Crônica de um dia anormal – Blog do Marlon
CSA e CRB repetem final pelo 5º ano consecutivo
Empate caberia, mas vitória do CSA foi um prêmio a eficiência

Sempre fui apaixonado pelo futebol. Desde criança me acostumei a ver jogos no Rei Pelé, a frequentar clássicos, como tantas pessoas ir ao maior palco do futebol alagoano com meu pai.
Neste período, tive experiências como torcedor, como dirigente, como policial responsável pelo comando da partida e até como técnico. O dia começava diferente, o coração batia mais forte, como criança ou como técnico, observava o colorido das torcidas, sentia uma adrenalina que você não sabe, de onde vem, mas que sente acelerar o coração.
Na última sexta-feira, o jogo era o mesmo, o local era o mesmo, mas aquela expectativa, aquele sentimento era diferente. Com outras atividades ao longo do dia, aguardei até o período da noite para viver o clássico com a intensidade que ele merecia. Tinha uma pergunta de como seria o primeiro clássico em meio a uma pandemia.
Tudo começa com o deslocamento de casa para o estádio. O deslocamento foi normal, pouco trânsito mas já surgia o primeiro choque. Não havia público, não havia o colorido nas ruas, nos pontos de ônibus, não havia bandeiras nos carros. A tranquila chegada no Rei Pelé, a pouca movimentação no estacionamento não parecia que haveria uma partida de futebol, quanto mais que teríamos um clássico.
As diferenças continuavam a medida que nos envolvíamos mais com o jogo. A diferença dos protocolos era algo que chamava atenção. Chegou no Rei Pelé tive a aferição da temperatura, havia vários dispensers com álcool em gel, não se dividia cabine com o narrador, eu ficava em uma, o Bruno Protásio ficava em outra. Além de estar sozinho em uma cabine, a porta foi fechada e você ficava ainda mais isolado.
A atmosfera do estádio era diferente. Os sons do jogo eram ouvidos com clareza mas faltava muita coisa. Faltava o público, as bandeiras, o som do torcedor, os cânticos. Tive dificuldade de comentar com a mascará, ouvia o retorno e sentia minha voz abafada. O jogo transcorreu meio morno, sem muitas emoções. Era diferente não ouvir pressão no árbitro, suas decisões eram tomadas com tranquilidade, erros dos jogadores cometidos sem um xingamento do torcedor. A sensação de isolamento, distanciamento no futebol é estranha. Não tinha as conversas nos corredores, as resenhas com companheiros, aquele papo descontraído.
Termina o jogo e tudo ficou ainda mais estranho. Não havia sons dos torcedores. Não havia comemoração do resultado. Era tudo protocolar. Silêncio, comentar, sair da cabine, se despedir e voltar pra casa. Foi o dia mais estranho que vivi nesta relação de amor com esporte, com o futebol, com a comunicação. Pensar que este será o ambiente do ‘novo normal’ por um bom tempo assusta. Mas vamos seguir assim, aprendendo, observando, adaptando-se a um dia normal mais anormal já vivido.

  • Geison França

    Exatamente isso!!! Se quem estava em casa, como eu, senti um grande desconforto, imagine quem estava lá no estádio.
    Em casa também sentimos um jogo morno, por mais que os jogadores venham a se esforçar, a nossa sensação sempre será de muito marasmo, pois jogo de futebol sem torcida é como se fosse um treino, infelizmente essa é a sensação!!!

  • Alexandre Braga

    Por tantas mazelas em atividade em nosso estado, eis que o futebol nos alegra e nos conforta. Se não somos o melhor futebol do país, mesmo assim, temos orgulho dos nossos clubes de futebol. Adversários em campo, jamais inimigos.

  • Adelmo Muniz

    Muito bom o seu relato, Marlon.
    Tomara que o “velho” normal volte logo.

  • Luciano B. Carvalho

    Senti tudo isso, mas faltava construir os sentimentos, que o cronista fez magistralmente. Parabéns pela narrativa. Eu me senti como uma partida de botão.

  • Azulino

    É uma experiência nova pra todos. Fico pensando na torcida que veste a
    E agora? Mas, Vai passar.
    E que consigamos tirar alguma experiência positiva de tudo isso. Principalmente, dando valor a harmonia nos estádios.

  • LUIZ RIBEIRO DA SILVA FILHO

    Marlon…. crônica espetacular. A realidade que parece irreal. Uma experiência que está mexendo de forma muito forte com os amantes do futebol.

  • Interiorano

    Concordo com o texto! Infelizmente, partidas de futebol e por conseguinte campeonatos de um modo geral, estão sem graça! Não sei porque, inventaram esse termo de “o novo normal”! Se não está normal, então, está anormal! Se todos e tudo não estão agindo e/ou funcionando como era antes da pandemia, então, não têm nada de “novo normal”! Como se pode dizer que está normal, se não se está vendo o jogo, seja presencial ou pela televisão e se não está tendo as emoções que um jogo de futebol proporciona? Enquanto não se descobrir uma vacina e se promover uma vacinação global em massa, viveremos sempre, com o espectro desse vírus maldito! Aí, talvez após isso, possamos pensar numa maneira de como recomeçar a voltar a ser, pelo menos 50% (cinquenta por cento) de como era, antes da pandemia! Exemplo : Estádios voltando a ter jogos, com metade da capacidade de público e assim mesmo, dividido para as duas torcidas, etc.! Que DEUS dê inteligência e sabedoria para que os cientistas/pesquisadores descubram logo uma vacina que combata esse maldito vírus, a fim de evitar se mais mortes! Essa é opinião de um velho matuto e torcedor de um clube do Interior!

  • Herbert

    Parabéns pela narrativa.
    Não me senti diferente do que você escreveu…
    Dia de clássico é diferente! Sempre juntava a turma 6, 8 horas antes da partida começar..ficar no posto da esquina com a Cabo Reis…conversando, bebendo com os amigos… debatendo a escalação…entrar faltando 40min para a partida se iniciar…ir para o lugar que é quase cativo na Grande Arquibancada…
    Tudo isso fez falta naquela sexta-feira à noite. Aliás, um dia deveras estranho para partida de futebol de campeonato alagoano. Juro não lembrar outra partida pelo alagoano marcado para este dia de semana…
    É esse o “novo normal”?

  • Gustavo

    Marlon, você estava sozinho na cabine e ainda assim teve que ficar com máscara? Isso pra mim não é protocolo, mas paranóia!

  • Marcelo

    Realmente um texto belíssimo e apesar de ser um relato dos tempos atuais ele consegue ser recheado de boa nostalgia,reflexo apenas adiquiridos dos bons escritores,esses ultimos anos vem sendo pra mim cheios de descobertas,na imensa maioria ruins,as máscara usadas hoje em função da pandemia sao de longe as que menos me incomodam,enquanto todos nós fomos obrigados a usa las(mesmo tento que negue até o vírus),outras máscaras foram tiradas nesses ultimos anos e a verdadeira face de muira gente apareceu.Tenho certeza Marlon que logo mais esse futebol frio,sem torcida,sem graça,será passado e virará história pra ser contada para filhos e netos,outras precisarao de anos de Aula de História pra explicar,sobre o futebol teremos dentre outras coisas esse belo texto seu, pra colocar aqueles que nao viveram esse momentos,praticamente fazendo junto com vc essa experiencia,parabéns meu irmao!Muito bom mesmo!