O futebol tático é chato de ver? – Blog do Marlon
Campanha referenciada mas ainda com pés no chão
CRB não permitiu que o ‘defunto’ se levantasse

Na última segunda-feira assistimos no Estádio Rei Pelé um grande confronto tático entre CSA e Fortaleza. Não foi um jogo tecnicamente vistoso, mas um espetáculo muito interessante no aspecto tático. Jogadores cumprindo funções, técnicos usando estratégias para superar o adversários, o CSA com mais espirito de decisão no 1º tempo e dando ao Fortaleza, o campo para jogar no 2º tempo. Tudo isto planejado, previamente pensado e com jogadores buscando executar dentro de uma disciplina rigorosa.

Após o jogo, o técnico do CSA, Ney da Mata declarou que o jogo foi muito tático e que o jogo ás vezes fica chato por conta disto. Também afirmou que ele gosta mais do futebol jogado. A declaração do técnico do CSA gerou uma enorme discussão e muitas reações favoráveis e contrárias ao posicionamento do comandante azulino.

Me tornei comentarista pela paixão que tenho pelo futebol, mas também pelos estudos desenvolvidos no futebol. Gosto de transmitir ao meu leitor e ao meu ouvinte, os princípios de jogo, atualiza-los com as novas nomenclaturas e me debruçar sobre estudos, estratégias táticas das duas equipes.

A declaração de Ney da Mata mostra uma técnico adepto do futebol mais bem jogado, mais solto, mas o próprio técnico do CSA sabe que não é possível, no futebol atual, jogar sem o alto peso tático a que todos se submetem. Se Ney da Mata não tivesse mapeado as características do Fortaleza, montado o CSA para travar as melhores qualidades do adversário e dar aos seus comandados apenas o comando “joguem”, o CSA teria sucumbido frente ao Fortaleza. Isto mesmo, sucumbido. Hoje o futebol respira aspectos táticos, o posicionamento, as características dos jogadores. Claro que nada substitui a precisão de Gustavinho para soltar um torpedo e dá a vitória para o CSA ou até mesmo a grande partida feita por Pablo, que criou as principais situações de jogo do Leão do Pici.

Seja como amante ou como profissional do futebol não enxergo o jogo tático como feio de ver ou de acompanhar, acompanho o aspecto tático com um grande peso no futebol atual e levo em consideração que o desequilíbrio está no aspecto individual e na capacidade de improvisar de cada atleta.

Para apimentar a discussão busquei a visão de três atores diferentes: o comentarista Mauricio Noriega, o jornalista Ricardo Mota e o técnico Jair Ventura.

MAURÍCIO NORIEGA – Comentarista esportivo dos canais SporTv

Acho que é um ponto de vista que não pode ser desprezado esse, embora eu não concorde plenamente. Esta exageradamente focado da questão tática e o futebol não é só tática. O futebol precisa de tática, precisa de técnica, precisa de fundamentos. Mas como todo esporte coletivo de talento individual, ele tem um lado diferente em relação ao voleibol, por exemplo. O voleibol Mesmo se um cara acertar 50 saques diretos, uma hora ele vai encontrar um cara que vai devolver a bola.  O futebol tem a questão de genialidade do jogador, que acerta uma chute espetacular, que tem um passe, um drible. Talvez esta ideia a que se refere o treinador seja neste sentido. Talvez algumas pessoas pensem que o futebol está ficando chato. Eu acho que não é questão de estar ficando chato. Acho que os dois mundos podem conviver. Eu não vejo só um ou só outro. Acho que o futebol sem a tática, claro que ele ficaria mais chato, mas o futebol o quanto menos ele tem esse elemento individual, essa surpresa, essa questão até certo ponto lúdica do grande jogador, ele também perde um pouco do seu charme. Acho que os dois mundos tem que andar junto. Vejo a tática como o melhor meio de tirar do jogador o melhor da sua capacidade individual.

RICARDO MOTA – Jornalista e comentário político do Sistema Pajuçara de Comunicação

 

O futebol entrou na minha vida na categoria “prazer”. Não consigo, portanto, embarcar na visão pragmática do “negócio futebol”, que cresceu como poucos no mundo.

Desde os treinadores, que consideram que a vitória está acima da alegria fugaz e inegociável do torcedor, até os jogadores, que não admitem o drible como a manifestação mais sublime do esporte de maior popularidade no planeta – é tido, hoje, como desmoralização -, o futebol vai ficando chato, sim, violento, também, e (quase) sem graça.

A reação iracunda dos jogadores que querem disfarçar a sua grossura com a grosseria ante os adversários classudos, o canhotinha que lhe pôs a bola entre as pernas, ou o debochado que deu um lençol, termina se espalhando pelas arquibancadas e para a vida real. É mau humor demais para o meu desgastado gosto!

Os times preferem os grandalhões na sua base, ignorando a existência, por exemplo, de um nanico chamado Messi. E haveria outros? Como poderíamos saber?

Há atletas demais e jogadores-artistas de menos, eis a minha sofrida constatação.

O melhor futebol do planeta está nos países que podem pagar por ele, pela vitória e pela arte, deixando-nos apenas o que não lhes agrada – para dizer o mínimo.

JAIR VENTURA – Técnico do Botafogo

O futebol perde sim pelo espetáculo. Mas não podemos negar que o trabalho do treinador passa a ficar mais evidente por conta destas organizações. O Brasil ficou marcado pelas individualidades. Os craques sempre resolveram a Copa do Mundo para a gente e com isso a Europa encontrou uma forma de parar estas individualidades. Hoje nós temos o jogador fora de série e temos a organização tática. Acho que perde o futebol sim pela exibição. Para nós que trabalhamos como treinador fica cada vez mais evidente as equipes organizadas e ver mais o trabalho do treinador e menos a individualidade dos craques de resolver sozinhos. Ganhamos várias Copas por ter mais craques e hoje temos mais um trabalho tático.

E você amigo leitor, amigo internauta, o que acha? Participe. Opine, discuta.

  • Luiz Pires

    Amigo Marlon, fica chato quando a Tática é aplicada para não se tomar gol. Vemos na Copa das Cinfederacoes a ALEMANHA mostrando ao mundo um exemplo de planejamento para Renovação de sua Seleção com uma determinação E aplicação tática que não perde a essência do espetáculo, que é a busca incessante pelo Gol. Tem gol com 5 minutos de jogo e tem gol aos 46 minutos, ou seja em momento algum desiste do gol e não faz antijogo, essa aplicação tática eu admiro e valorizo.
    Há dias atras assisti pela TV a um jogo fantástico, Grêmio 6 Chapecoense 3, havia tática em campo mas, para minha surpresa e decepção o Comentarista do SporTV Carlos Eduardo Lino, condenou o esquema tático da Chapecoense, criticou o técnico Wagner Mancini porque o time dele não fez falta, não parou o jogo e disse que se assim tivesse feito não teria tomado pelo menos 4 dos 6 gols. Isso me causa indignação e pergunto será que a pobreza do nosso Futebol está somente nos TÉCNICOS que se se sentem pressionados e ávidos por resultados por mais que pobre que sejam em detrimento de um Futebol vistoso, bem jogado, com tática sim, mas com espetáculo, ou a culpa também passa por parte da imprensa que em momentos como o que acabei de citar não sabe valorizar isso.
    Grande abraço.

  • Felipe C. Baracho

    Noriega e Jair conseguiram resumir bem o pensamento. Fica mais chato de assistir, mas o inicia agora desafio de ter gênios obedientes taticamente, se isso é que isso é possível. Pior/melhor que isso é um caminho sem volta, tática veio para ficar.

    Como Jair falou, ganhamos copas na individualidade, agora ganharemos na coletividade e consistência tática.

  • Thiago

    Fica, fica sim muito chato, às vezes insuportável!
    Mudo de canal sempre que vejo um time jogar “com o regulamento embaixo do braço”.
    Senhores técnicos, deixem as táticas exageradas paras os atletas jogarem PlayStation!
    O futebol arte está acabando!
    Não vamos voltar a época de Parrera quando 0x0 é um excelente resultado!
    Deixem os meninos jogarem!

    A tática é: Vai pra cima e resolve!

  • Do Valle

    Parabéns Marlon pela abordagem desse tema, como torcedor e amante do futebol concordo com as palavras do treinador do Botafogo, acabaram os craques nosso futebol, aquele cara que resolvia, que jogava e tinha pouco compromisso com os aspectos táticos do jogo, como vc falar, o jogador “Romântico”. Hoje em qualquer série, seja no Brasil ou no Mundo, os aspectos táticos do jogo estão bem definidos, times jogando atrás da linha da bola, exercendo fortes marcações e pouco preocupadas com o espetáculo, evidentemente, ainda temos pelo mundo equipes seleções, clubes que reunem grandes craques e exibem uma técnica além da média, mesmo assim, essas equipes jogam com táticas bem definidas e mesmo o Messi, Cristiano Ronaldo, o Robben e outros gênios da bola possuem funções táticas na hora da recomposição. No caso do CSA, fui ao jogo e, realmente, assistir um jogo abaixo da média, muita correria, forte marcação e pouca técnica, um jogo horrível tecnicamente com jogadores rifando a bola, não se conseguia trocar quatro passes seguidos, um número grande de faltas e muita determinação tática. Parabéns pela visão, vc é um dos melhores da área.

  • David Jacarecica

    Parabéns Marlon pela profundidade que vc abrange o futebol atual.tudo mudou nos tempos de hoje e com o futebol não poderia ser diferente. Muito mais estudado.mais competitivo e os técnicos tem muita participação nisso. Abração

  • Saraiva

    Esporte coletivo não sobrevive sem táticas, que melhoram muito o nível do espetáculo. Exemplos temos muitos: o Carrossel Holandês, o Barcelona, até mesmo a nova Alemanha.
    A tática bem elaborada, e aplicada, favorece a genialidade dos craques.
    Parabéns pelas inteligentes provocações.

  • Saraiva

    O futebol moderno utiliza-se muito da tecnologia para estudar o adversário. E os dados extraídos desses estudos, são transformados em táticas para tentar neutralizar o adversário. Mas não acho que isso tira a beleza do nosso futebol, pois o jogador brasileiro, mesmo jogando taticamente, não perde sua alegria e ousadia.

  • Felipe Chié

    Parabéns pelo poder de observação, Marlon. Mas a tendência do futebol é essa mesmo, evoluir positivamente no coletivo. Não vejo como chato de assistir, vejo de uma forma objetiva, planejada milimetricamente onde se é obedecida dentro das 4 linhas, dando jus ao cargo de treinador, e que a forma de “deixar jogar”, é o diferencial nas jogadas individuais que podem resultar na vitória. Um exemplo pra mim claro e coeso: o Grêmio com o Renato Gaúcho no comando. Abraços

  • Arnaldo Vila Nova

    Chato, porém necessário. Não se joga futebol hoje e obtém resultados positivos sem estudar o adversário, Tite está aí para comprovar isso. Claro que tbm é necessário ter jogadores de boa técnica mas no futebol atual a organização tática é mais importante, não tenho dúvidas que entre um time cheio de craques e sem organização e um time com jogadores de menos qualidade e organizado o segundo terá mais sucesso.

  • Dona de casa, rsrs

    Sou pueril neste assunto, mas…, tenho uma opinião também, rsrs. Marlon, penso que as duas táticas podem, sim, andarem juntas, vide a última Copa quando perdemos de 7X0 de times que usaram a técnica e, também, o futebol arte. O problema é que os jogadores brasileiros se acostumaram com título de arteiros e, como diz o Jair: “O Brasil ficou marcado pelas individualidades. Os craques sempre resolveram a Copa do Mundo para a gente e com isso a Europa encontrou uma forma de parar estas individualidades.” (JAIR, 2017). Como alguém já disse em um dos comentários, tudo muda e, como tal, com o futebol não poderia ser diferente. São novas estratégias, novos ambientes, inclusive, novas genialidades. Não podemos ficar esperando que só um jogador detenha o “futebol arte”. Cada um que está no campo tem de se apresentar com o seu futebol arte. Deixei de assistir os jogos da seleção brasileira por conta disso: criar expectativa somente em um jogador. E os do Brasileirão, porque o meu esposo não gosta de esporte, aí não me deixa assistir, rsrs… chato, rsrs! É isso que penso.

  • Charles Hebert

    Agora como Ex-árbitro e eterno amante do Futebol. Vivenciei o esporte mais praticado do mundo em seus dois momentos, e confesso que o anterior era muito mais gostoso de se ver e de se apitar. A técnica e a qualidade individual dos jogadores sempre deixava uma incógnita no que iria acontecer em uma partida de 90 minutos, e hoje quase tudo é muito prevísivel, robotizado e igual. Até o tamanho dos campos padronizaram em 105×68 para favorecer os aspectos táticos e fisícos. Antes para ser jogador tinha quer ter qualidade e habilidade, hoje velocidade, potencial físico e acima de tudo doutrinação e hieraquia dos sistemas que são implantados pelos seus treinadores. Resultado deste novo momento, os grandes craques agora que vestem a camisa 10 dos clubes são os Técnicos. Exemplo maior disso o nosso Tite…Podem dar a camiseta 10 da amarelinha para ele! Saudações a todos futebolistas

  • Ricardo

    Parabéns pela abordagem do assunto Marlon.
    O que se ver hj é muita tática e por isso se torna chato, por exemplo o Jogo entre o Líder e Vice Líder do Brasileirão (Corinthians e Grêmio) no último domingo. Era óbvio que os jogadores estavam presos táticamente, não se viu um bom futebol técnico entre os líderes.

  • CARLOS FRANCISCO DE FARIAS

    Comparo o futebol jogado hoje com as músicas que ouvimos nos rádios,uma merda.Até os anos 80 existia,principalmente no Brasil,um futebol jogado tanto tático,como técnico.Hoje,nosso futebol,os atletas,viraram robôs e os técnicos jogadores de xadrez.Mesmo assim a emoção no futebol continua impressionante.Exemplo:o jogo entre palmeiras e grêmio na quarta-feira passada.

  • Lucas ítalo

    Penso como Ricardo Mota que coisa chata está o futebol hoje , saudade de Silva , Enio Oliveira e Edu jogadores que jogavam futebol .

  • Élio Ferraz

    Boa reflexão sobre o assunto pois pouquíssimas pessoas conseguem ver o jogo tático e querem o espetáculo.
    Preocupante é como professor ver colegas exigirem táticas de pequenos de 7,8 anos e que em breve se abusarão do esporte. O futebol tem que ser o ESPETÁCULO E DIVERTIMENTO em todas as fazes mesmo no profissional, mas será que tem espaço no mundo do dinheiro onde é melhor ganhar jogando feio a qualquer custo. Precisamos rever esses conceitos.

  • Maurício

    Excelente abordagem Marlon,não vejo o futebol chato,vejo q acabou o treinador boleirão,o jogador individualista,futebol hoje é coletivo!A individualidade aparece ao natural ,sempre prevalecendo o coletivo!
    Vejo que treinadores tem q fazer uma reciclagem!Abraço Marlon !

  • Newton gusmão

    Estava comentando com um colega de trabalho apaixonado por futebol, recebemos o link no zap, é legal visualizar aqui em Alagoas uma discussão provocativa , antes vista apenas em sites como UOL e ESPN, parabens nobre blogueiro !voce qualifica o espaço da crônica esportiva Alagoana.

  • Gouveia 10

    Sem duvida amigo Marlon, o futebol “antigo”, era mais vistoso, mais gostoso de se ver. Aquela malandragem futebolística de outrora, onde o improviso e a genialidade dos nossos jogadores resolviam as partidas, são cada vez mais raros de se ver. Hoje a parte física se sobrepõe. A competitividade e os avanços táticos, advindos de anos de estudos, por técnicos cada vez mais instruídos, dificultam o “jogo jogado”. Mais sempre haverá espaço para o CRAQUE, o GENIAL, o ACIMA DA MÉDIA, e para nossa alegria, ainda podemos ver um Neymar, um Cristiano Ronaldo, um Messi e alguns outros, mesmo que hoje, esses sejam cada vez mais raros. Melhor do que falar mil linhas aqui, é exemplificar da seguinte forma: Assista a um jogo de Flamengo e São Paulo da década de 80, e, depois, veja o tape do jogo de ontem entre essas duas equipes.
    Abraços irmão!!!

  • Regatiano

    A tática é sim importante, desde que, os comandados estejam dispostos a comprar a ideia. Recentemente vimos o que aconteceu no CRB, Léo Condé que taticamente não deixa a desejar aos técnicos que passam por aqui, teve o seu trabalho jogado no lixo pela irresponsabilidade dos jogadores que não cumpriam suas funções táticas. Daí muitos técnicos que dão valor mais a tática que a técnica são chamados de “Prof. Pardal”.

  • José Mário Tenório Pereira

    Caro Marlon;
    Partindo do que aborda o texto acerca da dicotomia entre jogo tático “chato” e do belo “jogo jogado”, necessário se faz refletir sobre a natureza do jogo de futebol.
    Apesar da evolução dos seus conceitos, ainda persiste enraizado na consciência futebolística brasileira que, um jogo chato é aquele que não apresenta jogadas mirabolantes e que o gol “deve” ser precedido de jogadas de efeito. Entretanto, devemos pensar que o futebol enquanto esporte coletivo, o gol resulta da finalização e que esta é proveniente de uma construção de uma série de ações coletivas e individuais, apontando assim a necessidade do jogar de forma organizada.
    Portanto, a organização do jogo “jogo bem jogado, tático”, resulta das Inter-relações que se estabelecem entre os participantes, solicitando destes coerentes tomadas de decisões que resultem em situações de finalização ou o então o seu impedimento.
    Considerando que a criação de situações precede à finalização e que esta faz parte da estética coletiva do futebol, concordamos que para além da “jogada de efeito” ressalta-se a importância do jogo coletivo e este em harmonia permitirá a expressão das individualidades.