Engraçadinho, o personagem, um pândego! Sempre aparece como novidade, sendo um velho conhecido das gentes.

Muda de nome, ou melhor, de sobrenome, traveste-se de esperança e anda a esparramar projetos e sonhos, quase todos já tão manjados, ainda assim com o frescor das grandes invenções humanas.

Talvez por isso provoque tremores, aflições e seja tão bem-vindo quando se avizinha a sua presença. É com desfaçatez que ele retorna ao mesmo ponto em que já esteve, vezes sem conta, exalando um perfume vulgar, adocicado, que logo se dissipa no vento. Quem sabe, conhece como poucos as nossas vulnerabilidades, que dele não prescindem, trazendo a sua sedução de perfeito farsante, ilusionista dos homens de todas as idades, tons e humores.

Da última vez que o vi, já nem lembro bem. As recordações que dele carrego me surgem assim, em saltos, em signos que não formam uma paisagem inteira, se não pedaços de uma tela inconclusa, mesmo que me pareça, em delírio, de rara beleza.

Apaguei-o sempre que ele me disse mais da dor do que da festa. Reavivei as suas cores quando elas se mostraram sob uma intensa luz de verão. De alguns verões quaisquer, e já foram tantos.

Não trago na minha bagagem fotografias suas de corpo inteiro, ali à minha frente, traços definidos, porque dele já não sei por extenso depois que o recebo na morada da minha alma, não sem me despedir celeremente, negando-lhe até um delicado simulacro de adeus. Um “até breve!”, que fosse.

Ele passa, eu fico.

Por enquanto tem sido assim, não sei por quantos mais. Reencontrá-lo, no entanto, é como uma insuspeita descoberta, mesmo que inútil e autodestrutível.

Não importa. Ele chega e se instala, pesadamente, inexoravelmente. Pronto para uma velhice precoce e sem cura, mas com a astúcia e a velocidade de um criminoso em fuga.

O filho, o que nascerá tão brevemente, haverá de ter a mesma cara do pai, aquele que nos visitou há tão poucos dias. Será ele mesmo, gerado no próprio ventre, em disfarce de petiz, sorrateiro, sabedor da nossa frouxa e frágil memória.

Quando a luz do sol acender, vamos saudá-lo, todos, tolos e ansiosos adolescentes, ávidos por sermos enganados novamente pelo truque de sempre.

É assim que fazem os tristes, os alegres, aqueles que creem que uma manhã brilhante apaga até a mais terrível madrugada.

E as rugas do tempo se desmancharão, enfim, porque será Ano Novo.

Alfredo Gaspar de Mendonça pode ou não ser secretário?
Vilela chegou de novo atrasado ao seu encontro com a História
  • SEBASTIÃO IGUATEMYR CADENA CORDEIRO

    ENCERRAS O ANO COM CHAVE DE OURO , MATÉRIA !
    BELÍSSIMO CONTO . . . REAL , TAMBEM ! COMO A ESPERANÇA SE TORNA SAZONAL NESTA FASE DO ANO. . . QUASE SE INCORPORA AOS SERES HUMANOS ,
    ENQUANTO A DESESPERANÇA , DE PEITO ABERTO , DE-
    SAFIADORAMENTE , UM PASSO ATRÁS , NA FILA DO
    TEMPO , E , COM AR ZOMBETEIRO , IRRADIA CONFIANÇA
    E CERTEZA , ABSOLUTAS , DE QUE SERÁ ELEITA (ÔMI!) ,
    A DONA DA VERDADE . . . ÔMI ! FINALIZANDO , EXPRESSO OS MEUS VOTOS DE BOAS FESTAS , COM
    SAÚDE E PAZ , PARA OS AMIGOS INTERNAUTAS , QUE
    FREQUENTEMENTE OU NÃO , PARTICIPAM DESTE BLOG ,
    AONDE DESABAFAMOS BOA PARTE DOS SAPOS ENGO-
    LIDOS POR AÇÕES DO ETERNAMENTE VENCEDOR , A
    DESESPERANÇA . . .

  • Flávia

    Belo e contundente texto para se despedir do (já) velho ano, futuro a que também se destinará o que chega.

  • maria auxiliadora araujo

    É do natal que se faz a vida ; é na vida que se tece o tempo que, como um conta gotas vai marcando a dose exata do existir.Teçamos o nosso tempo de tal forma que , a cada dia possamos repetir:feliz natal!.Belo, belíssimo texto !!!.Feliz mente renovada para um novo ano feliz !!!.

  • maria auxiliadora araujo

    Ao caro jornalista e, a todos aqueles que partilharam durante o ano, do seu blog, em especial os’ domingueiros ‘mando-lhes AMOR PRA RECOMEÇAR -Barão Vermelho.O melhor e maior dos votos de um novo tempo, eu acho .O seu belíssimo texto, Ricardo, aguçou o desejo de recomeçar.

  • Isaac Sandes Dias

    A águia voou! Com este texto, de teor universal, o autor deixa para trás os temas do comezinho dia dia de seu pequeno ninho, encravado no rochedo de uma longínqua província ao nordeste. Agora, com as penas de asas universais, traça nos céus que são dos falcões e das águias da literatura mundial, textos que são pérolas dignas de enfeitar os mais belos colos da arte escrita.