A cena é imperdível! Do alto dos seus 90 anos, Patativa do Assaré faz uma longa pausa, acende um cigarro, arremessa uma grossa saliva no chão da sala e começa a declamar. 

São quase cinco minutos, ininterruptos, a dizer com clareza, sem titubear ou buscar algum verso perdido num canto do cômodo, seu longo cordel em homenagem ao Rei do Baião. 

Está ali um dos pontos altos do belíssimo documentário “O milagre de Santa Luzia”, que tem em Dominguinhos um dos mais preciosos guias pelos campos – verdes ou nem tanto – da Música Popular Brasileira. Lindo, como poucas coisas do que tenho visto na produção cinematográfica nacional. 

A memória invejável de Patativa do Assaré nos remete aos bardos analfabetos, que ouviram de outros bardos analfabetos Ilíada e Odisseia – milhares de versos -, repassando-as a outras gerações e garantindo que as obras épicas de Homero chegassem aos dias de hoje por uma trilha que nos parece inimaginável – ou puramente dispensável. 

Prodigiosa memória, a que a humanidade já não recorre, tantos são os instrumentos a nos fazer economizar os neurônios que existem exatamente para nos fazer lembrar daquilo que precisamos, ou até rejeitamos. Primeiro, veio a imprensa, que possibilitou que o conhecimento fosse além de alguns poucos privilegiados; seguiram-se novas invenções, como o computador, espalhando pelo mundo as informações sem fronteiras.

São fantásticas conquistas da humanidade que nos levaram a renunciar a outras, componentes importantes da evolução da espécie – substituímos em vez de agregar. Fomos perdendo, aos poucos, a capacidade de armazenar na mente aquilo que aprendemos. Para que o esforço de memorizar tantos bits, se há quem o faça por nós? 

Pode ser um caminho mais fácil, confortável, o que seguimos hoje – será o melhor, porém, do ponto de vista evolutivo, no longo prazo? O volume de informações de que dispomos é imensuravelmente maior, mas o que nos fica de fato? Até o nosso repertório vocabular vem se reduzindo pouco a pouco (criamos outras palavras, é verdade, que envelhecem numa celeridade estonteante, por imprestáveis ou puramente boçais). São perguntas para as quais não tenho as respostas – quem as tem? 

Quanto às nossas pequenas memórias, pequenas porque só nossas, elas ajudam a compor o personagem que nos representa no mundo. E se lhes damos, tantas vezes, o direito à reconstrução de histórias que ficaram lá para trás, sem o devido final feliz, é porque precisamos, também, acalmar as feridas que o andar da velha carruagem se encarregou de nos tatuar. Lembrar, algumas vezes, é “morrer” de novo.

A obra que se constrói, por esses tempos de “fartura” e sucessivos descartes, pode nos parecer, ao final – que nunca chega para ela -, uma colagem sem sentido, fragmentos que não se encaixam, de matérias diferentes, em estado físico diverso: um quebra-cabeça que busca compor a imagem do nada.

Os versos de Patativa do Assaré poderão até estar disponíveis na internet (e é bom que seja assim), mas eles serão mesmo eternizados pelos bardos nordestinos, que os guardarão e os replicarão fielmente – de memória.

A violência de Adriano Soares
Em quem Almeida está se fiando?
  • Valdeck

    O texto acima é um alerta do que pode nos causar o progresso. É o ônus que se paga pela praticidade de ter sempre à mão as informações que se quer, sem se preocupar em guardá-las, afinal, para que existem os sites de busca? O que eu temo mais é pelos jovens, pois já não temos boa qualidade na educação e com a gama de informações que estão à disposição nos meios de comunicação, não há como separar o joio do trigo das informações que circulam, haja vista que muitas das informações são “lixos” que não agregam valor à cultura. Com isso, nossa cultura e tradições vão empobrecendo, definhando, desaparecendo, favorecendo a globalização de via única que quer impor a conta gotas a cultura primeiro mundista do consumo alienante, sem princípios, sem valores, no final das contas perdemos todos. A internet é uma ferramenta fantástica, para quem sabe usá-la, mas o velho e bom livro esse sim, deve ser indispensável para a garantia do futuro das gerações vindouras. É preciso preservar a história documental, a história oral, que é onde os cordelistas se encaixam para que não perdamos nossas orígens, nossas raízes, para que saibamos quem somos e o que queremos do futuro que se avizinha.

  • GILSEN DORVILLÉ

    O milagre de Santa Luzia nos remete as entranhas desse imenso pais ao som tão belo de nossas sanfonas. Artistas como Arlindo(ah! como é lindo)dos 8 baixos, o baixinho Geraldo Correia e sua pé de bode com som de clarinete, Pinto do Acordeon com suas hilariantes histórias,ou estórias?, não importa.Era realmente impressionante, como o próprio, a memória de Patativa do Assaré. Belas memórias, meu caro Peninha.

  • Jacira Lima

    Parabéns Ricardo!
    Realmente o avanço tecnológico que vivemos não guarda nossas vivências e sentimentos e as verdades escritas nesse artigo são como um “puxão de orelha” nessas nossas vidas tão cheias de descuidos.

  • ana maria moura

    Tive o prazer de conversar de perto na Cidade de Assaré no Ceará, com este filho ilustre da terra que não cantou apenas a vida do rei do Baião, mas viu, viveu e recitou em versos e prosa a vida dos nordestinos. Quantas saudades.

  • Julianne

    Ricardo, vc viu o crime que aconteceu no conj. Carminha, no Benedito Bentes? Os traficantes mataram a moça e esquartejaram, p/ mostrar que eles que mandam por lá, o tráfico domina. Cade a polícia? Porque a moça é pobre ñ tem o mesmo valor dos casos “famosos” de AL? Porque ñ ocupam a comunidade como fizeram no RJ? INDIGNADA!

  • sertanejo cagota

    É, Ricardo, hoje só tem lixo popular brasileiro e Patativa do Assaré é uma rara pedida cultural…

  • XXV ENE dos ECONOMISTAS.

    Meu caro RM, não me recordo de outro encontro de economistas igual ao de Alagoas, foi o maior do Brasil, atingimos quase 300 inscritos, entre economistas, estudantes de economia, a UFAL, o CESMAC, os CORECONs, o SINDECON/AL, a sociedade organizada, profissionais liberais (menos Palocci), tudo sobre a matuta do maestro presidente do CORECON/AL economista Denivaldo Rocha e sua equipe da comissão organizadora, especialmente os economistas Gilda, Clailton, Cláudio Jorge, Braga Lira, Cotrim, Marcos e tantos outros. Prestamos homenagem a Alagoas, ao economista José Ribeiro Toledo, a empresa Sococo na pessoa do seu presidente engenheiro Emerson Tenório.
    Os temas abordados foram de suma importância a melhoria da qualidade de vida dos inseridos na base da pirâmide social, ou seja na melhoria de vida dos pobres, com inserção fundamental da nossa UFAL, através dos economistas Cícero Perícles e Antonio Cabral, como a nosso CESMAC na pessoa do Magnífico João Sampaio. Sentimos a ausencia do economista governador Teotonio Vilela e de vice José Tomáz Nonô, por motivos superiores, mas foram bem representados pelo economista Moises Aguiar presidente da nossa CEPAL, que não mediu esforços para o êxito do ENE Alagoas. Os temas foram variados, principalmente as pelestras dos economistas Antonio Correa de Lacerda com a Palestra Magna sobre o Papel do economista no Século XXI e de Marcelo Martonovich (COFECON) sobre Cenários Econômicos e Ferramentas de Gestão. não podemos deixar de mencionar os economistas do governo federal Constatino Cronemberger (IPEA), Júlio Miragaya e o Cícero Perícles (UFAL) este com o banho de conhecimento sobre a sobrevivência de Alagoas.
    Só temos a agradecer o comparecimento pleno dos economistas de todo o Brasil e principalmente de estudantes de economia do Nordeste que marcaram presença na avidez de maiores conhecimentos e soluções para um Brasil que infelizmente nos últimos 8 anos aumentou sua dívida pública em mais de R$ 1,7 trilhão. O XXV ENE foi um sucesso total e que sirva de exemplo para a inserção com as demais profissões, na busca da soluções viáveis ao grandes problemas nacionais.
    P/Arabutan

  • susana

    É UMA MARAVILHA PATATIVA DO ASSARÉ!! Será que existe alguém sem ser, ou sendo, letrado com uma memória parecida ou igual?

  • Dilma leia.

    Ômiseumininu, nossa Alagoas recebendo a minha querida presidenta Dilma Vana Rousseff, que coisa boa, só assim vamos ter concretizado o sonho do uso múltiplo do rio São Francisco, que além do doméstico, vai produzir outras riquezas. Dizia em 1974 o mestrael das Alagoas então senador Teotonio Brandão Vilela ao Sr. Benício Monte, responsável pela implantação da 1ª adutora da CASAL no Sertão, localizada no município de Belo Monte: “Benício, vamos usar o São Francisco, também para gerar RIQUEZAS…”. Parte do sonho é realidade, já temos a 1ª semente plantada pela sabedoria de saudosas memórias. A luta continua através do Canal do Sertão que poderá beneficiar 500.000/1.000.000 de sertanejos e agrestinos alagoanos. No entanto não podemos deixar de lado Xingó, com seu Velho Chico ladeira rio abaixo até o Atlântico, que no verão são cerca de 1.100 m³/”, 66.000 m³/’, 3.960.000 m³/h (HORA), 95.040.000 m³/dia (DIA) ou nada mais de 95.040.000.000 bilhões/litros/dia sem aproveitamento para GERAR RIQUEZAS. Veja presidenta Dilma Vana Rousseff, você foi eleita, recebe salários para fazer as coisas certas, como economista tem a visão do pensar grande, por obrigação MELHORAR QUALIDADE DE VIDA da base da pirâmide social (os pobres). Como o Brasil é um país de alienados políticos, pobres sem cultura e educação, vamos ensinar que QUALIDADE DE VIDA está inserida nos investimentos em CIDADANIA, como EDUCAÇÃO, SAÚDE, SEGURANÇA, EMPREGO E RENDA, AGRICULTURA FAMILIAR, SETOR PRODUTIVO…
    Presidenta Dilma, todos governos que passaram pelo Brasil tem algo feito de positivo, mas não é motivo de se elogiar, porque é OBRIGAÇÃO DO FAZER de quaisquer mandatário eleito, no entanto está ocorrendo o inverso da medalha, ou seja, menos acertos e mais erros. No 1º exemplo temos o governo do presidente LULA, que de maneira sintomática por não ter cultura e educação, governou SEM DIVISÃO EQUÂNIME DAS RIQUEZAS PRODUZIDAS, aos poucos ricos tudo, aos muitos pobres da base da pirâmide social migalhas da CIDADANIA (o grande erro de LULA). Não é admissível que o governo LULA tenha aumentado a dívida pública federal de R$ 645 bilhões/2003 para R$ 2,388 trilhões/2010 (Fonte:Relatório do Tesouro Nacional/DEZ/2010) ou seja, tomou emprestado só R$ 1,743 trilhão, como também pagou o absurdo de R$ 873 bilhões de Juros de 2003/2010.
    Só podemos cobrar cidadania, estamos pagando um preço alto pelos coisas erradas, e este preço, minha querida presidenta Dilma, tem causado danos irreparáveis ao povo brasileiro, foram mais de 475.000 mortes por violêncais, mais de 41.000 assassinatos de MULHRES (MÃES, JOVENS, MENINAS…), mais de 280.000 mortes de JOVENS nas diversas variedades da VIOLÊNCIA. Temos mais de 1.300.000 estudantes pobres/ano sem acesso ao ensino superior gratuito, quando o governo LULA através do MEC ensina que a foz do rio São Francisco é em Maceió na LAGOA MUNDAÚ e não mais entre Sergipe e Alagoas (desviaram a foz apenas 110 kms a esquerda), como também na matemática 10 – 8 = 5. Pelo amor de Deus, a que ponto chegamos, não vou mais falar em coisas erradas, vamos apontar as soluções, como: Continuar a melhorar as parcerias entre seu governo e Alagoas, principalmente no combate a miséria, na MORTALIDADE INFANTIL cujos indicadores são vergonhos (Brasil com + de 22 mortes por grupo de 1.000 nascidos), mas nós ECONOMISTAS temos a solução para acabar com parte da Dívida Social que é a famigerada MORTALIDADE INFANTIL qua atingue patamares desumanos. Já mandei no inicio do governo LULA, me agradeceu, até cartão de Natal recebi, mas não passou disso, talvez por ciumeira do pensar pequeno, causa da morte: morosidade nas gavetas do Graziani (Fome Zero), mas não deixamos como ECONOMISTAS de ajudar e recentemente na casualidade da vida encontro com o amigo Elói Pietá Secretário Geral do PT e mando outra parte da solução para acabar a MORTALIDADE INFANTIL. Se de fato a economista Dilma Rousseff presidenta de 190.000.000 de brasileiros, está propensa acabar com a MORTALIDADE INFANTIL no Brasil, entre em contato com o CORECON/AL na pessoa do presidente economista Denivaldo Targino, que faremos com muita satisfação o caminho mais curto entre dois pontos, que é uma reta, saindo da retórica para praticidade das soluções. E 2ª, não esqueça que o atual governo de Alagoas está arrumando uma desordem de 20 anos, oriunda na ineficácia, incompetência e falta de ética. Tudo com ordenamentos administrativo, fiscal e estruturais.
    P/Arabutan.