Bituca era um dos nomes que usávamos, adolescentes (bobos, no caso) da Buarque de Macedo e arredores, para pedir o resto de um cigarro consumido por um de nós. A sinonímia era extensa, porém o vocábulo mais usado era “toia”. Cada cigarro era dividido por dois, três garotos, já que o dinheiro era curto e a solidariedade se impunha – até por reciprocidade.

As palavras vão mudando com o tempo. Algumas perdem seu sentido original, às vezes até ganham outros, ou simplesmente somem dos colóquios (aqui está uma delas) do dia a dia. Bituca? Toia? Já eram.

O verdadeiro Bituca, porém, aquele a que se refere este breve texto domingueiro, não se apaga, é imortal pelo tanto que já fez. Milton Nascimento conquistou o direito de dizer o que pensa sobre os caminhos percorridos pela sua arte, ainda que pareça ofensivo aos quem consomem o produto:

– A música brasileira está uma merda!

Não discordei, apenas me surpreendi com a fúria do maravilhoso negro de Minas e Geraes, num desabafo carregado de tristeza. O autor de Coração de Estudante, que possui um timbre de voz agridoce e único, conhece a beleza da criação musical deste pedaço de mundo abaixo da Linha do Equador. E protesta ao vê-la sumindo, expulsa do seu habitat, exatamente nos tempos em que seria acessível a todos em todo o mundo.

Não há de ser fácil para o Bituca deparar-se com a atual produção sonora brasileira, numa definição mais honesta para o que se toca – e muito – do Oiapoque ao Chuí. E que monopoliza os meios de comunicação de massa, espalha-se pelas redes sociais, abafa os acordes mais delicados, borra os versos de incomparáveis letristas/poetas, desmanchando aquilo que Pierre Bourdieu definiria como um dos nossos ‘capitais simbólicos’ (o outro seria o futebol. Seria não, foi).

Que fique claro: o problema não é o tempo – é o homem, que se entrega sem resistência aos apelos de tribos gigantescas, monolíticas, massas amalgamadas para quem gosto não se discute (até por ser o mesmo), o que nem as experiências mais extremas do comunismo totalitarista conseguiram.

Essa queda de padrão, um desabamento, na verdade, não é diferente em outras áreas da nossa vivência cotidiana. Lembro-me de uma historinha deliciosa envolvendo JK e o Doutor Ulysses. O ex-presidente tentou convencer, pós-golpe militar de 1964, o já experiente parlamentar de oposição a votar em Castelo Branco para presidente – no Congresso –, usando um argumento de peso, então:

– Ele leu muitos livros.

– Mas leu os livros errados.

Teria algum sentido, pelos dias de agora, esse diálogo? No meio a que me referi seria muito pouco provável.

É verdade que vivemos um momento um tanto particular, de apologia da ignorância, o que justifica largamente o sucesso de público e de crítica das Fake News. Se pensar dá trabalho e consome energia, degustar uma canção de harmonias feitas de pontos e cruzes, de versos bordados numa trama que foge ao controle do artista, também nos cobra um aprendizado – um tanto lento, se não nos chega como uma epifania, mas com a compensação emocional que só a arte é capaz de ofertar.

Milton há de ser entendido como um grito de liberdade, de inconformismo com o absolutismo do que se espalha ruidosamente para milhares, para milhões, abafando os mil tons de delicadeza que nos restaram ecoando, ainda que na clandestinidade.

Já se disse por aí que vivemos a ditadura do gosto médio, que arrasta a maioria, independentemente de classe social e nível de escolaridade – o corte é vertical. E até Chico Buarque afirmou que a música de hoje, essa a que o criador de Menestrel das Alagoas classificou de forma tão dura, é mais representativa do povo brasileiro do que aquela que sua geração na MPB produziu (e ainda produz, mesmo que bem menos).

Se razão se dá a quem tem, por que ele então nos fez amar tanto a sua arte e escreveu um dia que “Futuros amantes, quiçá/ Se amarão sem saber/ Com o amor que eu um dia/ Deixei pra você”?

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Empresário Emerson Tenório: "Nós temos de nos abraçar com os chineses"
  • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

    UM bom domingo, caro Ricardo Mota … pra todos nós à deriva do petróleo derramado nas praias!
    somos cascas de NOZES náufragas
    … ‘numa definição + honesta pra o Q se toca – e muito – d’Oiapoque ao Chuí.’ [Vc acima de tudo]
    E Milton acima de todos aos 76 de idade chegado um ano antes de Chico 75, Prêmio CAMÕES 2019.
    Duas estrelas pulsantes em cada Coração de ESTUDANTE (1983) como nunca antes neste país, BRASIL!
    > Quero falar d 1 coisa – ‘divinha ond’ela anda? – Dentro do peito ou caminha pelo ar aqui do lado?
    – Bem + perto Q pensamos: a folha da juventude – nome certo desse AMOR, podaram seus momentos?
    > Desviaram seu DESTINO sorriso menino se escondeu? – Renova-se a ESPERANÇA aurora a cada dia!
    – E há que se cuidar do broto pra Q’a vida nos dê flor, flor e fruto.
    > Coração de estudante a cuidar d’@-mundo, amizade. – Alegria e muito sonho espalhados no caminho
    – Verdes, planta e sentimento. – Folhas, coração. – Juventude e FÉ! [o4’ 47″]
    https://youtu.be/KsqAfD4BkwA

  • Meu NOME é Gal desejando rapaz: SEM cultura NEM crença OU tradição, AMO igual!

    Somos todXs bahÊa, man’u$ … ao redor de Irmã DULCE canonizada, é canon – é
    Ao redor de Zé MCZ em PS – Post Scriptum no Dia da CriOnça. [12out19]
    … ‘é tão bão criar palavras novas, inusitadas, estrambólicas, né mêrmo! Eu me sinto superior!
    http://blog.tnh1.com.br/ricardomota/2019/10/11/moro-surpreende-com-um-porrete-na-mao-e-uma-cenoura-na-outra/
    E de Irmã DULCE … a mania de dar apelidos:
    – A funcionária Walkíria Maciel, confidente gordinha: Esqueleto;
    – Irmã Emerência depois dos 90 anos: Garotinha;
    – Próprio corpo FRAQUEJANTE:pulmões (jamelengos), pernas (mariquinhas) e coração (joãozinho).
    > A 1ª santa genuinamente NACIONAL amou o Rock do tbém bahÊano Raul SEIXAS … é nóix!
    – Dulce e RAUL irmanados pró-obras sociais SEM preconceito no Cine Roma em Salvador-BA:
    > A BANDA (conjunto) Raulzito e os Panteras no Círculo Operário, sob Frei Hildebrando:
    – Irmã Dulce bancou as matinês no Cinema LIVRE sem + além Q burocracia, genTeee! [13out19]
    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/10/lado-b-de-irma-dulce-teve-paixao-por-futebol-apelido-piada-e-o-primeiro-toca-raul.shtml

    Na velhice, quando o organismo começava a fraquejar, resolveu apelidar as partes do próprio corpo: os pulmões eram chamados de “jamelengos”, as pernas de “mariquinhas” e o coração de “joãozinho”

  • Zé MCZ

    O que eu percebo nitidamente é que vivenciamos uma era de liberdade. Liberdade para escolher o que e quem queremos ver, ouvir, eleger, etc. Mas se essa tal liberdade resulta nesse cotidiano que beira a incompreensão para você, dr Ricardo, que (ainda) tem senso para discernir o que é agradável, aí seria um caso para o sociourubólogo FHC apresentar a tese dessa pizza, que ele tem uma fatia:
    Assim não pode! Assim não dá!
    Eu não sou sociólogo, mas a situação na qual estamos, sob quase todos os aspectos, deve ter origem no freio de arrumação dado pelas elites podres lá na década dos idos de 1950/60. O Brasil de JK vinha trilhando num rumo de progresso, inclusive sociocultural, uma intelectualidade da classe média e da operária que começava a questionar e lutar. Ainda faltava ser inserida as classes eternamente desfavorecidas, algo que o Jango claramente iria trabalhar. Mas…
    Comunismo! Jamais!
    Tem que ser consumismo! Miolo de pote! Massificação! Tudo no moedor!
    Queiramos ou não, estamos sendo tragados… Eu tô na última leva rumo a Auschwitz. Até lá tenho esperança…
    E tu nunca mais vas tragar a bituca (espero que tenha deixado há muito) de Hollywood, Continental (pouca grana) Minister, Carlton (hum, melhorou), du Maurier, Pall Mall (para esnobar), agora só made in Paraguay! Com todos os componentes possíveis!
    Valeu!

  • JEu

    Bom dia, Ricardo. E nesse dia em que a grande nação cristã católica brasileira comemora o reconhecimento papal daquela que, já sendo Santa por sua vida e seus atos, continuando a realizar benefícios ao povo mais sofrido e necessitado, mesmo depois de haver transpassado os portais da “vida maior”, autoriza que se realize cultos e adorações em ofícios nos templos das igrejas e em outras comemorações católicas, Irmã Dulce, que já ocupa um lugar de destaque no coração daqueles que a recebem como a primeira Santa (católica) nascida nestas terras brasileiras, não devemos e não podemos deixar de anotar, neste espaço, algo tão significativo para o sentimento de espiritualidade maior que ocupa o coração deste povo.
    E quanto ao tema de hoje, o interessante é que, segundo mencionado no texto “mas leu os livros errados”, vivemos tempos de preconceitos, muito embora neguemos o que existe em nós mesmos… afinal, se alguém já leu muitos livros demonstra, pelo menos, o gosto pela leitura e sua capacidade de ler… já nos dias atuais, e aí concordo com vc, isso é coisa muito esquecida… agora, criticar os outros por seus gostos e suas preferências intelectuais é reconhecer nossa incapacidade de saber viver e aceitar as outras pessoas… lógico que nossos valores e opiniões representam nossa “construção” interna, cujos fundamentos encontram eco em nosso arcabouço de valores de cunho pessoal, portanto, dentro do direito de pensamento e de livre arbítrio, que as próprias leis divinas reconhecem… restando, apenas, à cada um, a justa colheita das próprias obras, estabelecida na lei da causa e efeito, ou de ação e reação… porém, havemos de reconhecer que, como ser gregário, com necessidade maior de convivência social (já o afirmaram filósofos e estudiosos antigos e modernos) somos todos influenciadores e, ao mesmo tempo, influenciados pelo pensamento e/ou “sentimento” dominante em determinada época… então, se existem coisas que hoje não concordamos, algo que pode, a nosso ver, “destruir” valores (sociais, religiosos, culturais, estéticos, educacionais, etc, etc) “ameaçando” trazer mudanças talvez “radicais” sobre coisas que achamos corretas e boas, é preciso reconhecer, também aí, nossa parcela de contribuição, mesmo que indesejada, seja por ação, seja por omissão, seja por culpa, seja por dolo… afinal, alguém já o disse que somos, também, o resultado do próprio meio em que vivemos… e se algo nos traz algum motivo de insatisfação ou dor, então precisamos analisar onde foi que erramos e o que podemos fazer para sair da situação indesejada… e não ficar, simplesmente, colocando a culpa sempre nos outros… Boa meditação, para um dia, como dito no início, diferente para uma grande parte da população brasileira. Bom domingo.

  • Antonio Moreira

    Pois é, o cigarro/fumo bateu na porta de todo mundo.
    se fosse consumo de gente pobre certamente ninguém revelava
    o mal que a bituca provoca na vida humana.
    //
    Travessia: como tema de uma prova seletiva(vestibular) – Passei. Alegrias mil.
    Travessia: no cotidiano – ainda não passei.

    Travessia(Milton Nascimento)
    Vou seguindo pela vida
    Me esquecendo de você
    Eu não quero mais a morte
    Tenho muito que viver
    //
    Por que tantos políticos visitava o empresário?
    Seria a convite do empresário?

    O dinheiro público – entra governo e sai governo:
    Por que tem tanta gente(pobre) presa?
    Por que o tempo passa e não melhora o serviço público? Quem se serve desse serviço?
    Por que tudo é complicado para maioria?
    Por que a minoria tem tanto privilégio? O tempo passa e não existe crise para minoria.
    Para onde vai a maioria do aluno da escola pública?
    Para onde vai a maioria do aluno da escola privada?
    Onde entra DEUS/JESUS/IRMÃ DULCE em todas essas realidades citadas acima?
    Quais as finalidades das igrejas?

    beba/fume com moderação.

  • Há Lagoas

    Ainda bem que exite sempre um remanescente – que rema cotidianamente contra a maré – preservando aquilo que temos de mais precioso e nos distingue dos demais animais, a razão.
    Sou aquilo que meu filho chama de “fóssil”, amante da boa música e que teima em insistir em passar este legado ao meu filho.
    Em tempo tão difíceis para quem tem ouvidos sensíveis, é importante ser seletivo para manter a sanidade.