Uma das piadas mais repetidas de Ariano Suassuna é aquela em que ele diz que “é falta de educação falar mal dos outros pela frente”. Por inevitável, no caso dele, é humor inteligente e surpreendente.

Eis uma qualidade inalienável do humor: a surpresa. Peço licença, antes de seguir, para lembrar que Suassuna foi e será sempre maior do que o sujeito engraçado, de tão forte sotaque nordestino, que espalhou gargalhadas pelo país em suas aulas-espetáculo. E, certamente, o paraibano de quem os pernambucanos tanto se orgulharam e se orgulham conhecia e apreciava – descontando as diferenças religiosas – o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Sobre o humor, dizia o bigodudo:

– Eu iria ao ponto de me aventurar a classificar os filósofos segundo o escalão de seu riso.

Ariano, seguramente, estaria no primeiro escalão.

O autor do clássico O auto da compadecida não haveria de defender a má educação e/ou a covarde  agressão gratuita,  tão atual e circulante no território fantasticamente aberto e acessível da internet. Ariano tinha a coragem dos grandes, que não precisa ser demonstrada a cada dia em sua virulência, esta tão reveladora da sempre precária condição humana.

O que acontece por lá me parece claro: o grosseiro e tosco se tornou mais grosseiro e tosco (“Idiota!”, diria o nosso pensador Nelson Rodrigues), mas é importante reparar que o cordato e tolerante não ficou mais cordado e tolerante ao usar os caminhos e o dialeto primitivo dos que, majoritariamente, se encontraram nas redes.

Finalmente, descobrimos o remédio que enlouquece o louco e não cura o doente, o que sempre perseguimos com com fanática obsessão.

(Aliás, em A Gaia Ciência, Nietzsche alertou que “o fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos”. E olha que ele nem imaginava o que vinha pela frente – papel dos clássicos.)

Confesso que fiquei impactado ao começar a escrever neste espaço, em 2008, e receber mensagens – não só em minha direção – produzidas pelo mais puro fel e pela mais triste infelicidade. Cheguei a criar um conjunto de regras estabelecendo critérios para a liberação de comentários. É verdade que eu até afrouxei um pouco, por algum tempo, esse controle, mas paulatinamente tenho retomado várias das regras publicadas lá atrás.

Faço-o para me livrar e livrar os leitores dos que acham que o bom e atual é agredir e achincalhar os outros “pela frente”. O que não é nem o caso: o covarde só ataca quando se sente seguro, e estar escondido por trás do teclado não é uma condição de destemor e honestidade intelectual ou moral.

No meu caso, sei que sou um homem comum! Eis uma descoberta fantástica na minha vida, talvez o maior ensinamento que Michel de Montaigne me trouxe, com seus sempre companheiros Ensaios. Isso me fez baixar um tanto o nariz, mas me deu uma responsabilidade ainda maior para comigo, os meus, e até para com vocês.

Ora, pois: se eu sei que carrego todos os sentimentos humanos, os bons e os ruins (às vezes, estes últimos são indispensáveis até à nossa sobrevivência física), obrigatoriamente tenho de ficar mais vigilante comigo e distante daqueles a quem identifico pelas vilezas cotidianas e incessantes.

O mal contagia com mais eficiência e rapidez. Exige pouco da mente humana e muito da sopa emocional e primeva que carregamos desde os tempos em que nem desconfiávamos que seríamos considerados, por nós mesmos, os Sapiens do planeta. Comum, sim, e até por isso vulnerável a este contágio – eis o que eu sou. Então, longe desse vírus da “pós-modernidade”.

Suassuna tinha opiniões, posições, pensava e lia sobre elas, e possivelmente reformou, no esticar da linha  da sua longeva vida, convicções que imaginava definitivas. Talvez isso tenha contribuído decisivamente para que ele próprio, não os seus personagens, provocasse risos e surpresas em plateias dos mais variados níveis de formação e conhecimento.

Sem nenhum constrangimento.

Isso em nada o diminuiu, o que só aconteceria se ele se transformasse num grosseirão, a vociferar impropérios para provar frontalidade e valentia a uma plateia boquiaberta. Seria, esta, uma prova de covardia, que ele nunca deu nem aos seus afetos nem aos desafetos (também os tinha).

Até mesmo o personagem que ele criou para si próprio na sua vetustez sabia muito bem a diferença entre o humor e o ridículo.

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  • JEu

    Bom dia com muito bom humor, Ricardo… isso é o que realmente está fazendo falta, pois, como dito no texto, muitos estão agredindo com palavras de frente aos outros… é o caso da grande maioria da mídia, ao dirigir perguntas fora do contexto e direcionadas para atacar o Presidente, sempre que ele concede uma coletiva… é só verificar e ver como isso é verdade… mas, logo vão dizer: perguntar não ofende…!!! será?!!! por isso estou concordo com a nova forma de fazer coletiva de imprensa da equipe do governo: logo após a declaração o governo ou outro representante qualquer, o ministro da saúde, por exemplo, e, em seguida, deixa seus auxiliares para responder as questões puramente técnicas e relacionadas com o assunto… isso tem poupado muita explicação, tempo e respostas inúteis, além de garantir uma maior calma ao governo… não será isso uma demonstração de muito bom humor?!!! Bom domingo.

  • Antonio Moreira

    A casa vizinha e os moradores “adultos crianças” :
    Estava na porta da minha casa e um deles me disse de maneira calma/serena e sem gritaria:
    Corno! – Eu lhe disse, está me chamando de corno? – Ele: corno, sem mudar o tom da voz.
    Repetidas vezes.
    Ontem, O Marquinho(Observador), gritou: Que calção é esse vizinho? Eu respondi – É a caçola da minha mulher! Ele – gargalhadas em abundância e gritava sem parar, caçola… kkkkKKKKKKk(Não é o símbolo químico do potássio, não, viu!). google: O potássio é um elemento químico de símbolo K, número atômico 19, metal alcalino, de massa atómica 39 u.
    Eu estava varrendo a minha porta e dos vizinhos e o calção(curto) eu usava quando participava de corrida de rua.
    Pois bem, esse mesmo rapaz que sorria copiosamente, minutos depois chorava desesperadamente dizendo que a mãe dele tinha morrido e eu lhe disse que ela estava viva…
    Tenho um outro, quando o vejo, ele diz que quer água gelada…
    O humor e o ridículo, é assim a vida…

  • Há Lagoas

    “A primeira Lei da Natureza é a tolerância – já que temos uma porção de erros e fraquezas”.
    Voltaire

  • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

    Um BOM e prazeroso domingo, desses BEM comuns, caríssimo Ricardo
    … bastante SAÚDE a todXs, em especial à família PSCOM, sempre atenta!

    > É verdade que eu até afrouxei um pouco, por algum tempo, esse controle,
    – mas paulatinamente tenho retomado várias das regras publicadas lá atrás.
    [Vc acima de TUDO]

    # Nas ASAS parahybas d’órfão aos 3 anos em Recife Ariano (1927-2014, 88),
    – naturalizado pernambucano até os 88 perder o PAI deputado aos 44, deu RUIM.
    … militares declararam parte da Paraíba independente em 1930, contra Getúlio
    … em 1960 o AEROPORTO de Campina Grande-PB torna-se João UPV Suassuna
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Suassuna

    Ensaios de Montaigne (1533-1592, 59) na França das FINITUDES terrenas redondas
    … Isso me fez baixar um tanto o NARIZ, mas me deu uma responsabilidade
    … ainda maior para comigo, os meus, e até para com vocês. [R Mota ao redor de todXs]

    Vida de CRAQUE … Na prancheta, seleção de 1970 era como principais times europeus de hoje
    … Havia, porém, detalhes diferentes no Brasil tricampeão.
    – Parece que foi ontem [Dr Tostão,1,72 m mineiro em BH], 25mar20

    Improvisos em VIDA … deveríamos ter 2 vidas, 1 para ENSAIAR e outra para viver.
    [Vittorio Gassman 1922-2000, 77 com 1,87 m europeu apud Tostão ]
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Vittorio_Gassman

  • CICERO FREDERICO DA SILVA

    Grande, falar de Ariano é retornar ao estado da Paraíba, sua terra natal.
    Bem sua história se estende a sua mãe, quando seu pai foi acusado da morte de JOÃO PESSOA(hoje dado a capital da Paraíba, após morte).
    Foram morar no Rio de JANEIRO, sua mãe escondia deles quando crianças,os filhos.
    E voltar a vida nos escritos

  • Carlos

    ” O humor e o ridículo”
    ” Os servidores públicos estaduais ganham muito pouco”
    Por este motivo 14% ,em cima dos aposentados e pensionistas!
    Desnaturado governador Renan Filho!
    O pensador.

  • CICERO FREDERICO DA SILVA

    Bem, aproveitei fui a fundo sobre ele, seu pai trabalhava no jornal do comércio em Recife, João PESSOA mandou invadir o setor e levou as cartas que seu pai guardava.
    Após essa fato, ele foi assassinado numa lanchonete em Recife, e seu pai o autor do fato.
    Após isso, sua família se mudou pra o Rio de JANEIRO.
    No Rio de JANEIRO, seu pai foi assassinado por um pistoleiro de aluguel, com vários tiro, pelas costa.
    Um fato triste.
    Depois sua família voltou pra Paraíba.
    …..

  • ROBERTO PAIVA

    ENTRE O BEM E O MAL A LINHA É TÊNUE MEU BEM
    ENTRE O AMOR E O ´ÓDIO A LINHA Ê TÊNUE TAMBÉM
    LETRA DE MARIA GADÚ.
    POIS É AMIGO RICARDO,NÃO É FÁCIL SER JORNALISTA
    NOS TEMPOS PÓS MODERNO.
    PAUL MCCARTNEY EM FIVE LINE, AFIRMA QUE HÁ UMA LINHA TÊNUE
    ENTRE A IMPRUDÊNCIA E CORAGEM.