O britânico Winston Churchill era um grande apreciador de uísque e de bons charutos, que consumia com grande apetite, sem parcimônia. Considerado por muitos respeitados historiadores como o maior estadista do século passado, trazia com ele um tanto de cinismo na condição de grande frasista:

 

-A história será bondosa comigo, porque pretendo escrevê-la.

 

E o fez com a mesma destreza (esquecendo, provavelmente, do seu derramado elogio a Hitlher, na década de 1930) que o transformou em um estrategista fundamental na Segunda Grande Guerra Mundial – a continuação, na verdade, da Primeira -, aquela que, sem dúvidas, deixou mais vítimas em todos os continentes (estima-se que 160 milhões de pessoas morreram no século XX em guerras, genocídios e ditaduras – temos, portanto, a contribuição brasileira, mais modesta,  nesse número assombroso). 

 

É inegável que foi a Alemanha hitlerista a principal responsável pela maior matança de que se tem notícia na história da humanidade (há de se considerar, também, as revolucionárias China e União Soviética). Mas foi, também, o povo alemão vítima do seu próprio veneno. Pode-se dizer que a aniquilação, quase que total, da nação belicosa era inevitável, mas prefiro crer que não há vencedores nas guerras, a não ser pelo fato de que a história é escrita por aqueles que triunfam – não importando a que custo.

 

O historiador Jörg Friedrich, alemão, resolveu contar o que aconteceu no lado do derrotados em seu excelente “O incêndio”, escrito sessenta anos depois da rendição do que restou das tropas de Hitler e do povo que o seguiu nem tão cegamente. Ele descreve, abrindo mão dos adjetivos, a destruição das cidades alemãs pelo intenso bombardeio aéreo dos aliados. Sem ressentimentos, aparecendo apenas como um narrador dos fatos, Jörg Friedrich nos mostra que não há beleza ou heroísmo no massacre de populações civis em cidades cujas atividades não estavam dirigidas para a guerra. Foi assim que a pequenina Wuppertal, numa noite de maio de 1943, se transformou em cinzas, sob o impacto de milhares de bombas incendiárias. “Até hoje nenhuma cidade industrial alemã havia sido literalmente retirada do mapa”, comemorou, em Londres, o prestigiado Times, ante o inegável sucesso da operação. Oitenta por cento da superfície destruídos, milhares de corpos esturricados – eis o resultado de trinta mil bombas líquidas arremessadas sobre Wuppertal. Depois, é percorrer as quase 600 páginas do livro – e é preciso estômago – para que a nossa compaixão também abrace o povo alemão.

 

No ótimo documentário “Sob a névoa da guerra”, o mais polêmico Secretário de Defesa(?) americano, Robert McNamara fez o seu depoimento, às vezes um tanto constrangido e contrariado, revelando as atrocidades das bombas sobre o Japão. Também aqui, um relato revelador e nem sempre reconhecido na história do grande conflito mundial. Tóquio, sob o ataque de bombas incendiárias, contabilizou cem mil corpos carbonizados pelas bombas incendiárias dos aliados, numa única madrugada. “As casas de madeira se desfaziam feito papel”, conta o homem que também foi um dos principais responsáveis pela guerra do Vietnã, na década de 1960. Em outras cidades nipônicas, o rastro de destruição, confessou, foi ainda maior – "necessário" para quebrar o moral do inimigo.

 

Mas, talvez, o que mais surpreenda, por incompreensível (não fosse a guerra em si uma estupidez sem razão), seja o massacre na Argélia ocupada pelo exército francês. Aconteceu em 8 de maio de 1945, no dia em que os alemães assinaram, incondicionalmente, a sua rendição. O povo argelino foi às ruas comemorar o fim da guerra, e como carregassem a bandeira do seu país subjugado, mais de dez mil pessoas foram fuziladas no meio da rua – o castigo para os “rebeldes”. Era a mesma França humilhada pelo exército alemão, que viu Hitler desfilar (sob aplausos, é bem verdade) sob o Arco do Triunfo, a vingar o seu sofrimento.

 

Hiroshima e Nagasaki são um capítulo à parte na história da crueldade humana. Mas temos, sim, de nos proteger de nós mesmos.

 

Heloisa bate Aécio na disputa pela presidência- performance dificulda candidatura ao Senado
"As mulheres das ruínas" da Justiça de Alagoas
  • Mota

    Porque da crise existencial meu caro, a humanidade talvez ainda possa encontrar um rumo diferente. Todos sabemos da brutalidade humana, da sua violência tirânica, etc. É preciso mudar, mas meus heróis continuam os mesmos.

  • Mota

    Só há uma saída para a humanidade, O SOCIALISMO MEU CARO RICARDO. O capitalismo imperial que ainda perdura é herdeiro do nazismo alemão, quantas guerras para acabar com os povos! Ainda fico com os revolucionários comunistas, por isso viva Lênin!

  • lopes

    Não só é bem informado sobre a safadeza de alagoas,como também lê,e sabe da historia do mundo.Você é o cara , parabéns,jornalista tem que ser assim.

  • Edinaldo Marques

    Parabéns Ricardo pelo texto. Elogiar Hitler, que tinha como valor pessoal matar judeus, foi um enorme equívoco de Churchill. Para mim, Hitler nunca foi um líder e sim um psicopata assassino. A liderança exige como base o CARÁTER (fazer aos outros o que desejamos que nos façam).

  • Ricardo

    Excelente texto Ricardo Mota. Muito bom.

  • Ricardo

    Ricardo, em relação ao texto postado no dia 29, eu diria que a presidente do TJ precisa colocar os pés no chão. Ela precisa encarar a realidade e parar com essa fantasia que tudo não passa de um complor do crime organizado. Ora, quem disse que não há uma ORCRIM no judiciário?

  • jose santos silva

    ricardo, vamos ressuscitar o jornal gazeta de alagoas que publicou á epoca, dez anos atrás ou mas, a relação dos juizes e seus padrinhos, lembra, vc tem condiçoes de ver isso, para o bem de alagoas e do nosso povo. penultimo concurso, aquele que tá sob judice.

  • Luiz Carlos Godoy

    Karl Kraus, considerado um dos maiores satiristas da língua alemã (do mundo, diria eu), mandou essa: “A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar;

  • Luiz Carlos Godoy

    depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.”

  • Mário

    Ricardo, o que é inegável é que a alemanha nazista foi a responsável pela segunda guerra, bem como pelos campos de exterminio de judeus e outras etnias. Mas quem lidera o ranking da morte são os regimes comunistas mesmo.

  • Luiz Carlos Godoy

    “Não haverá paz enquanto o assassinato não for erradicado do coração e da mente. O assassinato é o cume da pirâmide cuja larga base é o ser. O que está de pé acabará por ruir. Tudo aquilo pelo que o homem lutou terá que ser posto de lado antes que possa começar a viver como homem.

  • Luiz Carlos Godoy

    Até agora, não passou de uma besta sanguinária, e mesmo suas divindades não prestam.É o mestre de muitos mundos, e no seu próprio mundo é um escravo. O que comanda o mundo é o coração, não o cérebro.

  • Luiz Carlos Godoy

    Em todos os campos, nossas conquistas trazem apenas a morte. Voltamos as costas ao único campo onde reina a liberdade. Em Epidauro, na quietude, na grande paz que se abateu sobre mim, ouvi bater o coração do mundo.

  • Mário

    E aquelas vítimas (foram 70 milhões só na China) em sua maioria padeceram em tempos de paz, foram aniquiladas pelos seus próprios governantes, não por um inimigo externo. O morticínio foi iniciativa dos próprios governos contra seu povo.

  • Mário

    E isso, a meu ver, é ainda mais terrível do que os horrores da guerra. O que mais causa espanto é que esse horror nasceu de “boas intenções”. Portanto, não sei se pode-se comparar uma coisa a outra, já que de naturezas diversas.

  • Luiz Carlos Godoy

    Sei qual é a cura: é desistir, renunciar, se render, para que os nossos pequenos corações batam em uníssono com o grande coração do mundo.” (Henry Miller, “O Colosso de Marússia”-Trad.Cora Rónai-Ed.LPM Pocket-2003-pág. 83 a 86.

  • Mário

    Não posso dizer que todos eram iguais. Comparar Hitler com Churchill, por exemplo. Qual a natureza do tal elogio não conheço. Mas conheço a advertência em relação a Chamberlain: “Entre a guerra e a desonra, escolheram a desonra. E ainda assim terão a guerra”.

  • JOAKIN MANUEL

    A HUMANIDADE SOMENTE VAI MUDAR SE ELA QUISER, ESPERAM UM SALVADOR PARA SI, MAS O SALVADOR ESTA DENTRO DE CADA UM DE NÓS, UMA PARTICULA DA DIVINDADE EM NOSSO INTERIOR, QUE ESTÁ SUFOCADA PELA AMBIÇÃO, RAIVA,INVEJA, MEDO, ETC, SOMENTE DESTRUINDO ESTES DEMONIOS INTERIORES É QUE SE PÓDE MUDAR .

  • Adalgisa Belo

    Ricardo, Será que esses aliados não nos emprestam esses aviõezinhos e suas bombinhas para jogarmos em determinado prédio, para começar tudo de novo, limpinho, limpinho

  • IGUAIS? NÃO

    Caro Ricardo, enquanto o governo do Presidente Lula-PT PAGA em 2009 R$ 251 BILHÕES a Dívida Pública pertencente a 10.000 famílias e somente GASTA R$ 2 Bilhões na Segurança de 190.000.000 de brasileiros, NADA É IGUAL.

  • José Paulo Silva

    Ricardo, Voce esqueceu de Dresden, onde em uma noite o ataque da aviação aliada reduziu a cidade a cinzas, matando mais de 100 mil pessoas. O calor gerado pelo incêndio, derreteu os corpos no asfalto. Foi o maior ataque da história alemã

  • celso

    “Os europeus que ajudaram Hitler no Holocausto”, publicado no Der Spigel no final de semana passado, de autoria de Georg Bönisch e col., contribui para o entendimento. Bom proveito. http://historiafunbbe.blogspot.com/2009/05/os-europeus-que-ajudaram-hitler-no.html

  • diego ota

    observem um detalhe a maioria dos comentários de matérias jornalisticas são de homens inclusive neste tópico…..porquê isso?

  • maria

    falemos em reconstrução, desta feita de alguns equipamentos urbanos na nossa cidade:praça sinimbu e da faculdade de medicina.um horror, parece até que soltaram a bomba atômica!e o arcebispado.que loucura!Só os pombos fazem ninho por lá.

  • Sertanejo

    A guerra aperfeiçoa a constituição fisica, apura os sentidos e faz o homem concluir que: O HOMEM É A MEDIDA DO HOMEM. ( Emerson. Escritor Norte-Americano)