O choro é o jazz brasileiro, afirmam as autoridades no assunto. E base não lhes falta. O nosso gênero musical exige destreza dos instrumentistas, capacidade de improviso e, como provam exemplos que nos deleitam, puro virtuosismo.

Nasceu, o choro, como uma denominação usada, na metade do século XVIII, para uma reunião de músicos. Foi o jeito especial, abrasileirado, de tocar polcas, valsas, tangos e outros ritmos estrangeiros que o levou a dar o nome de batismo à criação autenticamente nacional.

Se ficou associado no nosso imaginário aos gênios do “pinho”, motivos não faltam. A lembrar: Canhoto, João Pernambuco, Dino Sete Cordas, Garoto, Dilermando Reis e o incomparável Raphael Rabello, um dos maiores violonistas de todos os tempos (que saudade!). Foram eles que ajudaram a popularizar o choro, principalmente em apresentações nas emissoras de rádio e em gravações que marcaram época, já  no século XX. Hoje, impera o silêncio choroso nos meios de comunicação, impedindo que várias gerações conheçam tão peculiar gênero musical.   

Mas foi um “pianeiro” – como eram chamados os pianistas que faziam apresentações de música popular – quem deu ao choro o status de música sofisticada. E o mundo a recebeu com respeito e admiração.

Ernesto Júlio Nazareth nasceu, em 1863, no Morro do Pinto, no Rio de Janeiro. Filho de família muito humilde, aprendeu, ainda muito jovem, os segredos dos teclados em branco e preto. Misturava como poucos o duro aprendizado de música clássica, sua grande paixão, com os ritmos que já ouvia nas ruas, difundidos pelo talento do mulato flautista Joaquim Calado e da libertária pianista  Chiquinha Gonzaga.

Nazareth construiu com sofrida dureza uma carreira que lhe rendeu muitos tormentos e pouco dinheiro. Tocando em antessala de cinemas – o Odeon sendo o mais famoso, tanto que virou nome de um dos seus choros clássicos –, em emissora de rádio – a Sociedade, fundada por Roquette-Pinto – e em lojas comerciais, ganhava uma ninharia e trabalhava exaustivamente.

Seu primeiro piano, um instrumento considerado elitista, só foi adquirido em 1925, graças aos Irmãos Vitale, que passaram “uma lista” para presenteá-lo. Era pouco para um artista que já construíra uma obra definitiva.

Alguns anos antes, em 1922, havia feito sua estreia em território erudito: aconteceu no Instituto de Música, de onde quase foi escorraçado após tocar “Brejeiro”, “Nenê “, “Bambino” e “Turuna”. Era demais para a turma do nariz empinado. O concerto só pôde chegar ao fim graças à intervenção da polícia. Depois, fez vários recitiais, inclusive no Teatro Municipal – o público aprendera a revenrenciá-lo.

Aliás, ao Odeon acorriam várias personalidades da cultura brasileira só para ouvi-lo. Rui Barbosa era seu discreto e declarado fã. E não apenas ele. Sobre Nazareth disse Mário de Andrade, o mais importante pesquisador da nossa música:

– É o compositor mais original do Brasil.

Villa-Lobos foi ainda mais enfático ao se referir ao “pianeiro”, autor de “Apanhei-te cavaquinho”:

– É a verdadeira essência da música brasileira.

Que teve um fim trágico. Amante de Chopin e amado por Artur Moreira Lima (que gravou dois discos irretocáveis com sua obra) e Radamés Gnattali (maestro erudito apaixonado pelo cancioneiro popular), perdeu a audição definitivamente em 1933, em decorrência provavelmente da sífilis. Foi tomado pela loucura e internado em vários hospitais psiquiátricos do Rio de então.

No ano seguinte, em primeiro de fevereiro, fugiu da Colônia Juliano Moreira. Três dias depois, foi encontrado morto nas águas da Cachoeira do Cigano, ali por perto.  

Um achado macabro e surpreendente. Seu corpo estava em pé, vertical, e tinha as mãos para frente, como se estivesse tocando um piano.

E talvez estivesse.

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O filósofo do riso
  • Fabrício

    O que conforma é que daqui a cem anos alguém vai, ainda, tocar Nazareth. Outros passam por não serem passarinhos.

  • Celso Tavares

    Aprecio a sua obra e desconhecia o seu triste fim.
    En passant: a sífilis está à solta e, pior, é subestimada.

  • Gisele Farias

    APROVEITANDO O ESPAÇO RICARDO, GOSTARIA DE SUGERIR QUE AS MATÉRIAS/MANCHETES DO TNH TIVESSEM ALÉM DAS OPÇÕES DE “COMPARTILHAR”, A DE “COMENTAR” POIS NÓS MACEIOENSES TEMOS O DIREITO E O DEVER DE COMENTARMOS SOBRE SITUAÇÕES VEXATÓRIAS, A EXEMPLO DA MATÉRIA DA DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS AOS DIABÉTICOS. SITUAÇÃO ESTA, DEVERAS LASTIMÁVEL, UMA VEZ QUE NA MATÉRIA LÊ-SE QUE O PRÓPRIO SECRETÁRIO NÃO SABE O QUE OCORRE LÁ NA CAF. TÁ FAZENDO O QUE LÁ NA SAÚDE? PASSEANDO? DESVIANDO? O QUE?… FICA A PERGUNTA.
    OBRIGADA PELO ESPAÇO

  • Vivo

    Mota, boa tarde!

    Passei alguns dias fora de Alagoas e não vi o Posto sobre o CQC do últimodia 26 de março p.p.

    Amigo, nao sei porque as pessoas ficam indignadas quando isso vem à tona em nível nacional. Concordo com o Hermann em sua cronica e com o título desta.

    Por que a indignação? Porque saiu em nível nacional e viramos galhofa? Isso é lugar comum em se tratando de Alagoas.

    Quem, de boa fé, nao sabe que se compra votos em Alagoas? Quem, na periferia das cidades e interior, nao se aproveita dos R$ 50,00 oferecidos nas épocas eleitorais? Quantos líderes comunitários – falando em nome do povo – não fazem acordo espúrios nas eleiçoes, vendendo o voto de seus ‘comandados’?

    Todos nós sabemos disso e a cada dois anos, passamos pelos mesmo processos de compra no atacado de votos. Entao, por que ficarmos indignados, se nós mesmos não nos organizamos e movimentamos para parar com essa falta de vergonha?

    Quantos carros de ‘gente bacana’ nao exibem os adesivos desses deputados em épocas de eleição? Quantos funcionários em cargos de confiança, não defendem a volta de tais corruptos?

    Entao, não existe motivo para a indignação ‘popular’ por causa de uma matéria como a do CQC. SE esses caras voltam ao plenário pelo voto, mesmo indiciados em processos de crimes de mando e desvios de verbas, não temos motivos para sair em defesa de nada.

    Como já disse antes e reafirmo: ainda não vai ser na geração de meus filhos, que veremos Alagoas livre desses cânceres.

    E tenho dito …

  • Julia

    Assim é a vida: ondas vai e vem, poucas paradas, quedas… NASCER, SOBREVIVER E MORRER. Mas o chorinho sempre renasce em qualquer tempo nessa umanidade. Boa noite! Xros mil…

  • Anamalia Gomes de Barros Moura

    Foi com emoção que li…Nazareth!Minha familia,pelo lado materno era,pode-se dizer,”musical”.Ainda criança me encantei com Noel Rosa,preferido de um tio e as valsas de Chopin tocadas lindamente ao piano por uma prima.Do chorinho,lindo demais,aprendi a gostar graças à sensibilidade de minha mãe…Enfim,classica ou popular,a música era ouvida e absorvida por nós.Pena meus filhos não terem tido esses previlégios.Com esse texto vc. me reaproximou com as marcas que as músicas deixaram no meu coração.Obrigada e um abraço.

  • É homem bomba, Dilma.

    Eita minha querida presidenta DILMA, acabo de saber que seu governo através do BNDES emprestou a um grupo recursos a juros baixos para instalar uma indústria no Brasil, até aí tudo bem, prometendo gerar empregos e distribuição de renda. Depois de receber os recursos, na moita ao invés de montar a indústria que deveria ser no Brasil, foi correndo instalar na Argentina. Pode Dilma? Não pode, tá errado. Como você continua teimosa, apesar de ser uma grande economista, continua a fazer coisas erradas e entre elas o seu italiano Mantega do Ministério da Fazendo, só em 2012 até o dia 27/03 PAGOU, TORROU, GASTOU mais de R$ 379 bilhões, SEM DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA, SEM AUTORIZAÇÃO e SEM EMPENHO. Quem já viu uma coisa dessa, presidenta DILMA? Tá lá DILMA, no Portal do Orçamento do Senado Federal na LOA 2012 – Execução Orçamentária por Órgãos, é caso para o Ministério Público Federal – MPF, Polícia Federal – PF e Tribunal de Contas da União – TCU verificar, porque na gestão pública não se pode pagar nada, a não ser que tenha DOTAÇÃO e EMPENHO, o valor pago pelo italiano Mantega é de R$ 379.344.681.059,00. Ômiseumininu nossa querida presidenta DILMA viaja ao BRICS e logo passam a perna nela, eita Brasil perdido no caminho de volta, se o Robert Zoellick souber dessas coisas erradas não vai gostar. Acorda presidenta Dilma, o tempo urge,
    P/Arabutan.

  • Diógenes Tenório Júnior

    Que bela lembrança, mestre Ricardo. Minha querida avó Izarele era fã de Ernesto Nazareth, e muitas vezes ouvi-a cantarolando suas modinhas sentidas. Hoje à tarde cumprirei o duro ofício de sepultar mais um amigo, grande músico e compositor alagoano, Roberto Becker. Tenho certeza de que o céu fica muito mais alegre quando os artistas chegam por lá.

  • teodosio

    olha,falam que a imprensa tem liberdade de expressão e onde esta a reportagem do veriador Enaldo de melo.
    a fala dele não vale!!!!!!!

  • Alexandre Dias

    Convidamos a todos a visitarem o novo site em homenagem ao grande compositor Ernesto Nazareth: http://www.ernestonazareth150anos.com.br Já temos linha do tempo disponível, texto para todas as obras, todas as partituras para piano, diversas partituras em versão melodia e cifra, e listagem da discografia completa. Em breve muita coisa será adicionada ao site, incluindo a possibilidade de ouvir online mais de 2000 gravações de sua obra.