A primeira Copa do Mundo que eu acompanhei ao vivo foi a de 1970. Vencida, aliás, pelo sofá da sala da minha casa. Para ser mais exato: pelo cantinho do confortável estofado onde o seu Mota se entrincheirou durante os 90 minutos de cada uma das seis partidas do torneio, sem que dali saísse nem ao menos para as necessidades mais urgentes.

Aos doze anos de idade, assisti à final de 70, contra a Itália, no meio da rua. E não era uma rua qualquer: a velha Buarque de Macedo reuniu seus moradores em torno de um único televisor, que tomou o centro da pista – então, coberta por uma mistura de barro e areia.

Meu pai morreu há quase dezoito anos, convencido de que se não tivesse tomado tal atitude guerreira, se abrigado em sua fortaleza inexpugnável, Pelé & Cia. não teriam o que comemorar.

E quem sou eu para contrariar uma convicção lapidada no mais puro diamante?

De lá pra cá, foram onze taças disputadas em gramados espalhados pelo mundo. E até em território nacional, este marcado pela memória da tragédia germânica (que a mim pouco incomodou, confesso).

Recordo-me, raramente até, de algumas seleções brasileiras vitoriosas, todas com inegáveis talentos. E ouso mesmo dizer que a equipe campeã de 1994 está guardada na minha memória afetiva num pôster pregado na galeria da memória em que figuram onze Romários.

A de 2002, com seus espetaculares Rs, nos deu, sim, alegria e aquela sensação, que ainda nos parece tão verdadeira, de que fizemos do tal esporte bretão  a Oitava Arte. Depois, rasgamos a fórmula da magia que encantou o planeta, ainda que os argentinos tenham descoberto nosso segredo.

Mas, cá pra nós: é do time de Telê Santana, o homem para quem a vitória não era o objeto do desejo – a beleza, sim -, que eu guardo minhas melhores saudades e ainda carrego a maior dor que o futebol me proporcionou.

E sei que não estou sozinho na intensidade da lembrança da tragédia vestida de azul, no gramado do Sarriá espanhol.

Foi a soberba a nossa maior inimiga, já o disseram tantos.

Pode ter sido. Mas como não sê-lo, se do nosso lado, não dos italianos, haveriam de vibrar nas arquibancadas da eternidade Michelangelo, Da Vinci, Rafael, Botticelli? Todos eles, que fizeram da beleza o seu altar, renegariam os compatriotas na tarde-noite de 5 de julho de 1982.

Aquele jogo até hoje não terminou, estou convencido (com a mesma certeza blindada do meu pai em 1970). Quando o juiz apitou, na hora fatídica, ele me roubou o sono por dias seguidos. Mais do que isso, ele me condenou a viver um pesadelo cujo final parece ter sido arremessado a um dos círculos de Dante – também italiano! -, àquele vestíbulo onde os prazeres dos homens se tornam cinzas. Lá, onde ninguém se atreve a chegar por livre e espontânea vontade.

Desde então, o futebol perdeu um tanto da sua graça para mim. Jurei que nunca mais sofreria por ele e que aquela seria a minha última dor como torcedor apaixonado pelo futebol-arte, sentenciado ali ao extermínio.

Hoje, acompanho cada Copa do Mundo com uma serenidade que eu nunca imaginei ser possível.

Aquele palpitar sem controle?

Nunca mais!

Mas, cá pra nós: ainda espero que o juiz daquela peleja sem fim não nos negue a Justiça.

Como?

Ora! Marcando mão do Zoff, o goleiro italiano, que voou ao encontro da bola com as asas do capeta, na cabeçada do Oscar, um zagueiro de rara elegância, aos 43 minutos do segundo tempo.

Pênalti!!

 

Lessa e Rui devem ter amanhã a última reunião eleitoral de 2018
Que a arte do espanto devolva o futebol ao peito do homem cordial
  • Joao da TROÇA anarco-carnavalesca BACURAU da Rua NOVA do Sertão – em St’ANA!

    Caríssimo RICARDO, … um bom domingo alegre com TITE!
    Em 1958 nascia Ricardo MOTA com a 1ª TAÇA do Brasil em Copa, na Suécia loura. – BURRA?
    Uns 3 anos depois nasceria Tite a tempo da 2ª TAÇA do Brasil em Copa, no Chile. – BI campeão, Brasil!
    Um gaúcho confidente, TITE é campeão mundial no JAPÃO com paulistas em 2012.
    Em 16 jogos pós-DUNGA da apreensão e medo, TITE elegante agora passeia com SELEÇÃO alegre à moda 1950’s.
    E busca o melhor na RÚSSIA com a convicção da VOLTA:
    – NUM vou para Brasília, nem antes nem depois da COPA. [Tite 26jan18], https://esportes.r7.com/prisma/cosme-rimoli/tite-nao-vou-para-brasilia-nem-antes-nem-depois-da-copa-26012018
    Nascido em São BRÁS dos cafundós de Caxias a 25mai1961, Tite se comunicar em ‘compliquês’ internacionalizável.
    http://desciclopedia.org/wiki/Tite
    E assim promete EVITAR patriotadas perebentas:
    – 1970, general (Medici) faz ZAGALLO s’ajoelhar;
    – 1994, PARREIRA se submete a Itamar Franco;
    – 2002, FELIPÃO leva bênção de Fernando Henrique;
    > Em 1966 na Inglaterra caem Brasil e Bulgária (1ª fase):
    – brailêros VELHINHOS no Old Trafford e Goodison Park;
    – estádios do Grupo 3 classificando Portugal e Hungria.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_1966
    Aos 9 de idade em 1970 das TV monocromáticas en MEXICO, Tite jejuaria até os penais de 1994 n’AMERICA.
    Como jejuará HEXA-Campeão, tomara que SIM: fora Temer!
    Com CONVICÇÃO, Tite NUM irá a Brasília: NEM foi antes, e NEM irá depois da COPA como prometeu. A conferir.

  • JEu

    Bom dia, Ricardo. Ainda estou rindo do desejo de querer que o árbitro marque penalti por mão de goleiro debaixo da trave… isso é mesmo uma loucura de torcedor… e, realmente, para mim também que assisti ao vivo (na TV da sede social da comunidade em que vivia) à maior vitória do Brasil perante o mundo: o tri-campeonato mundial… o direito de possuir, definitivamente (muito embora o definitivo aqui foi apenas relativo pois roubaram, derreteram e venderam o ouro da taça… eita Brasil de ladrões…) além de mostrar o melhor futebol arte jamais visto até hoje (só quase igualado pela seleção de Telê Santana em 1982). Hoje começa a saga brasileira em busca do, agora, tão sonhado hexa… só espero que tudo corra bem e, quem sabe, com um futebol que se destaque perante as demais nações (muito embora creio que jamais teremos outras iguais às de 70 e 82) e que possamos, como povo, alcançar esse objetivo… porém, creio que o povo já está despertando para coisas mais importantes… afinal, conquista de copa nenhuma nos alçou, até hoje, à uma nação civilizada… com bons índices de IDH… sem miséria… com educação que realmente dê ao cidadão a capacidade de analisar e decidir pelo melhor para o povo e para o país e não para uma casta sem vergonha que aí está instalada no poder (econômico e político)… com saúde capaz de atender à todos dignamente… com progresso suficiente para que todos tenham oportunidade de trabalho e renda dignos… isso sim, é o campeonato que, creio, o povo brasileiro almeja vencer na atualidade… Bom domingo.

  • Antonio Moreira

    1970 – Eu Ainda não entendia direito o porquê de tanta euforia do povo,era como se fosse o carnaval fora de época.
    Mas lembro das imagens preto e branco na tv do Clube “Os Paladinos”, na minha cidade natal.

    Sinceramente, ainda não sei a hora do jogo, por falta de interesse.

    //

    Djavan
    Um dia frio

    Um dia lindo para tomar um banho de praia
    e tomar umas geladas.
    Um dia lindo para comer um pirão de bisteca de sururu acebolado
    e gritar, brasil, brasil, brasil!
    É verde limão, amarelo melão, melão.
    Um dia lindo!

  • Paulo Scandurra

    Não vejo graça em futebol: 22 marmanjos tentando empurrar um pedaço de couro no meio de 2 pedaços de pau… Sem contar que times de futebol são empresas milionárias e só estão preocupados em enriquecer seus dirigentes e (alguns poucos) jogadores. Tomara que o Brasil perca de 10 X 0 para o povo se voltar para questões mais importantes da vida nacional.

  • Daniel

    Para o bem dos Brasileiros a seleção da CBF não deve ganhar essa copa

  • Joilson Gouveia Bel&Cel RR

    Aos “secadores” da canarinha, dou muito mais de um gol contra quaisquer adversários, e reitero o dito antes, a saber:
    O hexacampeonato mundial de futebol, muito embora sem os encantos fenomenais, magistrais e majestosos da “alegria do povo” (saudoso Mané) ou sem inigualável demônio negro (Pelé, um “rei” sem cotas enquanto atleta do Século, que deixou a desejar enquanto pai e cidadão) – da canarinha tricampeã no México/1970: Félix, Carlos Alberto(Capitão), Brito, Wilson Piazza, Everaldo (Marco Antônio) Clodoaldo, Gérson, Jairzinho(Furacão), Tostão, Pelé, Rivelino (Paulo César) ou ainda da inesquecível “canarinha”, que mostrou ao mundo, na Espanha/82, a exímia arte de um futebol coletivo brilhante, desconcertante e vencedor, porém vacilante e desatento na aguerrida marcação atenta e defesa de um Rossi fulminante, ainda que sem os “baixinhos” gigantes de 1994 (Bebeto e Romário) e sem os quatro “R” (Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho) de 2002, já nos traria um alento, um lenitivo e um alívio à vergonha desastrosa, oprobriosa e inexplicável da trágica derrota dos 7 X 1, de 2014, na tal “Copa das copas”, na qual se comenta fora “arranjado” ou “comprado” pela esquadra mortífera alemã – em sendo verdade, até isso os desgovernos escarlates nos tirou: o apaixonado amor pela “canarinha”! Inclusive, encolheu o velho “maraca”, que em 1950 coube 200.000 torcedores em lágrimas diante da Celeste: num 21 x1, até hoje relembrado, e chorado!
    Os brasileiros e as brasileiras anelam pelo hexa, sim: é a única esperança de orgulho, alegria e entusiasmo que pode sonhar e de tornarmos a ser uma “pátria-de-chuteiras”!
    Enfim, se o atual escrete de ouro se mantiver focado, como tem demonstrado nos jogos eliminatórios precedentes e até agora, é bem possível que sejamos HEXA!
    Parabéns, pelas belíssimas palavras de esperança aos amantes do verdadeiro futebol!  😉
    Abr 🙂 😉
    *JG

  • Martins Neto

    Ricardo, guardar na memória aquela sofrível seleção de 94 é querer que a dor nunca acabe.

    Resposta

    Repito: são onze Romários na minha memória, ok?

  • santos

    A Itália era tão boa quanto o Brasil e não tinha um goleiro frangueiro(Valdir Perez), nem um centro avante perna-de pau(serginho chulapa),Portanto, a vitória foi justa a meu ver.

  • Há Lagoas

    Minha dolorida serenidade se deu de uma forma não muito normal.
    Em minha família “flamenguista” apenas eu e um falecido tio torcíamos por outro time que não o Flamengo. Ele vascaíno, eu fluminense. As duas ovelhas negras da família.
    Entretanto, um histórico de problemas conhecido pela alcunha de “Tapetão” fez definhar meu afã de torcedor entusiasta do tricolor das Laranjeiras.
    A Copa da França em 1998 e a Copa no Brasil em 2014 – fatídico 7 x 1 para a Alemanha – colaborou ainda mais para o meu desencanto com o futebol de “negociata”.
    Me considero um saudosista convicto daquele futebol arte que nunca presenciei pessoalmente, mas que sempre ouvi falar. Mané Garrincha e Pelé e tantos outros deuses da bola, que assistíamos – meu pai e eu – na saudosa Tv Manchete nos idos de 1994.
    E sim, ainda torço pelo Flusão – mesmo me envergonhando de suas manobras, mas me contento com meu Azulão alagoano, já a canarinho…
    Aquele 7 x 1 ainda não consegui engolir.