A carta, abaixo publicada na íntegra, foi elaborada com base em estudos realizados por instituições internacionais, com tradução feita pela UFAL. O alerta/estimativa contabiliza todos os leitos com pacientes de Covid-19 – nas enfermarias inclusive -, que não estão, obviamente, disponíveis (não são 4 mil internações num único dia – é o acumulado).

São várias as recomendações que precisam ser adotadas para evitar o colapso da rede de saúde no estado, alerta a Sociedade Alagoana de Infectologia.

Se não forem tomadas as medidas sugeridas – o que inclui também o cumprimento do isolamento social -, o quadro da Covid-19 no estado de Alagoas pode se agravar e atingir um patamar insustentável, alertam os especialistas.

Vejam o documento:

Carta aberta aos Gestores Públicos e à população alagoana

                       Maceió, 28 de abril de 2020

Preocupada com o impacto da Pandemia de Covid-19 na saúde da população alagoana, e ciente do seu papel como entidade que agrega os especialistas em prevenção controle e tratamento das doenças infectocontagiosas, a Sociedade Alagoana de Infectologia – SAI resolveu dar sua colaboração, identificando pontos decisivos para a assistência adequada as pessoas acometidas por este vírus.

O diagnóstico precoce dos casos, a identificação ágil dos sinais de gravidade e o início do tratamento hospitalar adequado, são decisivos para uma melhor evolução dos casos mais complicados. Portanto, estes pontos são norteadores para elaboração de fluxos, que se bem aplicados, poderão evitar muitas mortes.

Assim, vemos com preocupação a dependência quase que total de transporte em ambulância do tipo UTI móvel, para que os casos graves e críticos cheguem à maioria dos leitos de enfermaria e UTI destinados aos casos de COVID-19, uma vez que não há pronto atendimento médico na estrutura do próprio hospital, à exceção do Hospital Escola Helvio Auto e de algumas unidades do interior do Estado. Ou seja, para que o paciente tenha acesso a estes leitos, necessita obrigatoriamente passar por atendido em uma unidade de saúde externa ao hospital (exemplo: UPA, HGE). Este é um gargalo importante, considerando a velocidade na evolução para estado crítico, quando da presença de sinais de gravidade, e o número de casos estimados para a população alagoana, que poderá chegar a mais de 4.000 internações em um mesmo dia.

Outro ponto crítico é a destinação de leitos de Unidades de Pronto Atendimento – UPA para internação e tratamento. A menos que haja adequação do espaço físico e de recursos humanos, especificamente para o cuidado dos pacientes internados, haverá prejuízo tanto para a atividade habitual destas unidades (pronto-atendimento), quanto à atividade pretendida (assistência hospitalar), uma vez que estes leitos, pela característica assistencial das UPAs, são destinados apenas à observação, estabilização e posterior transferência, idealmente nas primeiras 6 horas de atendimento, com limite máximo de 24 horas. Esta decisão traz grande risco, pela impossibilidade técnica da mesma equipe que presta pronto atendimento assistir adequadamente pacientes internados, e pela necessidade imperiosa para esta epidemia de que haja rotatividade nas unidades que prestam pronto-atendimento, para abrir rapidamente espaço a novos casos que necessitarão de atendimento imediato e estabilização.

Partindo destes pontos mais críticos, fizemos uma rápida análise do que está disponível atualmente na rede de urgência e emergência de Alagoas, a exemplo de Serviço de Atendimento Móvel, Unidades de Pronto Atendimento, leitos de UTI, e elaboramos algumas recomendações aos gestores, baseados no que conhecemos da dinâmica desta doença e dos dados disponíveis. As fontes de consultas destes dados estão descritas no documento técnico denominado “Análise da rede de assistência às Urgências/emergências no território de Alagoas, no contexto da Pandemia de COVID-19, e sugestões de aperfeiçoamentos e potencialização de acordo com o perfil da doença”.

Cientes de que não é tarefa fácil para nenhum sistema de saúde se adequar a uma epidemia com esta dimensão, mas confiantes de que os gestores públicos do nosso Estado não pouparão esforços para assistir a população da melhor forma possível, nos colocamos a disposição para dar auxílio técnico no que for pertinente à esta Sociedade Médica, para além da contribuição que pretendemos dar com a elaboração deste documento técnico.

Atenciosamente,

Fernando Luiz de Andrade Maia

Presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia

Faltam a voz e a autoridade da ciência no discurso do governo do Estado
A "gripezinha" já matou mais no Brasil do que na China - é tomar Detergente Trump
Atualmente não há comentários.