estado de Alagoas centenas de crianças não estariam hoje sepultadas sem a menor chance de defesa com o efeito devastador da falta minima de assistência.

  • Ricardo Melro

    Caro Ricardo, muito bom o teu artigo. Thomas Hobbes tinha razão quando disse: “o homem é o lobo do próprio homem”. Vivemos uma crise mundial com os alimentos. Nações inteiras passam fome e os EUA continuam gastando fábulas de dinheiro para promover a guerra, a morte. Nação de Hipócritas!

  • Celso Tavares

    Evolução, progresso … Eita palavrinhas perigosas! Celso

  • Elisa

    As vergonhas se repetem, sempre vindas da mao humana. Nos nao temos bombas de grandes cientistas, mais temos a bomba da herança historica, de uma geraçao maldita, a geraçao do pode tudo, a geraçao do matar, nao fazemos guerra la fora pq vivemos uma aqui mesmo todos os dias.Essa sem fim!

  • O PENSADOR

    Tenho a convicçao q todo o mal pode ser esmagado pela Fé em Deus.Nenhum mau perdura p/ sempre, pq tudo frui.Nunca é tarde p/ se arrepender, mas seria bom se arrepender qd estivesse pensando em fazer.

  • LUCIANO

    o haiti é aqui. Ou hirochima, ou……..

  • RICARDO GOMES

    Não existem bombas para o bem ou para o mal. Elas existem para destruição, desenfreadas, sem precedentes, sem respeitar esse ou aquele e que na maioria quem paga é a humanidade inocente.